Palavra d’honra que foi o que mais me irritou quando cá cheguei. Imaginem-se caídos num bucaro pós-soviético em pleno inverno. Desolaçao completa, tudo branco e escorregadio (e por mais que se tente, nós, portugas, sabemos nadar, mas não sabemos patinar) árvores nuas, a noite a cair às 3 da tarde, 17 graus negativos. E os corvos, passeando-se na cidade deserta e gelada, como verdadeiros Reis do Inverno - grandes, negros, irritantes.
Todo o santo dia os cabrões dos corvos resolviam fazer-me uma senerata à varanda. Começavam por volta das 7 da manhã e berravam desalmadamente até ao cair da noite.
Tentei enxotá-los, mas sem resultado. Os corvos não têm medo de nada.
Passado uns meses entraram-me nos sonhos. Quase todas as noites, fosse qual fosse o tema do sonho, lá estava um sacana dum corvo. Assim como quem não quer a coisa, misturado com o resto do cenário.
Veio a Primavera e os corvos foram à sua vida de pássaro, despovoando-me a varanda e a cabeça.
Por outras razões, mudei de casa. Mas, este inverno, continuo a olhar com um certo alívio a minha nova varanda vazia de corvos.