Histórias de uma portuga em movimento.
12
Jul 04
publicado por parislasvegas, às 05:21link do post | comentar
Durante quase dois anos, disse e acreditei piamente que o grande responsável pela minha insatisfação permanente era este país. Primeiro com a desculpa de que não dominava bem a língua, depois com a desculpa que não conhecia os "esquemas", finalmente com nenhuma desculpa, já dizia apenas que não conseguia gostar disto, por muito que tentasse. Inventei a desculpa do choque cultural, porque é sempre mais fácil responsabilizar aquilo que está à nossa volta e não tomarmos firmemente o leme da nossa vida porque o que corre mal, nunca depende de nós.
Até que enfim, parece-me que ando a acordar. A acordar para ver que tenho de mudar as minhas atitudes em relação aos outros. Tenho que deixar de ter a mania que sou santinha ou budista ou seja o que fôr e começar a cuspir na cara dos outros, em vez de oferecer a outra face.
A acordar para me aperceber que quem tem a exclusiva responsabilidade da minha insatisfação sou eu. Que levo tudo com demasiada seriedade, que tenho a mania que sou suiça e que tudo tem que funcionar na perfeição. Que me irrito todos os dias porque nada funciona, que me irrito todos os dias porque odeio o que faço e não consigo deixar de ser perfeccionista mesmo odiando o meu trabalho.
Parece-me que ando a acordar...Não sei ainda como reagir a este despertar, nem como organizar um eu novo. Uma nova eu que descontraia, uma nova eu que se limite a ficar feliz e a reconhecer que não pode consertar o mundo.

publicado por parislasvegas, às 01:10link do post | comentar


Escrevo hoje sobre moleza, a moleza típica eslava, muito parecida com a alentejana. Faço a comparação entre as duas porque me parecem ser ambas provocadas por condições climatéricas. Durante os longos meses de inverno, a combinação do frio com o cinzento dos céus, a falta de luz e a baixa pressão atmosférica é a receita perfeita para deixar qualquer ser humano em coma profundo.
Mesmo quem nunca viveu noutro sítio tem dificuldade em manter os olhos abertos durante esses gélidos meses, durante os quais deveríamos hibernar que nem uns ursos, mas, como humanos estúpidos que somos, continuamos a insistir em vencer os elementos e contrariar a natureza e lá temos que andar a trabalhar e a circular nas ruas como se estivéssemos em plena primavera.
O pior é que essa tal de pressão atmosférica tem-se mantido baixa durante a primavera e o início do verão. O resultado é devastador: todo o mundo com roupa alegre e cara de zombi. Pois é, o mesmo ambiente psicológico que no inverno e absolutamente ninguém com vontade de se mexer. A moleza atacou a cidade em força.
Para mim, este inverno representou um longo mergulho em água gelada. Durante 8 meses tentei, desesperadamente, manter a cabeça à tona d'água. A chegada da primavera vale como uma espécie de ressureição colectiva, um degelo também da alma. Mas este ano saiu-nos tudo ao contrário.
Para além da influência do clima, que não ajuda à boa disposição dos nativos, a situação económica e política aqui 'tá péssima. É muito bonito queixarmo-nos de Portugal quando não há termo de comparação (pelo menos para pior..).
O pão aumentou 300% nos últimos meses e a gasolina já sofreu mais aumentos aqui do que em Portugal. Para um país onde o ordenado médio são 70 euros por mês, andamos mal...Para não me alargar em considerações sobre a política local, imaginem-se apenas governados por uma equipe cheia de Pintos da Costa e Valentins Loureiros (estão a ver a cena?).
Pois imaginem-se também a ganhar os tais 70 euros, ter que sobreviver com uns preços muito próximos aos portugueses, morar numa metade minúscula de um apartamento minúsculo e ter como única actividade lúdica a ingestão de alcóol na via pública.
Pois se não fosse esta sacana desta moleza, acho que teríamos tido uma revolução nesta primavera.

