Histórias de uma portuga em movimento.
26
Jul 06
publicado por parislasvegas, às 11:21link do post | comentar

Eu e o meu Xano temos passado este Verão entre o trabalho, cuidar de uma casa com 300 m quadrados, duas crianças e dois cães.

Por alguma ironia estranha do destino, devo estar a pagar qualquer coisa que fiz a alguém enquanto estive em Kiev, porque nossa salvadora, a Ludmila, nunca mais consegue obter o visto de trabalho para se juntar a nós. Seja lá o que fôr que  eu tenha feito, acho que o pecado está mais do que expiado, porque andamos de rastos.

A Luda trabalhou para nós três dos quatro anos que estivémos em Kiev. É uma pessoa educada, atenta e honesta. O que compensa largamente o facto de não ser lá muito rápida nem energética. Funcionária do Observatório Astronómico de Kiev, onde se ocupava com as minunciosidades de mapear as estrelas, a Luda manteve-se uma pessoa aérea, o que é raro para uma mulher eslava de formação soviética. Mesmo assim, consegue ser menos aérea do que eu e um bocadinho mais pragmática.

Estamos um bocadinho nervosos (principalmente ela) porque é a primeira vez que a Luda se propõe sair do seu "mundo familiar". Embora já tenha viajado para várias partes da ex-URSS e para a Turquia, esta será a primeira vez que a senhora vai assentar os pés em terras da "Europa". E isto depois de já ter feito os cinquenta anos. Esperemos que o "choque cultural" seja positivo.

Penso sempre nestas coisas porque até a nós nos custou a mudança: tantas pessoas bem vestidas, mas tanto mendigo roto. Tantas coisas para comprar no super-mercado, mas tanta gente a dormir na rua. Tantos monumentos faíscantes e bem tratados, mas tantaspessoas agressivas, xenófobas e desagradáveis. No fundo os contrastes europeus não são diferentes dos "soviéticos", o aspecto das coisas o "embrulho" é que é. E nós, meros animais de hábitos, precisamos de estar rodeados de coisas familiares para nos sentirmos seguros. Espero que o facto de nos ter a nós por perto a ajude. Afinal, muito nos ajudou ela quando éramos nós os rodeados de referências estranhas à nossa cultura.

Até lá, dois adultos+ duas crianças+ dois cães= 1 verão roda-viva doméstica sem direito a descanso....


Eu percebi que, ter uma pessoa que nos ajuda na lida da casa (e a quem pagamos por essa ajuda), é mais ou menos como ter um carro com ar condicionado. depois de ter, é dificil imaginar a vida sem...
A fada do lar cá de casa vai de férias durante os próximos quinze dias e eu já me sinto meio desorientada!
E mais, cá em casa somos três, sendo que a MI ainda não faz grande porcaria e não temos cães!
R. a 26 de Julho de 2006 às 22:26

A MI pode não sujar muito, mas dá bastante trabalho. Quando eles são maiores podes dormir mais, mas é mais roupa para lavar, mais coisas para arrumar, mais partes da casa para limpar. Isto se não falarmos das paredes, vidros e portas todos cagados com "prints" de mãos pequeninas. É a vida...
parislasvegas a 27 de Julho de 2006 às 09:55

Pois eu tambem uis contratar um Ludmila cá para casa. Mas a Blimunda, armou-se em skinhead e não quis... Nem ucranianas nem zairense.
Agora às terças-feiras vem cá uma "mulher do Minho, mulher de grande valor"...
Riki a 27 de Julho de 2006 às 11:19

Deixa-me adivinhar...tem bigodes??? Ah ganda Blimunda!
parislasvegas a 27 de Julho de 2006 às 11:47

Como sempre gostei da tua posta. Especialmente do teu retrato desta Europa que me parece regredir. Todos os dias começo a descer o Chiado como quem se vai divertir com as elegantes que passam, e acabo sempre constrangido, com tanto mendigo, tanto miserável, tanto maluco.
Quanto à nossa Ludmila (é comum à família toda) não tem bigode, até é bonita nos seus 120 kgs, é de facto uma mulher do Minho de grande valor e objectivamente é aquilo a que eu chamo a verdadeira fada do lar. A dona Adélia é um importante membro da nossa família!
Ze da Penalva a 27 de Julho de 2006 às 15:07

É verdade ZédaPenalva, infelizmente é bem verdade. Sabes que me parece que o choque vai ser enorme, porque, desde a queda da URSS, que aquela gente só tem informações da "maravilha" que existe "do lado de cá". Essas ilusões vão se desfazer todas quando ela cá chegar. E a senhora vem com um estatuto muito privilegiado....agora imaginem aqueles desgraçados que aterram nesta bosta, a pensar que isto é o paraíso e depois ainda são explorados e agredidos por patrões sem escrúpulos e acabam por bater no fundo das misérias humanas. A Europa é um Continente em decadência profunda, uma moribunda que nem sequer se apercebeu que já está ligada à máquina há muito tempo. Uma velha senhora que, do seu leito de morte, ainda tem a ilusão que um dia vai melhorar e vai poder dar uns açoites valentes nos rabos dos netos mal-criados.
parislasvegas a 27 de Julho de 2006 às 16:24

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