Isto anda paradito e sem interesse nenhum. Não é a primeira vez que um blogue meu passa por uma crise destas, mas ando com sérias dúvidas se vale a pena ou não manter o estaminé. A minha vida em França não tem tido interesse. Passo quase todas as horas do dia a trabalhar e os tempos livres são poucos, acabo por não conhecer nada da cidade nem do país. Já lá vão sete meses e tudo o que eu sei daqui é que os franceses guiam como loucos, gostam de futebol e de mulheres e não são muito amigos de trabalhar. Ou seja, isto é tão igual a isso aí que até dá raiva. Não há choque cultural, não há exotismo, não há tempo e não há exitação.
Tenho gostado da comunidade portuguesa de cá. Uns cristalizados no tempo, com o culto da Nossa Senhora, do bacalhau, benfica e folclore, outros modernos e portugueses assumidos sem vergonhas de porteira, que fazem questão de mostrar que somos tão ou mais desenvolvidos do que os franceses - só ganhamos é substancialmente menos. Gosto de todos. No fundo porque existe uma comunhão de portugalidade que se dá bem com a bifana e com o cinema de culto. Tenho ido a quase tudo, desde festas populares a exposições de arte contemporânea e vejo muitos franceses com curiosidade sobre o que faz no nosso país.
Acima de tudo, tenho orgulho nos nossos conterrâneos que, apesar das vidas difíceis, se assumem, como já disse, a sua portugalidade de cabeça erguida, sem as vergonhas de há 30 anos, quando davam o salto para escapar à pobreza e à guerra colonial. Estes portugueses, que tanto contribuiram para o nosso desenvolvimento à conta das remessas de divisas, não pedem quase nada e estão dispostos a dar quase tudo. São estes que me fazem pensar se, realmente, só seremos capazes de fazer qualquer coisa de jeito fora de casa. Com tanta gente boa, custa-me a perceber como chegámos ao ponto da inviabilidade e da ingovernabilidade.
Mas falava eu deste blogue e do estado das coisas por aqui.
A fase da adaptação ao novo país já acabou, agora entrei numa fase de planeamento da nova vida. Os objectivos que eu mais quero atingir estão, neste momento, mais longe do que nunca.
A culpa, claro, é exclusivamente minha. Todas as escolhas que fiz nos últimos 15 anos me trouxeram a este ponto, não me posso queixar. Talvez tenha sido demasiado auto-centrada ou ambiciosa, mas agora não vale a pena olhar para trás. Isto para dizer que, para além da falta de assunto, também me falta disposição para brincar aos blogues. Cheira-me que, se continuar a escrever, vou contaminar o Verão e o mundial de futebol com a minha áurea cinzenta de mágoas e angústias - e a net não se fez para isso.
Nos dias de bom humor talvez volte.Ou talvez não.