Há anos que venho escrevendo sobre a necessidade de despenalização do aborto, tantos quanto tenho "voz" na internet. A minha posição não constitui novidade para a meia dúzia de amigos/leitores que me conhecem desde sempre, inflamada de indignação contra a prática medieval, católica fundamentalista e redutora das liberdades individuais que constitui a ilegalidade do aborto e a perseguição judicial das mulheres que se vêem forçadas a recorrer à sua prática.
Portugal é um Estado laico e republicano, os nossos legisladores não podem impor ao geral da população valores religiosos. A consciência individual deverá reger as mulheres neste tema, uma vez que , cientificamente, não existem contra-indicações para a intervenção (dentro do prazo estipulado).
Tenho necessidade de dizer isto aqui e afirmar claramente a minha posição, agora que, grávida de 4 meses, compreendo plenamente a tragédia pessoal de quem se vê obrigado a recorrer a esta solução extrema. Devo também dizer que prefiro pagar impostos para matar criancinhas (é assim que os católicos põem a coisa....) do que pagar a diária da prisão às mães tresloucadas que matam os filhos com as suas próprias mãos, ou a estadia de mães adolescentes em casas de acolhimento, ou os subsídios aos desgraçados que nascem sem ter onde cair mortos e que dependem da sociedade o resto da vida. Se isto é uma visão fria, desprovida de humanidade??pode ser que seja, mas é a minha.
De qualquer das formas, desenganemo-nos, não é por causa da legalização do aborto que deixarão de existir abortos clandestinos ( das desgraçadas e pobres que não querem contar ao marido, ou aos pais ou etc - porque as ricas vão continuar a ir a Madrid ou a Londres), ou crianças mal tratadas ou grávidas adolescentes. Quero apenas crer que a legalização do aborto em Portugal vai contribuir, pelo menos um pouco, para a melhoria de alguns destes indicadores, reduzindo um pouco a miséria humana que grassa no meu país.