Histórias de uma portuga em movimento.
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Abr 09
publicado por parislasvegas, às 20:11link do post

52 quilos e quase, quase a voltar ao "normal" se é que isso se pode aplicar à minha pessoa que, durante quase 20 anos fui oscilando dos 45 aos 42 quilos. Demasiado magra, tudo o que ultrapasse a arroba, para mim já era ser gorda.

Estúpido, bem sei, mas o meu nome é parislasvegas e sofro de dismorfia. Pronto, já disse.

 

O meu grande objectivo é voltar a caber no único vestido decente que tenho, um Dolce e Gabana de alta costura, modificado para uma gaja muito mais alta do que eu, mas tão magra com eu era na altura, usar na passarela.

Como ninguém mais cabia na coisa eu consegui comprar o dito por uma tuta e meia, isto é 300% mais do que custa um vestidinho decente na Zara.

 

Mas, como a malta que, como eu, sofre de dismorfia tem obsessões incontroláveis, eu decidi que vou controlar a cena (mais control freak do querer controlar a obsessão de controlar não existe) e NÃO vou ceder à tentação de experimentar a puta do vestido para não me deprimir por não conseguir caber no dito e deixar de comer durante seis meses porque agora até gosto de comer e cozinhar e essas coisas que são tão normais, mas que para mim só passaram a existir depois da gravidez.

 

Mas esta história não é sobre dismorfia e anorexia, coisas que espero que estejam muito para trás das minhas costas, embora, como qualquer viciado, tenha que viver um dia de cada vez (e pronto já estou a admitir outra coisa difícil, hoje é dia de revelações).

 

 

Como é que uma gaja estrangeira, sem conhecer ninguém numa cidade tão grande quanto Paris, acaba por ganhar acesso privilegiado a alguém que vende roupa saída da passarela a preços ridículos.

 

Esta história é, pois, sobre como encontrei a caverna de Ali-Baba. O sonho de toda a fashionista, principalmente quando se vive em Paris ou em Nova Iorque.

 

Ora a coisa não foi assim tão difícil e é um exemplo de como saber várias línguas estrangeiras pode trazer novas oportunidades para a nossa vida, em coisas tão fúteis quanto comprar alta costura a preços de desconto.

 

Um dos meus sítios favoritos em Paris, e já aqui mencionei, era o pequeno Bistro Russo da D. Olga, uma refugiada "Branca", que tinha a melhor vodka e o melhor caviar do bairro XVI.

Numa perpendicular à Av. Victor Hugo, esta mulher, faz os melhores ovos escalfados que já comi na minha vida, cobertos de caviar de salmão e que já tentei reproduzir várias vezes em casa. Não me saem mal, mas não saem nada como os da D. Olga.

 

Num dia gelado do Inverno de 2006 resolvi ir almoçar à D. Olga arrastando o meu casaco russo de 10 Kgs de pele animal (vão lá aturar uns Invernos soviéticos e depois venham-me com éticas. Bardamerda).

 

Claro que a mulher ficou maluca quando viu o casaco e meteu coversa em francês e eu respondi no meu melhor russo. Trocámos histórias de vida, a dela longa e atribulada, a minha curta, mas de alguma maneira exótica.

 

No final do Inverno, passados os Shows das colecções Primavera/Verão, a D. Olga resolveu apresentar-me à dona da loja das maravilhas (que incluíam não apenas os vestidos, mas também maior parte dos sapatos, malas e jóias dos desfiles de moda mais recentes) dizendo "tu que és magra que nem um espeto podes comprar alguma coisa, porque esta mulher só não vende porque não tem ninguém que caiba nas roupas". Porreiro.

 

A loja era uma coisa quase clandestina, com gente conhecida da dona a tentar não respirar para caber no último Dior, num terceiro andar de um "Hotel Particular" como lhe chamam os franceses, numa ruela sem saída.

 

Tinha que se tocar à porta e dizer o nome.

 

Eu dizia sempre "D. Olga", uma password que equivalia ao "abre-te sésamo". De centenas de visitas à loja só tenho o D&G, porque não tinha orçamento para mais. Na altura arrependi-me, hoje não.

 

Tenho coisas mais importantes para gastar o meu dinheiro e, com o tempo, aprendi a apreciar os quilos extra que não me deixam corpo para essas coisas.

 

Mas que ainda hei de caber outra vez no D&G nem que eu me esprema toda!


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