Histórias de uma portuga em movimento.
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Abr 08
publicado por parislasvegas, às 19:24link do post | comentar | ver comentários (2)




A blimunda recomendou-me o filme Caramel da realizadora libanesa Nadine Labaki que, para retratar as solidariedades e condição femininas em Beirute, escolhe centrar a acção da película num salão de cabeleireiro .

Adorei o filme que, para além de um excelente argumento, me transportou para um sítio que eu adoro: o salão típico, mais ou menos decrépito, onde as conversas oscilam entre o insignificante e o sentido da vida.

Das viagens que tenho feito e nos países onde tenho vivido, fujo dos cabeleireiros franchisados e arrisco sempre (por vezes com péssimos resultados) o salão local, com o décor de há 20 ou 30 anos atrás.

Tenho conhecido personagens impagáveis e saído com os penteados mais loucos que se possam imaginar.

Em Kiev, frequentei um salão minúsculo, praticamente um corredor. Sem decoração que não fossem as cadeiras de barbeiro e os espelhos, porque não havia dinheiro para mais.

A Vita , minha manicure e o marido, meu colorista e cabeleireiro, tinham vivido até à independência como operários metalúrgicos em Donetsk . Construíam carruagens de comboio e viviam num pequeno apartamento comunal para operários. Pode parecer-vos incrível, mas eles falavam com saudade desses tempos em que tudo o que era preciso para poder comer decentemente era passar uma garrafa de vodka ao talhante.

Depois de 91, a única oportunidade de mudar de vida foi emigrar temporariamente para a Alemanha para tirar cursos de estética. E eles agarraram a nova profissão com as duas mãos. Ou era isso, ou os três filhos do casal não comeriam.

Em Banguecoque fui a um salão todo cheio de dourados forrado a veludo verde-irlanda e saí de lá loira platinada, cor que durou quinze dias....o tipo não teve culpa. Ninguém pinta o cabelo de loiro por aquelas paragens.

Tive uma conversa alucinante com o cabeleireiro que, aparentemente, conhecia todos os portugueses da cidade.

E o que dizer do meu casamento em Pequim?? eu saí do hotel para comprar o bouquet (só isso dava outro post) e quando cheguei  o mulherio da festa estava em pânico: tinham ido arranjar o cabelo e pareciam saídas de uma sitcom dos anos 60. Tudo de cabelão enorme e ripado. Felizmente a cerimónia foi ao final da tarde, o que deu tempo a todas de lavar a cabeça e mudar para algo mais simples.

Mesmo assim, enchi-me de coragem e lá fui. Afinal, noiva que é noiva vai arranjar o cabelo no dia em que se casa. As fotos documentam bem a minha banana ao estilo rocka-billy.

Melhor do que esta, só a vez em que fui arranjar as unhas a um salão de bairro em Pequim e saí de lá com unhacas de acrílico de 5 cm cada. Um must.

Aqui a experiência é muito parecida com a do filme da Labaki: duas horas para arranjar o cabelo. Uma para beber café e outra para lavar e secar a cabeça.

O salão parou no início dos anos 80, decoração mais pirosa não há. Mas o mulherio cá do bairro adoptou-me: quando eu estou só se fala inglês para eu poder participar nas conversas e ando a aprender mais grego com elas, uma vez por semana, do que nestes últimos seis meses de permanência na Ilha.

Até em Paris, capital do cabeleireiro franchisado, consegui encontrar no meu bairro um salão tranquilo ("só" era preciso reservar com uma semana de antecedência) que tinha a seu desfavor o facto de não ser piroso - isso não existe nos bairros finos de Paris - e a seu favor o facto de ser propriedade de um português enorme, gabiru latino de rabo de cavalo e mulherengo até dizer chega, mas que fazia milagres com a tesoura (e, segundo as outras senhoras, com outras coisas também...).

Em conclusão - não se conhece a alma feminina de um país enquanto não se frequentam os salões de bairro.

Não se esqueçam de agendar uma ida a um salão na vossa próxima viagem. Por vezes, é uma aventura maior do que ir escalar uma montanha ou passear na selva, porque tal como estas, tem os seus riscos. O que vale é não há mal capilar que sempre dure...

 

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