Histórias de uma portuga em movimento.
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Nov 06
publicado por parislasvegas, às 17:46link do post | comentar

Participei hoje num encontro de comemoração dos 50 anos da marcha das mulheres pela igualdade na África do Sul (com algum descolamento " temporal, porque a efeméride foi a 9 de Agosto deste ano, mas pronto). Um colóquio muito interessante onde se debateu a condição feminina no mundo em geral e nos países em Desenvolvimento em particular.

É um orgulho (para elas, claro) ver que a nova democracia na África do Sul se encontra em terceiro lugar a nível de presença de mulheres nos órgãos de decisão política. As mulheres africanas são verdadeiras forças da natureza e a tradição, na África subsaariana é a da mulher enquanto chefe de família, da mulher que alimenta, educa e trabalha para melhorar a condição social e financeira da família.

Ao contrário de algumas de nós, europeias privilegiadas que gostam de fazer chantagem à conta dos filhos que temos para sacar uma pensão choruda ao ex-marido, as mulheres do Sul do Continente africano desunham-se em mil soluções criativas para aumentar o rendimento familiar em países que, seguindo a tradição anglo-saxónica, não têm nem saúde, nem educação gratuitas .

Ali sentada a ouvir mulheres de várias cores e feitios a falarem dos respectivos programas nacionais dirigidos às mulheres trabalhadoras, constatei que, até na Zâmbia, uma mãe que trabalhe tem melhores condições do que na Europa. Isto porque nós, as ocidentais, quisemos ser tão iguais, mas tão iguais aos homens que acabámos por estragar a nossa vida e aquele dos que nos rodeiam e, pior ainda, a dos nossos filhos. Gerações criadas sem acompanhamento, sem presença de mãe, sem tempo. Gerações largadas em frente à televisão ou na rua.

Por muito que a Ministra francesa da paridade se esforçasse a demonstrar com dados estatísticos o facto de França ser o melhor país da Europa para se ser mãe e trabalhar eu não consegui acreditar na Senhora. A taxa de natalidade aqui é mais elevada do que noutros países da Europa devido aos subsídios da Segurança Social e não devido ao acompanhamento real que as mães podem dar aos filhos, ou a facilidades com creches e amas.

A semana passada o país inteiro se chocava com mais um acontecimento à lá latino (à semelhança do que acontece em Portugal) - uma mãe de 19 anos que vivia sozinha com o seu filho de dois, resolveu estrangular o bebé quando a ama se despediu. Como é que ela ia poder continuar a sustentá-lo sem poder trabalhar? como ia poder tomar conta do miúdo e trabalhar ao mesmo tempo? Não conseguindo encontrar solução (e sendo produto da sociedade podre em que vivemos, acrescento eu) preferiu resolver o problema apertando o pescoço ao bebé

É esta a paridade que queremos? Será esta a sociedade em queremos viver?

Eu tenho a certeza que não e dispenso igualdades hipócritas que me obriguem a ser uma má mãe. Igualdade assim metam-na onde vos aprouver . Eu sou gaja porra . Sou diferente e gosto muito de o ser.


Ai, lá voltaste tu a meter o dedo na ferida.
A sociedade é muito engraçada...
Peimeiro, disseram-nos que também tínhamos de ir bulir... fizeram-nos crer que teríamos as mesmas oportunidades que os gajos, mas não é bem assim... temos sempre de trabalhar o triplo e ainda nos chamam carreiristas porque nos limitamos a fazer as coisas como deve ser e somos pragmáticas. Somos umas filhas da puta ambiciosas, porque fazemos sobressair a incompetência deles.
Depois, quando o relógio biológico começa a apertar: "agora que tem filhos pensa que é especial", ou "o miúdo só tá constipado, aproveita logo para ficar em casa".
Em casa, porque a sociedade nos exige, porque fomos "programadas" para isso, sentimo-nos sempre culpadas porque não conseguimos ser tão competentes como na empresa, porque não temos tempo para isso. Não conseguimos dedicar o tempo que queríamos aos filhos, ao marido, à casa, à família que com tanto amor constituímos...
É impressionante como ao fim de tantos anos e tanta emancipação, ainda estamos programadas para ser excelentes esposas e mães... ou estarei a exagerar?!!
D. a 11 de Novembro de 2006 às 10:13

