Faz hoje 24 meses que não trabalho. 24 meses que deixei de ter colegas, deixei de ir aguentar trânsito, ir ao escritório, aturar gente chata e conhecer gente interessante. E tenho saudades.
A meio dos anos 90 toda eu era barragens e pontes, tamanho do emalhamento das redes de pesca, quotas e o diabo-a-sete. O novo século chegou sem férias e sem fins de semana, com dias em que nem eu sabia em que país estava, cimeiras de chefes de Estado e conferências internacionais. Conheci alguns dos meus heróis, lidei com gente estúpida, acomodei exigências parvas e muitas vezes deitei a cabeça na almofada a pensar que o mundo está entregue aos bichos.
Vieram os anos das pernas artificiais desenroscadas à minha frente e dos telefonemas da máfia. Terminei o meu périplo a discutir componentes de satélites e os rótulos de azeite.
Tenho uma das profissões mais loucas do mundo (literalmente) e tenho muitas saudades de a exercer. E a dois anos de distância, até os piores tempos me parecem agora divertidos.
Para mim, estes são novos tempos, tempos de mudança. De começar coisas novas e deixar toda uma vida para trás. Ando nostálgica, mas altamente entusiasmada com a ideia de desconhecido.
Ou não fosse eu louca.