Histórias de uma portuga em movimento.
31
Mai 05
publicado por parislasvegas, às 05:06link do post | comentar
Ontem à noite, depois de me indignar com as parvoíces que as diversas televisões europeias debitavam a propósito do "não" francês à Constituição, resolvi que ia ouvir o que o Dr.Vitorino tinha para dizer sobre o assunto, depois de escrivinhar uma posta no Blog do Alto .
O que ouvi não me espantou. Só lamento que o Dr. Vitorino tenha explicado aos portugueses, e diga-se que de uma forma brilhante, porque é que precisamos da UE e porque é que devemos insistir em prosseguir o nosso caminho juntos, mas depois tenha falhado tão redondamente, nas suas tentativas fracas de explicar porque é que se deve continuar com o processo de ratificação. Obviamente discordo desta ideia. Não se deve continuar o processo de ratificação e a UE já devia ter começado a ponderar uma alternativa ao modelo proposto ONTEM.
Não percebo porque é que se está a perder tempo. Também não entendo onde é que os nossos políticos têm a cabeça para insistir no assunto, quando um dos membros fundadores da CCE e grande defensor da ideia Pan-Europeia já disse que não,muito obrigado.Parece-me que estão a dar ainda mais força a este não, quanto mais o tentam ignorar e agir como se nada se tivesse passado, mais os restantes europeus que se preparam para ir a referendo e pôr a cruzinha igualmente no não. Quanto mais os nossos políticos se fizerem de autistas, mais o povão se vai organizar na contra-corrente. Pois é, merecem sim senhor. E a próxima baldada de água fria é já amanhã, na Holanda.
O que me desiludiu nos comentários do Dr.Vitorino foi o facto de uma pessoa, normalmente tão inteligente e perspicaz ter representado papel de autista, tal como os outros. Não tenho dúvidas que este espaço de antena na TV pública está feito à medida e por encomenda do Governo, mas há figuras que um tipo não deveria aceitar fazer. Principalmente um tipo socialista.
Eu assumo-me como republicana dos costados todos. E, naturalmente, de esquerda.Costuma ser assim, quem é ferranho pela república, geralmente é socialista. Eu sei que estes rótulos já não fazem sentido, mas sei´também que é assim, pois caso fizessem algum sentido os políticos de todo o mundo teriam que ser coerentes. E um político coerente, nos dias que correm é uma "contradition in terms". Mas eu que tenho uma profissão diferente posso dar-me ao luxo de ser coerente nas minhas convicções, e digo que qualquer que seja a Europa que queremos para os nossos filhos, só há um requisito, a meu ver, que não pode ser descartado: a democracia. A Europa do futuro tem que ser democrática, essa é a única convicção que não me tiram. Por isso é que continuo sem perceber porque é que ninguém se reduz à insignificância a que o Chirac se reduziu, quando se dirigiu aos franceses: "Caros compatriotas, a decisão tomada foi a de rejeitar o Tratado da Constituição europeia, agirei de acordo com vossa vontade soberana".É que nem mais. Empacota e põe a viola no saco. E assim deveriam fazer os outros 24 Chefes de Estado que teimam em não desistir...

30
Mai 05
publicado por parislasvegas, às 05:09link do post | comentar
em que a condição de servidora da República me irrita! Tanta coisa interessante que eu poderia escrever hoje, nomeadamente sobre os direitos e deveres dos trabalhadores que servem o nosso galante governo e outras mais coisas sobre as dificuldades de sobrevivência dos estrangeiros aqui. Em vez disso, apenas posso dizer que, infelizmente, o que eu previa há muitos anos está a acontecer: há cada vez mais ataques a estrangeiros, brancos e não-brancos, nesta terra.O pessoal de cabeça rapada está com a corda toda. Parece-me que vou ter de regressar à minha versão loira, se não me partirem os bracinhos antes disso....