09
Jul 04
publicado por parislasvegas, às 02:43link do post | comentar
Esta semana recebi um mail cujo título dizia "Comemorações dos 10 anos de licenciatura". E eu pensei: "naaa, devem estar a gozar comigo. Dez anos? Não é possível..." Lá fiz as contas, e realmente é verdade...
Assim à queima-roupa senti-me velha. Principalmente quando começei a verificar os endereços dos colegas e cheguei à conclusão que não me lembro das caras de 50% da ex-turma. Também não posso dizer que tenha sido muito social na Faculdade. Uma das minhas alcunhas era mesmo "bicho do mato". Hoje, à distância, vejo que não foi a melhor opção. Mas na altura eu tinha muito pouco em comum com a maioria das pessoas e o ambiente pareceu-me demasiado competitivo e agressivo. Eu quando não gosto de algo, retiro-me. Como já disse, sou super não-conflituosa. Até demais. Hoje em dia mantenho algumas preciosas amizades dessa altura. Algumas delas feitas depois de acabar o curso!
Após alguma reflexão (não muito demorada, que não tenho tempo para mariquices) pareceu-me que de qualquer modo a partir dos 30 começamos a medir tudo em décadas. Logo não há necessidade de me sentir velha por uma efeméride destas!
Tenho pena que já tenham passado 10 anos desde que se acabou a minha boa vida, mas tenho um balanço tão positivo destes anos que acaba por compensar a sensação que já passei a jarreta.
E depois também se diz que com a idade vamos ficando mais experientes e bla bla bla. Eu não quero saber dessa conversa. Ainda ando a tentar equilibrar o meu lado infantil com as minhas responsabilidades de adulta. E para dizer a verdade, não quero que isso mude. Embora me torne a vida mais difícil, a verdade é que eu não quero crescer. Quero guardar os meus entusiasmos, as minhas excitações com novas descobertas. Quero continuar a dispôr de uma parte do meu tempo para as minhas divagações malucas. Seja a estudar a cartografia medieval chinesa ou a tratar das minhas orquídeas, quero manter a sanidade de ser menina quando me apetece.

08
Jul 04
publicado por parislasvegas, às 07:41link do post | comentar
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Magritte



Sou sua noite, sou seu quarto
Se você quiser dormir
Eu me despeço
Eu em pedaços
Como um silêncio ao contrário
Enquanto espero
Escrevo uns versos
Depois rasgo

Sou seu fado, sou seu bardo
Se você quiser ouvir
O seu eunuco, o seu soprano
Um seu arauto
Eu sou o sol da sua noite em claro,
Um rádio
Eu sou pelo avesso sua pele,
O seu casaco
Se você vai sair
O seu asfalto
Se você vai sair
Eu chovo
Sobre o seu cabelo pelo seu itenerário
Sou eu o seu paradeiro
Em uns versos que eu escrevo
Depois rasgo
E depois rasgo

-Adriana Calcanhoto


Obrigado por me aturares meu amor.

publicado por parislasvegas, às 07:40link do post | comentar
QUE DIA DE CÃO.....

07
Jul 04
publicado por parislasvegas, às 03:00link do post | comentar
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Arpad Szenes

publicado por parislasvegas, às 01:56link do post | comentar
Mar, metade da minha alma é feita de maresia
Pois é pela mesma inquetação e nostalgia
Que há no vasto clamor da maré cheia,
Que nunca nenhum bem me satisfez
E é porque as tuas ondas desfeitas pela areia
Mais fortes se levantam outra vez,
Que após cada queda caminho para a vida,
Por uma nova ilusão entontecida

E se vou dizendo aos astros o meu mal
É porque também tu revoltado e teatral
Fazes soar a tua dor pelas alturas.
E se antes de tudo odeio e fujo
O que é impuro, profano e sujo,
É só porque as tuas ondas são puras.

Sophia de Mello Breyner Andersen in Poesia I

06
Jul 04
publicado por parislasvegas, às 01:27link do post | comentar
Os portugueses conseguem continuar a espantar-me. Que raio de povo o nosso. Tão bons para o exterior e tão mauzinhos para nós próprios.

Ontem um dos nossos amigos gregos dizia-nos que, na final do EURO, a euforia grega o tinha, obviamente, contagiado, mas confessava que a única coisa que lhe tinha deixado "um espinho no coração" foi a cara desiludida do Eusébio. "O melhor jogador europeu de todos os tempos". "Como é que um tipo pode estar ali contente, se o nosso ídolo está quase a desfazer-se em lágrimas?". Gostei.
Os gregos ficaram alucinados com o facto de terem ido festejar para as ruas e os portugueses se terem juntado à festa. Nós somos assim, de quando em vez até somos capazes de ser simpáticos (pelo menos para quem vem de fora). Parabéns portugueses.

