Histórias de uma portuga em movimento.
27
Nov 05
publicado por parislasvegas, às 05:13link do post | comentar
Ocupada na parte do socialíte que esta vida tem (demasiado para o meu gosto..), ando a panicar a cada segundo com as "obrigações" que me desviam da tonelada de coisas realmente importantes que tenho para fazer.Mas o que tem que ser tem muita força, e lá ando eu, feita barata tonta, de jantar em almoço, de festa em festa, relegando para último plano coisas importantíssimas, o que me força a levantar-me às 9 horas de Domingo (meu Deus, onde eu já cheguei!!!!) para assumir tarefas domésticas e profissionais....Merda.
A noite de Sexta-feira foi especialmente invulgar. Não me lembro qual foi a última vez que me senti assim:deslocada.
Para mim, sentir-me deslocada é praticamente impossível. Há dez anos que ando nisto, e para mim são mais do que normais as situações sociais com gente de mil nacionalidades e culturas diferentes, estarlettes mais ou menos famosas e diabos-que-tais. Quer dizer, se eu não senti deslocada com a Fafá de Belém a cantar o fado em plena discoteca africana em Lisboa (juro!), então já não há nada capaz de me fazer sentir assim. Isto pensava eu.
Como todos os seres humanos, tenho as minhas inseguranças, os meus momentos embaraçantes e as minhas fragilidades. No entanto, nesta profissão, a pior coisa que se pode fazer é demonstrar algum tipo de hesitação social. De maneira que lá fui aprendendo a entrar numa sala com a cabeça erguida e fazer conversa com qualquer pessoa, e em línguas variadas.
Sexta-feira, num jantar só de franceses e francófonos, paralisei. Pela primeira vez em anos, senti-me mal, deslocada e sem conversa.
A coisa até começou bastante bem. Quase todos os presentes tinham mais uma década do que eu. Ao contrário do que costuma acontecer nesta terra, as mulheres eram estrangeiras também. Acho que foi isso que me incomodou. Ou melhor, acho que fui eu que as incomodei. Como é que eu hei-de explicar isto sem parecer politicamente incorrecta??Os cavalheiros, em geral, trataram-me bastante bem e fizerem a conversa do costume comigo, dando-me conselhos para a minha mudança para França, fazendo resumos do panorama político francês e etc...As mulheres....bom com elas a coisa foi difícil. Talvez a culpa seja minha (concerteza deve ser) estou demasiado habituada a conviver com homens nesta profissão e tenho pouca conversa feminina. Mas estas estrangeiras também trabalham, não são "pessoal de acompanhamento".O que correu mal, então???
Correu mal porque eu não tenho os mesmos códigos.
Toda a gente vestida da mesma maneira, pertencente à mesma geração, com filhos da mesma idade, acompanhadas com os maridos. E eu ali, verdadeira out-sider. Não aderi à moda "cigana" deste ano, desculpem lá, não gosto de saias ao folhos e às flores e de joalharia exagerada. Não tenho filhos. E não, não estou a viver com o meu marido. Não porque queiramos estar separados, é simplesmente porque o nosso patrão assim quer e tem que ser.
Fui medida, retalhada, testada e por fim, para grande alívio meu, ignorada pelas outras. Infelizmente, como fui "taxada" pelas mulheres, os homens tiveram que me evitar. Cada vez que algum deles vinha meter conversa, levava com olhares repressores....
Decididamente, não caí no goto das francesas e não nutri simpatia especial por nenhuma delas, demasiado ocupadas em discutir o colégio dos filhos, ou as lojas de roupa da cidade. Como todas eram recém-chegadas, ainda tentei indicar alguns sítios interessantes na cidade, e dar conselhos sobre a vida prática (que aqui é tudo menos fácil). Foi um erro crasso. Ouvir conselhos de uma mulher mais nova não parece estar no livro de etiqueta desta gente.
Não sei se foi a combinação da minha nacionalidade, idade, profissão, maneira de vestir, sem filhos, sem marido. Sei lá. Agora só penso: e se isto for mesmo a maneira de ser francesa???
Serei tratada que nem uma leprosa durante a minha estada lá???
De qualquer das formas, caguei. Nunca tive grande jeito para gajas, não espero fazer novas amigas. Mas espero boa educação. Isso exigo. Ainda bem que já só falta uma semana. Porque da próxima que encontrasse algum daqueles trambolhos por aqui, iria fazer questão de dizer "olá querida!!!Hum....Vejo que ganhou uns quilinhos....comidinha ucraniana hein???"
Amor com amor se paga.

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