publicado por parislasvegas, às 05:08link do post | comentar

publicado por parislasvegas, às 01:05link do post | comentar
Este título é o refrão de uma canção italiana, e é o que me apetecia fazer pró resto da minha vida - ficar sempre de Domingo...
O fim de semana correu sem novidade de maior e com um calor do caraças. Sábado de manhã, fui deixar o Xano ao aeroporto, para mais uma semaninha de férias. O nosso lema agora é -" vá de férias em trabalho", ou seja, não temos tido muito sossego nem férias que assim se possam chamar, porque andamos sempre metidos em mil e um projectos e temos sempre porcarias para fazer até dizer chega. O Xano encontra-se actualmente em Pequim, a alencar que nem um perdido lá nuns projectos que temos, e eu encontro-me no mesmo sítio de sempre, a alencar que nem uma perdida, que é o que faço na vida,e pronto. Mas como esta vida não é só trabalhar feita ursa o tempo todo, como eu dizia - fui deixar o Xano no aeroporto, voltei a casa e recuperei a quase directa que tinha feito no dia anterior. Recebo um telefone do italiano que me acordou às 9 da noite. Jantar? Bute!
Fomos jantar ao melhor japonês da cidade.Tínhamos encontro marcado com a manager de programas estrangeiros do maior canal nacional de televisão. Quando me apareceu uma miúda de 23 anos eu nem queria acreditar!!!! Mas com cabecinha e muito simpática. Fiquei contente por conhecer alguém da nova geração com padrões culturais pós-soviéticos, que é uma raridade nos tempos que correm...
Quando vi que a miúda, para além de muito nova,ainda era estupidamente bonita, fiquei um bocado atrapalhada, tive a sensação de que estava a servir de empata ao meu amigo italiano - a quem, por conveniência de berlogue vou chamar de S. -para mais tarde chegar à conclusão de que o S. me convidou para este jantar PRECISAMENTE para servir de empata, o que é sempre bom. Mas adiante, a noite lá se passou num bar e depois numa disco da moda, a abarrotar de turcos e loiras, combinação mais explosiva do que o cocktail molotov. Até agora já vi muita coisa, mas esta terra não cessa de me espantar.
Eu que já andei nos bares de strip de meio mundo (pode parecer mentira mas é verdade...) incluíndo a Tailândia, onde se vêem os mais espantosos exercícios vaginais,nunca tinha visto tanto sexo explícito numa discoteca normal, a mais cara da cidade! Ou seja, paguei uma fortuna para entrar num sítio do caraças!qualquer bar de alterne em Portugal é mais calmo do que aquilo.* Lá por volta das 4 da manhã já eu estava enjoada com tanta loira meio despida, tanto calor e o som ensurdecedor das batidas disco.Decidi que estava a ficar velha e bazei....
Como o dia já ia quase alto (as horas de luz/dia aumentam estupidamente nesta altura do ano) não consegui dormir nada, o que me provocou um Domingo de ressacum psicológico.
Os Domingos de ressacum psicológico são aqueles em que, não tendo bebido o suficiente no sábado anterior, uma pessoa fica à mesma com sensação de ressaca,mas não-física. Ou seja, não apetece fazer nenhum, não apetece sair de casa,etc. Então resolvi ficar no sofá o dia todo, a papar as mangas janonesas que tinha comprado na FNAC do Colombo. Não é que o meu mais-que-tudo não goste de manga japonesa, mas também não tem grande entusiasmo. Lá em casa BDs de super-heróis e filmes animados de ficção científica são coisa de menina. Se o meu enteado mais novo conhece o homem aranha, quase desde que nasceu, tem a agradecer à madrasta que tem, completamente marada por esse tipo de BDs. Após um dia inteiro de DVDs japoneses,mergulhada em enredos cibernéticos e a ver cyborgs e robots, resolvi ir-me deitar cedo e ver qualquer coisa inteligente, para variar. Liguei a BBC. Estavam a dar um documentário sobre a fixação humana na imortalidade e ideal de perfeição e beleza. Nisto, aparece uma inglesa, completamente marada dos cornos, a explicar que tinha comprado um cilindro criogénico, onde ficará congelada à espera que se desenvolvam os primeiros corpos "próstéticos" para lhe fazerem um transplante de corpo inteiro....Claro que esta senhora apenas contava morrer aos 120 anos, pois faz uns tratamentos especiais com células fetais que retardam o envelhecimento. Depois de ouvir as declarações da criatura, resolvi que vou começar a dosear as mangas japonesas, porque podem fazer mal à cabeça. Já se vê que esta desgraçada papou episódios a mais e marou-lhe o disco rígido....
Mas esta conversa toda só para dizer que há muito tempo não tinha um Domingo destes, quase sem fazer nenhum...Haaaa, sempre de Dommenica....
*Só um esclarecimento - já andei nos bares de strip de meio mundo, como espectadora. Não tenho nada contra a profissão,mas não tenho assim tanto jeito prá abaná as cadeira, nem sou boazuda.