Outro espanto para mim, foram as declarações do nosso PR falando aos jogadores da selecção. É incrível como um discurso de incentivo pode emocionar tanto um chefe de Estado. Será pela desgraça em que o país se encontra actualmente? Seja como for, não são apenas os nossos rapazes que precisam de palavras motivantes e confortantes. Neste momento, toda a nação precisava de agarrar no espírito de trabalho e organização com que se fez o EURO e começar a funcionar assim no dia-a-dia. Mas isso é sonhar ainda mais alto do que o tal sonho que impulsionou os nossos rapazes....

O terceiro espanto de ontem foi a entrevista do PSL à RTP. Pois. É verdade que não há crise nenhuma, é verdade que o PSL é bem capaz de ser o único disposto a ocupar o cargo (dentro do PSD, quero eu dizer) e é verdade que esta situação já se repetiu outras vezes na história da nossa curta democracia (embora não nas mesmas circunstâncias), tendo sido sempre encontradas soluções de estabilidade e continuidade política. Por isso, racionalmente não tenho argumentos para contrariar o que se passa em Portugal. Calculo que a decisão do nosso PR seja no sentido de manter o PSD no poder. Não quer dizer que goste...Mas o que me espanta mesmo é a segurança com que PSL se apresenta, já na pele de PM, já falando em continuidade de políticas (alguém ainda tem furos no cinto para apertar?) e em escolha de equipas.
Onde anda a nossa esquerda?


05
Jul 04
publicado por parislasvegas, às 00:02link do post | comentar
Ontem, em vez de poder reunir os amigos todos lá em casa, incluíndo os Gregos, que queriam ver o jogo em conjunto, e beber um copo tranquilamente acompanhando o futebol com os palavrões e disparates do costume, lá tive que "fazer o meu papel" e encher a casa de gente de cerimónias, alguns dos quais eu nem sequer conhecia.
Foi uma merda e ainda por cima perdemos.
E depois a educação de alguns portugueses deixa muito a desejar. A educação e a porra da dor de cotovelo. Imaginem que tinham de ir ao escritório da vossa companhia em Londres ou num sítio qualquer e que os portugueses lá vos tinham convidado para ver o jogo e jantar. O que vocês faziam se aceitassem?
Espero, ao contrário do que me aconteceu a mim, que ao menos agradecessem o jantar ao anfitrião.
Perdemos imenso tempo a organizar tudo, gastámos uma pipa de massa a contratar pessoas para servir (eu queria era ver o jogo..) e, não é para me gabar, mas esteve tudo impecável.
A minha estupefação começou quando um dos convidados entrou lá em casa e nem sequer me cumprimentou. Claro que tive logo vontade de ir direitinha ao senhor e pedir-lhe, muito educadamente, que se pusesse na alheta. Passou uma parte do jantar a reparar em tudo, do estilo: "já viu que os seus empregados estão a servir o vinho primeiro aos homens?" e coisas do género. Pois perdão, mas V.Ex.a não reparou que isto era suposto ser um jantar informal? Estamos aqui a ver a bola, não a receber o Presidente da República! E ainda por cima o tipo nunca me tinha visto mais gorda! É preciso ter uma real latósia para fazer coisas destas. No fim de ter comido e bebido, saiu lá de casa e nem um "boa noite", quanto mais um "obrigado".
Não entendo as secretas motivações que levam as pessoas a ser mal-educadas e estafermas em resposta à simpatia dos outros. Como dizia o outro: Quanto mais conheços os humanos, mais gosto dos meus cães!

publicado por parislasvegas, às 00:02link do post | comentar
Bom, paciência. Foi bom enquanto durou. Agora vamos lá ver o país acordar desse "sonho". O pior mesmo vai ser a ressaca.
De qualquer maneira, parabéns aos nossos rapazes. Só tive pena mesmo que o Rui Costa não tivesse conseguido o grande sonho de abandonar a selecção enquanto campeão europeu, mas temos de reconhecer que já foi muito bom chegar à final.

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