Histórias de uma portuga em movimento.
28
Out 04
publicado por parislasvegas, às 05:08link do post | comentar
Pessoal: Estou sem mails e praticamente sem ligação à net. Penso que o único contacto que tenho a funcionar a 100% é o telefone de casa e o mail do yahoo. Se precisarem de enviar qualquer coisa até segunda-feria contactem-me por aí. O blogger também anda com problemas, de modo que não sei se consiguirei postar aqui qualquer coisa. Nem sei mesmo se os últimos posts estarão ou não visíveis.
De resto tudo vai bem. Acabada a parada desta manhã (que parece que não teve nem 50% da dimensão anunciada) a cidade viu-se livre do aparato militarizante e voltou ao normal. Só as comunicações é que andam avariadas, mas isso há já mais de duas semanas. O do costume....

publicado por parislasvegas, às 00:39link do post | comentar | ver comentários (1)


Enquanto todo o mundo que se interessa por política anda suspenso esperando o resultado das eleições americanas, nós também andamos suspensos, mas com as presidenciais cá do sítio. Os candidatos não têm a pinta de um Kerry, por exemplo (porque toda a gente tem mais pinta do que o Bush), mas há cá cromos para todos os gostos e feitios, principalmente para quem tenha saudades de ditaduras, sejam elas comunas ou fachas.
A campanha eleitoral tem sido um verdadeiro circo, com intimidações à oposição (seja ela de esquerda ou direita), à sociedade civil em geral e aos jornalistas em particular. Os funcionários de um dos canais nacionais de tv (considerado "imparcial") encontram-se em greve de fome. Ontem quando liguei o meu aparelho já nem conseguia sinal do dito canal, mas anteontem estavam lá todos sentadinhos à frente das câmaras em greve de fome, perante as ameaças de encerramento da estação. O governo acusa a oposição de fascismo, a oposição acusa o governo de totalitarismo e venha o diabo e escolha. No meio disto tudo, os preços da comida já subiram outra vez, há um polícia em cada esquina desta cidade, a gasolina está a começar a escassear e o mexilhão é que se lixa, como sempre. As pessoas andam meio alheadas do "combate político", no fundo porque sabem que sobrará para eles. Neste ano em que o pão aumentou 300%, já ninguém acredita em promessas.
Enquanto escrevo isto decorre, aqui no centro da cidade, uma parada militar, ao velho estilo soviético, com a presença de Putin himself para comemorar os 60 anos de vitória sobre as forças nazis. Até aqui tudo bem. Mas não era preciso encher a cidade de militares com uma semana de antecedência. Eu não sei a vossa opinião, mas eu fico nervosa se me cruzar todos os dias com tanques e kalashnikovs a caminho do emprego.
E agora o cenário é este: uma capital cheia de militares até aos cabelos, um Governo com medo de perder as eleiçoes, uma população assustada que já fez as suas "provisões de guerra" a avaliar pelo estado das parteleiras dos supermercados, e uma oposição que sabe que vai perder as eleições, provavelmente de maneira "menos-transparente". Conhecendo este povo, como penso - e sublinho, penso - que conheço, isto é apenas uma grande agitação prévia e vai ficar tudo na mesma. Mas pelo sim, pelo não, o meu fim-de-semana grande vai ser passado mesmo é em casa (chuif, chuif) não vá o diabo tecê-las....