25
Mai 05
publicado por parislasvegas, às 02:50link do post | comentar
Finalmente,após uma data de anos, que até já são demais, a viver nesta terra - apanho uma vaga de calor!!!! Mas é que vocês não estão a ver....calor a sério! com sol forte todos os dias!!!!!UAU!Nem acredito nisto.
Parece que a mãe terra está a tentar redimir-se dos sofrimentos climáticos pelos quais nos fez passar e a tentar deixar-nos boas recordações dos últimos tempos, ou então sou eu que estou mais esquizófrenica do que o costume e, agora que sei que estou no ir, só vejo coisas positivas. A verdade dos factos, como se costuma dizer aí no rectângulo, é que temos apanhado com 30 graus todos os dias, e ao contrário do costume,o sol tem aparecido orgulhosamente no céu que teima em estar permanentemente encoberto, qualquer que seja a estação do ano.
Lembram-se do Portugal de há uns anos, em que quando fazia calor, quase todo o macho aproveitava para se pôr em tronco nú em público? Bom, aqui andamos na mesma. Há muito tempo que eu não via tanto macho meio-despido. Claro que a percentagem de banha, barriga de vodka-cerveja, peles várias caídas, correntes de ouro grossas e outras preciosas decorações, tiram a piada toda à coisa. Também devo confessar, que as senhoras se andam a despir ainda mais do que já é habitual. Nunca vi tanto fio dental exposto assim ao olhos do público em geral.
Com este calor todo, sol e coisas do género, às quais esta gente não está habituada, assistimos a um fenómeno, habitual em Portugal, mas que aqui não tem tido ocorrência: a Silly Season. Para nós costuma ser em Agosto, mas Silly Season é quando um homem quiser e fizer calor demais para trabalhar.
De manhã, quando estou a caminho do escritório, já vejo uma série de gente, que como eu até ia a caminho do escritório, mas que resolvem parar numa esplanada para tomar um café e verem os outros a passar. Isto pode parecer muito normal, mas para a estrutura mental de aqui, até é bastante invulgar. O pessoal de cá balda-se ao trabalho por causa das ressacas, festas de família, aventuras sexuais estremunhadas e outras coisas do género, não para ver o sol. Seguindo esta tendência, quase todo o espaço útil dos passeios está ocupado com esplanadas várias (onde antes estavam sempre carros estacionados indevidamente) e existem variadas festas, quase porta-sim, porta-sim, porque às nove da noite ainda é de dia, e a malta aproveita para saudar o ocaso com umas belas cervejinhas, ou um pézinho de dança ao ar livre. Para o pessoal teso, os passeios nos vários jardins botânicos da cidade (com uma cervejinha na mão) são a alternativa possível, e nem por isso menos agradável. Este hábito de ir acabar o dia ao jardim, transformou o meu bairro de aldeia eslava numa confusão enorme de autocarros, taxis, carros vários, pessoas por todo o lado, enfim...não se pode querer tudo...
Como vêem meus amigos, isto está a transformar-se numa verdadeira Lisboa! Mais plano e, talvez, com mais gente a falar russo do que aí, mas para mim é uma verdadeira alegria ver esta gente a virar ao Sul, em termos de disposição e temperamento. Assim já me entendo melhor com as vicissitudes da vida. A verdade é que tudo parece mais fácil quando o Sol nos dá o previlégio de brilhar (quase) todos os dias!
Outra grande vantagem da Silly Season, é que retira bastante conteúdo ao trabalho de quem, como eu, se ocupa com coisas políticas e burocráticas - acontece que o calor tira a pachorra de quem governa, e quem é governado está-se nas tintas para tudo, desde que o salário dê para as cervejinhas do fim do dia. Há quem, na minha profissão, se irrite imenso com estas temporadas de parvoeira, em que os países parecem não funcionar e todos os esforços de trabalho se diluem invariavelmente na preguiça dos funcionários públicos locais. Eu não. Sou portuguesa, já estou habituada. Sei que nesta altura não vale a pena chatear ninguém, a menos que seja algo realmente importante e MUITO URGENTE, caso contrário o que se poderá ganhar com isso é o ódio geral de toda a gente que trabalha no departamento que se chateou....
Parece que este estado de coisas não vai lá durar muito tempo. Mais uma semana e já devemos ter o clima normal para esta altura:chuviscos e céu encoberto. Até lá, vou aproveitar a paragem cerebral colectiva ao máximo, e para beber a minha cervejinha todos os dias, depois de sair do escritório, ritual abandonado desde de que saí de Portugal e que agora retomei com toda a convicção!

