Histórias de uma portuga em movimento.
21
Jul 06
publicado por parislasvegas, às 11:54link do post

Esbarrei com este site acidentalmente, numa das surfadas de fim-de-semana. Impressionou-me e doeu-me com um estalo bem assente na cara.

Há tempo que ando a pensar em escrever sobre isto, mas o assunto é pesado e deprimente e nada indicado para uma sexta-feira de Verão. No entanto, este postal tem andado a assombrar-me as noites e preciso de me livrar disto.

 

Trata-se de uma "comunidade" cibernética de entre-ajuda ou de desabafo ou sei lá como qualificar uma coisa tão estranha quanto esta. As pessoas enviam postais anónimos (feitos à mão pelos próprios) onde escrevem os seus segredos mais íntimos. Este site está ligado a uma linha de SOS suicídio.

O site é estranhíssimo e só me faz lembrar as cenas maradas que se lêem em livros de ficção científica: como é oficialmente proibido por esta sociedade o ser gordo, o estar triste, o ser sozinho, e, acima tudo, como se perderam as relações humanas que permitiam uma maior entre-ajuda no passado, temos que recorrer a coisas destas para que as pessoas possam, sob a capa do anonimato, deitar cá prá fora os segredos que lhes oprimem a vida.

Penso que o problema não é apenas o facto de se terem perdido as teias de afectos familiares que existiam antigamente. Esse é apenas um dos lados do Iceberg que acabará por fazer implodir a sociedade moderna. Outro factor, muito importante, é o de ninguém querer já viver ou estar próximo de uma pessoa que tem problemas. Nós temos que estar sempre bem, trabalhar bem dispostos, falar aos vizinhos com um sorriso e chegar a casa e representar um papel também no seio da família. Vivemos tão imersos num mundo de anúncios da Pepsi onde toda a gente é rica, bonita, magra, bem sucedida e bem disposta que já ninguém tem coragem de fazer luto dos seus mortos em público. Ninguém tem coragem de admitir uma fraqueza e declarar-se triste, doente ou deprimido. Porquê? Porque geralmente os que nos rodeiam ou nos abandonam ou aproveitam-se da fraqueza e comem-nos vivos.

A velocidade a que se vive hoje também é outro factor. Tudo é rápido, superficial. Pronto a vestir, pronto a comer, pronto a casar e pronto a viver. Não temos tempo para aprofundar sentimentos. Não temos tempo sequer para tentar ser felizes e muito menos para esperar que as nossas feridas se curem.

Quando vejo estes postais na net , penso sempre na sorte que tenho. Em todas as alturas da minha vida tenho sempre tido o apoio incondicional de gente de carne e osso. Gente real, com pés assentes na terra, que sabe que chorar é tão normal quanto rir e que sabe que é preciso esperar até que os arranhões cicatrizem. Gente que me tem amado, tanto quanto eu os amo a  e que me dá muito mais do que eu alguma vez pedi. Nas alturas em que leio estes "segredos" só tenho pena que estas pessoas não possam, não queiram ou não saibam enviar a mensagem a quem está, realmente, perto delas.

A maior fortuna é mesmo ter amigos.


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