Não D., não estás a exagerar,... é mesmo assim. Mas tambem acho que nós é que queremos demais e não nos contentamos com o suficiente. Não nos permitimos errar, nem no trabalho, nem em casa, nem com os filhos... Porra! somos humanas, não?!
R. a 12 de Novembro de 2006 às 12:08

Estão a ser criados vários problemas bem graves pelo modo de vida que nos é imposto. Um é bem claro, o envelhecimento proporcional da população europeia, consequência não só de melhorias nos sistemas de saúde (ainda bem!) mas também devido à diminuição progressiva das taxas de natalidade. A família tem cada vez mais um papel de menor importância na formação dos seus membros, com todos os problemas dai inerentes. Mas existem problemas de cariz biológico que estão a ser descurados. O numero de mulheres que tem o primeiro filho com mais 30 anos é cada vez maior. Existem estudos que mostram uma clara relação entre a idade dos progenitores (incluindo os homens) e problemas de saúde dos filhos. A maioria das mulheres (que eu conheço) não tem filhos mais cedo exclusivamente devido a escolhas que envolvem a sua vida profissional. Há que pensar em legislar de forma a proteger a mãe e a família . A paridade é um conceito muito bonito mas que descura um pormenor muito importante, não somos todos iguais.
ParisLisboaEuropa a 13 de Novembro de 2006 às 13:46

Além disso... Não sei o que se passa em França, mas aqui é flagrante: não há uma merda de um infantário estatal que aceite crianças dos 0 aos 3 anos e o mais grave, e que a mim me deixa fora do sério, é o facto de não se ouvir um cabrão de um político falar nisso...

Mesmo depois dos 3 anos, os infantários estatais funcionam no máximo até às 5h30... Ora, que porra, nem todos somos funcionários públicos daqueles que dão mau nome aos funcionários públicos!
D. a 13 de Novembro de 2006 às 14:21

Pois essa é que é essa. A paridade é um conceito que está errado à partida porque NÃO SOMOS IGUAIS. Somos iguais a nível de capacidades cognitivas o que nos habilita a todos, homens ou mulheres a desempenhar determinadas funções. Mas assim como as mulheres estão fisicamente impossibilitadas de mijar de pé, também os homens não podem engravidar e amamentar. Um dos grandes factores de declínio da sociedade ocidental e da Europa em particular é a fraca natalidade. Para além de não termos filhos, ainda os educamos mal. O Estado (independentemente da sua nacionalidade) gosta muito de nós mulheres trabalhadoras porque pagamos impostos. Gosta dos filhos que temos porque são pagadores de mais impostos e futuros "bens" para as forças armadas nacionais. Queixa-se que o tecido social está corrompido e responsabiliza directamente as mães "ausentes" por isso (veja o caso dos banlieu aqui em França).
Mas assegurar a discriminação positiva das mães trabalhadoras, isso fica apenas no papel. Com excepção da Suécia, Finlândia e Noruega, todos os sistemas que conheço dos outros 23 da UE são uma merda. Hoje em dia é preciso ser louca para engravidar e é preciso a mesma estaleca de uma camponesa do séc. XVIII para criar os filhos. Não percebo como é podemos ter evoluído tanto e aprendido tão pouco.
Assim como as sufragistas marcharam pelo direito ao voto e as feministas queimaram sutiãs em nome da igualdade, cabe à nossa geração (tirthy something) lutar pelo direito de ser mãe com alguma dignidade.
parislasvegas a 13 de Novembro de 2006 às 14:48

E mais... as camponesas podiam levar os filhos para o trabalho, nós nem isso podemos fazer, porque somos mal vistas.
D. a 13 de Novembro de 2006 às 15:29

Olha que já me passou pela cabeça várias vezes num dia em que tiver um, trazé-lo às costas à l'africaine. Porque não? já que exigem 12 horas diárias das minhas 24, então que me aturem com putos e tudo. Assim é que era justo.
parislasvegas a 13 de Novembro de 2006 às 16:15

Podes crer, era essa a imagem que eu tinha quando estava a escrever aquilo. Eu, sentada no computador, com o ZP no pano.
D. a 13 de Novembro de 2006 às 18:10

Acreditem que ainda é mais complicado para quem trabalha em investigação
LisboaEuropaParis a 14 de Novembro de 2006 às 17:46

Acredito piamente. Especialmente com as condições precárias dos bolseiros de investigação em Portugal. Uma das nossas (muitas) vergonhas nacionais.
parislasvegas a 16 de Novembro de 2006 às 12:56

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