25
Out 04
publicado por parislasvegas, às 01:35link do post | comentar


Fim-de-semana, despimos a farda e andámos verdadeiramente à civil: a Tina e o Xano divertiram-se nestes dois dias, completamente nas tintas para as "obrigações" que tínhamos. Porra, de vez em quando também sabe bem entrar na cabine telefónica e mudar para a "super-tina".
A super-Tina é uma gaja porreira. Acorda tarde, lá por volta da uma, tá-se nas tintas para arrumações da casa e perfere "aproveitar" o tempo a pintar as unhas do que a dedicar-se à lavagem da loiça. O que lhe vale, é a companhia do "super-Xano". O Xano também acorda tarde. Assim que salta da cama e bebe a santa bica para acordar, vai a correr para a garagem onde se dedica à lavagem, polimento e outras actividades esotéricas (incompreensíveis para a super-Tina) ligadas ao carro. Como o Xano também se está nas tintas para as arrumações da casa, a Tina não tem chatices e pode sentar a peida no sofá enquando lê qualquer coisita. É nestes pormenores que a personagem da Tina me falha. É que ainda não sou capaz de sentar a peida a ler a Maria. Estive o Sábado a ler os "Contos Exemplares" da Sophia e o Domingo todo agarrada à "Jornada d'África" do Manuel Alegre, mas pelo menos estive sentada....De quando em vez gosto de voltar a livros que gostei de ler, mas isso já é outra história.
O Xano e a Tina acabaram o fim-de-semana no restaurante chinês, depois de parte da tarde de Domingo passada na oficina a debater o tipo de arranjos que o carrito precisa.
Só é possível descrever o sítio onde fica a oficina a quem conhece o bairro das Palmeiras no Barreiro. É um sítio tal e qual - a tantos mil quilómetros de distância, vim encontrar um sítio igualzinho ao bairro onde a minha avó nasceu - entalado entre fábricas e uma linha de caminho de ferro. A paisagem feita de casinhas baixinhas e barracas com telhados de zinco é cortada apenas pelas chaminés de tijolo das fábricas circundantes. Em todas as superfícies se nota uma camada cinzenta de poluição que vai escurecendo a cada ano que passa. Assim que lá chegámos, a Tina voltou-se para o Xano e disse "Môr! tou em casa!".

22
Out 04
publicado por parislasvegas, às 01:04link do post | comentar

Respiro o teu corpo:
sabe a lua-de-água
ao amanhecer,
sabe a cal molhada,
sabe a luz mordida,
sabe a brisa nua,
ao sangue dos rios,
sabe a rosa louca,
ao cair da noite
sabe a pedra amarga,
sabe à minha boca.


Eugénio de Andrade

21
Out 04
publicado por parislasvegas, às 00:33link do post | comentar
Há tanto tempo que ando com curiosidade de ver o que dizem ser a cidade mais bonita da Europa (e a mais romântica também). Esta beleza acolheu parte da adolescência do meu querido, mas o Alex, infelizmente, tem mais memórias do braço de ferro do regime comunista do que propriamente da maravilha gráfica que a paisagem da cidade oferece.É uma hipótese para o fim-de-semana grande do primeiro de Novembro. Estou a pensar nisso....Conselhos, há?

19
Out 04
publicado por parislasvegas, às 05:26link do post | comentar
Cá ando toda feliz e contente, longe das hipotéticas sestas do Santana Lopes e dos serões passados em frente à televisão a ver a "Quinta das Celebridades". Ontem quando cheguei a casa tive dois cães em extâse - não me posso esquecer de levar a bulldog ao veterinário, tenho medo que lhe dê algum enfarte quando se excita daquela maneira.
Esta semana São Pedro anda com pena de nós e não tem chovido, o que torna a cidade bastante agradável com esta luz de Outono a incidir nas cúpulas douradas das igrejas. Como ando bem-disposta, até não me tem feito diferença a habitual arrogância e falta de educação com que as pessoas aqui nos brindam. Não é preciso muito para dar conta que já saímos da Europa dita "civilizada". Hoje fui almoçar ao restaurante de sempre aqui ao lado do escritório, sou cliente mais do que regular há já três anos. Ora em Portugal, por exemplo, toda a gente sabe que quando se é cliente habitual de um restaurante, não apenas todos os empregados nos tratam já pelo nome, como também existe todo um ritual especial : "Bom dia, D. não- sei -quantos, então o que é que lhe apetece hoje? Olhe que temos aí um peixinho fresquinho de comer e chorar por mais! E então uma sopinha, não vai?", e por aí a fora. O ritual aqui é muito diferente. Para além de ter levado com um bom-dia seco quando cheguei, ainda se recusaram a juntar mesas (impensável!) para que coubesse toda a gente, e quando refilámos que a cerveja estava quente, ainda nos responderam com maus modos que não costumavam vender cerveja fria (!!!).
A chatice é que não vale a pena mudar de restaurante, porque nos outros somos tratados de igual modo, ou pior ainda.
Um povo que ainda não se habituou a trabalhar em troca de dinheiro, não pode, obviamente, ter noções sobre o que é um bom serviço. Se fossem naturalmente simpáticos esta questão não se poria, mas penso que quando esta terra desenvolver um pouco mais, os empresários vão ter que dar cursos de formação especiais só para pôr o pessoal a dizer bom-dia e obrigado. De qualquer forma, os ordenados são tão baixos que as pessoas devem pensar que não lhes pagam para fazer o esforço de serem bem educados para com os clientes. O almoço de hoje serviu para tomar uma decisão inabalável: nunca mais deixo gorjetas àquele pessoal. Mas enfim, quando sou tratada desta forma nos estabelecimentos comerciais é que tenho a certeza que cheguei a "casa". "Lar, doce lar", bem longe da Cinha Jardim e dos seus porquitos bebés!

