Histórias de uma portuga em movimento.
27
Mai 09
publicado por parislasvegas, às 08:22link do post | comentar

 Já passei por muitas fases desde que saí de Portugal: a fase em que acompanhava tudo o que se passava no país e que tinha saudades loucas de casa, a fase em que não queria saber de nada e não sentia falta nenhuma, a fase em que queria saber, mas ficava enojada com tanto disparate e a fase do optimismo estúpido em que tudo o que era português era bom.

 

Ou seja, dentro ou fora, continuo uma portuga típica, com sentimentos esquizofrénicos em relação ao meu país e aos meus conterrâneos.

 

A minha prima diz-me que o meu maior problema de cabeça é o relacionamento que tenho com Portugal, eu tento explicar-lhe que ela, enquanto italiana, nunca conseguirá perceber a maluquice da portugalidade. 

 

Agora ando numa fase de acompanhar tudo o que se passa, mas a esforçar-me por não fazer juízos de valor. No entanto, isto é demais para mim. Aliás, acho que é demasiado até para 10 milhões aguentarem em colectivo.

Só na última semana, os chorrilhos de asneiras nos telejornais, no parlamento, nos debates, na campanha eleitoral, a piroseira dos Globos d'Ouro e, last but not least, o caso da Alexandra, têm-me feito contorcer de dores na alma.

 

E depois, isto da internet é tudo muito bonito, especialmente porque é democrático e permite que qualquer imbecil opine em qualquer lado (eu incluída). É alucinante a quantidade de comentários nos sites dos jornais nacionais de grande tiragem que são boçais, ordinários, mal escritos ou simplesmente idiotas.

 

Este fenómeno não é português, é global, a estupidez humana não é exclusivo nosso, muito embora às vezes pareça que nos doutorámos em parvoíce, com tese em imbecilidade colectiva. Quanto um diz mata, há logo vinte comentários a seguir que dizem esfola e com erros de ortografia e gramática.

Palavra d'honra que às vezes, por muito que me esforce a ler determinados posts ou comentários não consigo perceber o que a pessoa quer dizer, tal não é a algarviada.

No fundo, quem não consegue falar ou escrever em condições também não consegue pensar, e isto não só um problema de educação nacional. Os meus bisavós eram iletrados e falavam bem, com clareza e lógica. 

 

Mas que porra, e eu que tinha prometido a mim mesma não me chatear mais com isto.

 


Presumo que sua prima lhe possa ensinar algo, na qualidade de italiana deve ser catedrática em separar a própria vida da colectiva porcaria.
Fulano a 27 de Maio de 2009 às 12:10

Concordo consigo, os italianos conseguem separar-se da mediocridade intelectual da classe dirigente, enquanto nós parece que somos todos arrastados para a lama da mediocridade. Mas como boa portuguesa, aprender seja o que fôr, é-me extremamente difícil ;)
parislasvegas a 27 de Maio de 2009 às 13:51

Amiga, nós por cá sobrevivemos vendo apenas a rtp2 e os canais de cabo que dão séries e filmes: AXN, Fox, etc... A malta tenta filtrar toda a informação: casos Esmeralda, Alexandra, Maria Jaquina, Alfreda Vanessa e afins, tentamos não aprofundar, tás a ver... É que vivemos num país dividido ao meio, aquele que existe e ninguém gosta; e aquele qie cada um quer que seja e não faz nada para mudar.
Quanto iliteracia, vivo com ela todos os dias: as vestorias fazem parte do meu dia a dia, mas ao menos divirto-me com a cara que as pessoas fazem quando digo "vistoria"... é que véstoria vem do vér...; amostrar casas também, por isso...
D. a 27 de Maio de 2009 às 14:16

Pois tem que ser, senão uma pessoa também fica maluquinha. Para ser muito honesta também não sei o que raio se pode fazer para melhorar isso. Se uma pessoa corrige os outros é uma snob, se tem brio profissional está armada em boa, se ajuda os pobres está a fazer "caridadezinha", se aponta soluções práticas para problemas concretos, tem a mania que manda. Porra de sítio mais difícil senhores! É mau feitio genético é o que é.
E a verdade é que, apesar de tudo isso, continuo a achar que é uma pena um povo com tantas qualidades ter tantos defeitos. Porque somos mais limpos do que maior parte dos europeus, mais simpáticos, mais solidários e, ao contrário do que todos pensam, muitíssimo trabalhadores. Não percebo como é que chegámos tão perto do fundo do poço.
parislasvegas a 27 de Maio de 2009 às 14:34

Após o 25 de Abril e minimamente arrumada a casa poucos de nós usufrímos, ou melhor usufruiram, à grande de todos os apoios comunitários. Pensámos que éramos um país com mais formação e afinal só tínhamos era uma série de jardineiros com cursos profissioniais de cabelereira e esteticista. Julgámos quer éramos um país de primeiro mundo e gastámos à grande. Enquanto não nos mentalizarmos de que para ganharmos bem é preciso estudar, qualificar os trabalhadores e empenharmo-nos naquilo que fazemos não vamos lá... Continuamos a viver de aparências, o zé-povinho e os políticos, sem nos apercebermos que em vez de estarmos a bordo do famoso comboio europeu, continuamos à porta da estação a de mão estendida a pedir esmola.

Mas sou como tu, acho que somos um povo com imensas qualidades, só que raramente nos lembramos de as aplicar e, principalmente, precisamos de reivindicar direitos e cumprir os nossos deveres e muito muito de respeitar os outros... Quando chegarmos a esse ponto, já seremos uns "quexidos".
D. a 27 de Maio de 2009 às 21:05

Right on! não poderia ter dito melhor!

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