23
Mai 05
publicado por parislasvegas, às 05:34link do post | comentar
Uma das coisas que mais me irrita, mas, devo dizer, também mais me diverte, é o facto de termos aqui uma espécie de "corte" de estrangeiros,onde toda a gente se conhece e comenta as vidas de cada um. Isto, por um lado, põe-me os nervos em franja, por outro, há situações de tal ordem ridículas, que acabam por me fazer rir durante dias seguidos.
A última tem tido bastante piada. Há uns tempos atrás, um dos nossos amigos expatriados, entrou em pânico com a notícia de que uma ex-namorada sua (de longa data, e da qual se separou no maior dos estrilhos) vinha viver cá pró burgo, pois tinha realizado o sonho da sua vida - casar com um Embaixador - que, azar dos azares, logo tinha que ser cá colocado.
Digamos que a posição deste nosso amigo piora ligeiramente, pois esta ex (de uma nacionalidade diferente da dele) casou-se, nada mais nada menos, com o embaixador DELE. É chato. Quer dizer, uma pessoa nunca mais consegue entrar na embaixada e pedir o seu passaporte, sem ter toda a minha gente a comentar que ESTE é que é o ex da embaixatriz....Bom, mas já me estou a afastar da coisa...Como eu dizia, o nosso amigo entrou em pânico, pois a própria ex lhe deu a notícia, acompanhada de várias ameaças do estilo "ainda bem que vou viver bem pertinho de ti, meu querido, pra poder finalmente foder-te a vida toda e fazer-te pagar a merda do sofrimento que passei quando me largaste" e outras pérolas de poesia romântica linda, que logo aí, nos fizeram cagar de riso.Por mais que o tentássemos chamar à razão - "calma, que a gaja vai ter uma posição social que não lhe permite andar por aí na peixeirada" "calma, que se a gaja mija fora do penico o embaixador-marido vai ter que a recambiar" e outros argumentos fortíssimos que lhe deviam ter acalmado o pânico (do estilo - "ó pá, se a gaja entra a matar, marcas uma audiência com Sua Excelência e passas meia hora a falar das taras sexuais da gaja e ameaça logo que pões essa merda do jornal) - nada,mas nada fez acalmar o tipo.
Pela descrição que ele nos fez, esta jovem senhora, com menos uns bons 7 anos mais nova do que eu, é uma mulher deslumbrantemente linda, altamente inteligente, maquiavélica e desiquilibrada. Ora o que nos tem provocado a risota toda é que a senhora chegou cá e verificámos que:
1. É feia
2. Não tem conversa que se aproveite
3.Aparenta uns 37 anos bem vividos
4. Não sabemos se é mais maluca do que nós, porque não se nota
Claro que fomos logo perguntar se aquela é que era a perigosa Mata-Hari, informação que o nosso amigo confirmou, no meio de inúmeras queixas que continua a receber telefonas ameaçadores e ela lhe faz gestos obscenos em público, coisa que nenhum dos acompanhantes conseguiu alguma vez verificar. Claro que no meio da risota que isto tem provocado, muitos de nós andam seriamente preocupados com a sanidade mental do amigo em causa. Eu não. Acho que ele já enlouqueceu há uns bons dois invernos atrás e agora é que se está a notar com a força toda.
Conto esta história não pelo interesse desta narrativa de caca,em si própria, mas apenas para demonstrar até que ponto o isolamento de expatriado, aliado aos invernos soviéticos podem afectar o cérebro de uma pessoa (ou neste caso, de várias - do nosso amigo que está paranóico, e as nossas que ainda nos rimos com isso...)