18
Out 04
publicado por parislasvegas, às 04:07link do post | comentar
Acabei de regressar de quatro dias intensos em Lisboa. Fiz tudo o que um bom "migra" deve fazer quando vai à santa terrinha: empaturrei-me de choriços e queijos e comi mariscos e peixinhos grelhados até enjoar. Tudo isto "arrematado" com um belo arroz de pato da Maria Fernanda antes de apanhar o avião de regresso. Andei sempre com "colinho" da mamã e do papá e tentei, ao máximo, ver amigos e pôr-me a par das novidades.
Chego à conclusão que tenho que fazer cursos de preparação cada vez que aí vou, para não fazer certas figurinhas de merda. É verdade, porque - deparada com certas situações inesperadas - faço comentários que devem parecer completamente estapafúrdios a quem vive todos os dias em Portugal. Comecei por ter um choque alucinante quando vi a "Quinta das Celebridades". Eu sei que isto pode parecer estranho, mas ainda não entendi qual é a piada de ver aquela gente a pavonear-se por ali e a dizer uma série de lugares-comuns - mas a verdade é que o programa é altamente popular. Não me faz sentido nenhum perder nem que seja 10 minutos do dia a ver os ataques de histeria do Castelo Branco ou a Cinha agarrada aos porcos. A vida deve andar muito chata e difícil para o "povão" recorrer a este tipo de entertenimento. Trata-se de um fenómeno comum a toda a Europa Ocidental, bem sei. E até admito que os outros países não devem ter cromos da qualidade dos nossos (um Castelo Branco é um acidente genético irrepetível), o que deve tornar os nossos variados "Big Brothers" em fenómenos interessantes para quem estuda psicoses e coisas do género. Mas daí a ver aquilo para distraír vai uma grande distância.
A pior figurinha que fiz nestes quatro dias foi no Jumbo. Já nem me lembrava que era possível existirem super-mercados tão grandes. A vida em Portugal vai malica, mas vocês nem sabem a sorte que têm de ter qualquer tipo de produto alimentar disponível. Mas para quem anda na ex-União Soviética uma coisa daquele tamanho é baralhante, para dizer o mínimo. Se não fosse acompanhada, ter-me-ia perdido lá dentro. Provavlemente ainda lá estava.
Enquanto passeava por corredores intermináveis de produtos, tentando não chocar com os carrinhos hiper-carregados dos outros clientes, pensava na situação de quem sai daqui das aldeias e aterra em Portugal de repente. Para essa gente, que nunca viu um super-mercado com mais do que três parteleiras, uma ida ao Jumbo deve ser traumatizante, até porque é difícil entender para que servem metade das coisas que estão à venda. Quando fui pagar e as minhas compras saíram pelo tapete rolante já embaladas num saquinho e tudo, até me vieram as lágrimas aos olhos. Incrível! nem é preciso pagar os sacos! nem é preciso sequer ter o trabalho de pôr as compras dentro dos saquinhos!
Transformei-me mesmo numa campónia! Talvez isso me dê capacidade de apreciar as pequenas trivialidades do dia-a-dia num país desenvolvido. Vocês já nem devem reparar nesses pormenores. Aproveitem!

11
Out 04
publicado por parislasvegas, às 05:08link do post | comentar

Este é o novo amor do meu querido.
Não, não tenho ciúmes - acho que o Alex teve bom gosto e tem tido sensibilidade suficiente para não me trocar ostensivamente por esta dama de branco, tão elegante.
Claro que a máquina está um bocadinho velhota, embora em excelente estado de conservação. O inverno soviético é impraticável para um descapotável norte-americano, de modo que tencionamos pô-lo em "tratamento" durante esse tempo. Queremos ter a nossa maquineta impecávelzinha para o seu 40º aniversário e tencionamos começar o circuito de mostra de carros antigos, ralis, concentrações e etc, já na próxima Primavera. Enfim, como se diz em bom português "cada maluco com a sua mania"....