publicado por parislasvegas, às 01:38link do post | comentar
Como a todos os deslocados e desanraízados, imigrantes, ou, para ser fina, expatriados - o regresso de Portugal, fez-me uma impressão danada.Acho que não emcontrei outra defesa melhor, senão passar os dias a dormir. Daí o facto de não ter actualizado o blogue. Não é que nesta última semana não se tenham passado coisas interessantes nesta terra, antes pelo contrário. O Festival da Eurovisão, passou qual circo itenerante, pela cidade, enchendo o burgo de camones vários, pequenos mafiosos e muitas putas. De maneira que a coisa até esteve animada, mas eu andava sem paciência nehuma e preferi viver a coisa de maneira mais recatada.
Confesso que eu, sempre desejosa de alguma actividade diferente,em vez de andar feita maluca metida no meio dos camones e a ir às festas todas e mais algumas que se organizaram em honra de variadas personalidades que não conheço de lado nenhum,meti-me mas foi na caminha e passei oito dias de profundo coma emocional, do qual começo a emergir, embora muito lentamente. A excepção foi aberta para a delegação portuguesa, composta por gente altamente simpática e profissional, com a qual me deu muito gozo conviver,mesmo que apenas por pouco tempo- como sempre, nem passámos da meia final, mas pronto, o que interessa é o convívio...
No sábado, e à falta de bilhetes para a final, fomos com os latinos, jantar ao melhor japonês da cidade, onde chateámos a gerência até à exaustão,para transmitirem a eurovisão nos plasmas gigantes do restaurante. Lá fizeram a vontade aos doidos dos latinos mas - sem som...Enfim, não se pode ter tudo...Constantando que os portugas já tinham sido eliminados, que a Itália não participa e que Espanha só teve uns míseros votos de Portugal e da Ucrânia (!), ficámos chateados, pois claro, e resolvemos organizar uma eurovisão-karaoke lá em casa, que durou até às seis da manhã e teve os seus vencedores por KO - o espanhol e o Xano, que se aguentaram a cantar até ao último raio de sol da madrugada de Domingo!
E assim vão as glórias deste mundo pós-soviético.