publicado por parislasvegas, às 04:40link do post | comentar
Amanhã meto-me no avião e arranco para Lisboa. Deve ser típico dos portugas estrangeirados, esta angústia de sentir falta do país e, ao mesmo tempo, achar que aquilo é tudo uma grande palhaçada e que assim não vamos a lado nenhum. Eu estou numa posição diferente de quem trabalha em sítios do mundo civilizado. Esses estrangeirados estão sempre a fazer comparações de Portugal com os países de adopção e, claro, Portugal sai sempre a perder. Mesmo em coisas pequenas, como providores de internet ou o tempo que demora a ter TV por cabo em casa. Comigo a realidade fia mais fino. Vivo num sítio em que o sistema de saúde não funciona, a rede eléctrica falha constantemente, o abastecimento de água não é regular, onde faz um frio do camandro e a internet funciona a passo de caracol. Mas, e há sempre um mas - esta gente esforça-se. Por muito que eu critique, há que reconhecer, que as pessoas aqui se esforçam por uma vida melhor, por melhor organização, por atingir padrões de nação desenvolvida para os seus cidadãos.
As condições de vida são incomparáveis em Portugal - mais desenvolvido, mais moderno e mais rico- talvez por termos atingido um nível de vida tão "europeu", a nossa sociedade perde-se em "tricas" e em zangas de comadres e esquece que quase um milhão de portugueses vive abaixo dos limites da pobreza. Esquece-se que, em algumas regiões do nosso país, apenas 30% dos estudantes acabam a escolaridade obrigatória, esquecem-se que nos Açores e na Madeira sobrevivem bolsas de pobreza que o resto da União Europeia já conseguiu extingir. E, acima de tudo, a nossa sociedade esquece-se que a chave para formar uma nação próspera está numa classe média com poder de compra, que possa dinamizar a economia através do seu consumo.
Mas isto são ideias de uma estrangeirada, afastada e assistindo em directo às pequenas pazádas que vão contribuindo para enterrar esse país.
Não interpretem este texto como um manifesto político - é apenas desgosto, mesmo. Muito sinceramente, não penso que outro partido político fizesse melhor, ou que outro PM tivesse mais capacidade do que este. Até isso é engraçado - tanto que se critica o Santana Lopes, pela sua alegada incompetência - mas o que é que o PM anterior fez de muito melhor, relativamente a este? alguém me sabe responder?

09
Out 04
publicado por parislasvegas, às 04:57link do post | comentar
angie e allabelli
Ontem resolvi encher-me de coragem e força e pôr as duas bestinhas cá de casa dentro da banheira. Nenhuma das duas raças exige banhos frequentes - este foi o primeiro. Os Shar Pei têm uma camada protectora de óleo que impermeabiliza o pêlo. Logo, não é aconselhável lavar muito o cão, sob pena de dar cabo do equilíbrio dermatológico do bicho. O problema é que os Shar Pei cheiram mal até dizer chega (precisamente por causa do raio do óleo). Os Bulldogs têm que ser limpos todos os dias, com uma toalha molhada, ou com toalhetes húmidos(por causa das rugas), mas a nossa já cheirava a rabo de bébé misturado com merda de cão.
Escusado será dizer que o banho dos cães foi uma verdadeira "cena macaca". Eu não consigo controlar os bichos pela força (Shar Pei-17 Kg, Bulldog-27 Kg, Eu-46 Kg), de modo que tenho de convencê-las a ficarem quietas, o que, debaixo do duche, não é lá muito fácil. Depois da agitação e do pânico com o chuveiro, deu-lhes o medo das toalhas (vá-se lá perceber porquê....). No final do dia tinha dois cães molhados com o ar mais triste deste mundo, mas a qualidade de vida cá em casa melhorou substancialmente.
No meio disto tudo eu é que fiquei a perder. Tive dois banhos desgastantes, para mim e para a casa-de-banho. Quando acabei tive que lavar tudo! (até as paredes tinham pêlos de cão....) e fui directa para o duche, porque molhei-me mais do que os cães. Hoje doem-me músculos que eu nem sabia que tinha.
Mas os cães já estão noutra. Hoje andam felizes da vida porque temos uma nova senhora a fazer limpezas. A brincadeira basicamente consiste em assustar a pobre senhora com as tentativas de ataque ao aspirador e ao pano do pó. A desgraçada quase que não se consegue mexer. Esteja onde estiver, tem sempre as duas sentadas a pouca distância e a olhar atentamente para tudo quanto a mulher faz. Deve ser um bocadinho intimidatório, mas para nós é bom saber que temos um "posto de controlo" cá em casa.

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