06
Mai 05
publicado por parislasvegas, às 00:45link do post | comentar
Noite de Páscoa ortodoxa na Ucrânia. Enquanto metade da população prepara os seus cestos de pic-nic e os lenços de pioneiro para os filhos, na antecipação dos festejos do Primeiro de Maio, a outra metade, ainda mal recuparada de chorar os 19 anos de Chernobyl, prepara outro tipo de cerimónia...
Sábado 30 de Abril, é meia-noite. Sem saber muito bem como, dou comigo num mosteiro, a uns 30 Km da cidade. O mosteiro é pequeno, branco, com um jardim tranquilo em volta, cheio de tulipas, e um pequeno cemitério medieval no centro. Estamos no meio de nada, no intervalo de ir para coisa nenhuma, à nossa direita uma colina, à nossa esquerda um pequeno riacho. Da colina só lhe vejo a sombra, do riacho apenas ouço o barulho da água a passar apressada.
Não há nenhum tipo de iluminação. Quando passo o portão da pequena propriedade, vejo dezenas de pessoas, mulheres veladas, todas cobertas, com saias compridas, alinhadas em frente ao mosteiro. À sua frente têm cestos cheios de comida. Uns maiores,outros mais pequenos,conforme as poupanças da família. Cada cesto tem, à laia de cereja no topo do bolo, uma vela acesa. Esperam. Não rezam, não falam, não se mexem. Esperam.
Decido entrar no mosteiro. A luz forte, aumentada e melhorada pelas paredes brancas cheias de ícones dourados, fere-me os olhos. Lá dentro ouve-se o Coro dos monges cantando divinamente em Eslavónico antigo. Aqui as cerimónias são quase todas cantadas, fala-se pouco. Os monges que cantam nunca aparecem, estão sempre protegidos dos olhares dos fiéis atrás dos retábulos principais da igreja. Assim sem ver a proveniência daquelas vozes, até se pode pensar que é Ele que põe anjos a cantar para nós, numa língua antiga, perdida,misteriosa.
O calor, aliado ao excesso de luz, o cheiro das velas e o som,põem-me num transe estranho. Reparo que, também eu estou com ar de camponesa, cabeça coberta à moda do campo. Nem sei como. Acho que foi por instinto,para, por uma vez, não me sentir estrangeira nesta terra. Tenho que sair.
Sinto o ar fresco a bater-me na cara. Olho em direcção ao cemitério. Cerca de seis sacerdotes ajoelham silenciosamente no centro. Os fiéis chegam,cada vez em maior número, vão se alinhando com os seus cestos. Sem que ninguém dê sinal de nada, os sacerdotes levantam-se, dirigem-se aos fiéis carneiramente alinhados. Forma-se uma fila, ou melhor, uma roda, que vai circundando o mosteiro. Três vezes. Os padres abençoam os alimentos. As voltas e as bençãos repetem-se. Decido voltar a casa.
Sinto-me como se tivesse invadido a privacidade de alguém. E talvez o tenha feito. Com esta estranha visita aprendi que não se deve assistir a cerimónias de fé para propósitos etnográficos. Não me arrependo,mas tenho pena. A demonstração de fé, desespero e pobreza a que assisti, fizeram-me perceber mais da terra onde vivo. E se calhar, para mim, já chega de tentar compreender o incompriensível.

publicado por parislasvegas, às 00:28link do post | comentar
Para saber tudo o que nunca vos interessou nem quiseram saber sobre Kiev, aqui fica um link uindo da "Caras" ´cá do sítio e é em inglês e tudo!!! Divirtam-se com
isto.

04
Mai 05
publicado por parislasvegas, às 05:46link do post | comentar

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1993-2005


Foi a primeira vez, na vida, que chorei de alegria,naquele dia de Dezembro em 1993, quando os meus pais me apresentaram uma Bia que mal cabia na palma da minha mão. A partir daí, foram 12 anos de boa companhia, de muitas gracinhas,muitas asneiras, muito sapato roído....
A Bia era um cão com muita personalidade, como todos os Yorkshires, era muito manipuladora, mas dava sempre qualquer coisa em troca. Pedia goluseimas, mas fazia a gracinha de se pôr em pé, junto à gaveta da cozinha que ela sabia que continha os "tesouros". Muito refilona. Sempre refilona, muito ciosa do seu espaço e da sua casa, este cão, tão pequeno, tinha instintos de protecção exarcebados. Chegou a morder algumas pessoas.Provavelmente porque mereciam, provavelmente porque os cães sentem melhor do que nós quando alguém merece uma dentada bem assente. A Bia sempre foi um poço de mimos, como os meus cães, a Bia foi muito educada (na vida adulta fazia muito poucas asneiras e só lhe faltava falar...) mas muito estragada com miminhos. Ai de quem se aproximasse da mãe (até eu..) A Bia resolveu que iria dedicar a sua vida a ser a sombra da MF, e foi. Durante 12 anos não houve praticamente sítio onde a minha mãe fosse sem a sua menina de 4 patas. Eu estava descansada, na minha ausência, os meus estavam entregues à Bia e ela nunca me desiludiu. O Amor que esta coisa pequena trouxe à minha família é um tipo de sentimento que muitos humanos se vêem incapacitados de partilhar ou sentir.
Adeus Bia. Na minha cabeça, passarás a brincar com o Rudy todos os dias...


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