Histórias de uma portuga em movimento.
26
Nov 04
publicado por parislasvegas, às 03:30link do post | comentar
Alguns factos sobre a Ucrânia, que podem ajudar melhor a enquadrar a confusão:

1991Referendo sobre a Independência - mais de 90% dos Ucranianos escolheram separar-se da Rússia e formar um país independente. Leonid Kravchuk, ex-Presidente do Soviet Supremo da Ucrânia, torna-se Presidente da nova nação.

1994Leonid Kuchma demite-se do cargo de Primeiro-Ministro para ser nomeado Presidente. (Kuchma também era membro do Soviet Supremo)

1996É adoptada uma nova Constituição e uma nova moeda (Grivna).

1999Leonid Kuchma é eleito para um segundo mandato como Presidente da Ucrânia

2000Georgy Gongadze, jornalista de origem georgiana, altamente crítico da Presidência e do Governo, é raptado e assassinado em circunstâncias não esclarecidas até hoje.

2001São descobertas cassetes audio, contendo gravações supostamente de uma conversa de Kuchma com os seus assessores decorrida no ano anterior. Nessa conversa, o Presidente dava autorização à venda de um sistema de radares para o Iraque e pedia que "tratassem" de Gongadze.

O Primeiro-Ministro Viktor Yushchenko (agora líder da oposição) é demitido na sequência de um voto de não-confiança por parte do Parlamento.

2002Eleições legislativas. Viktor Yushchenko não consegue maioria Parlamentar. Vários partidos da oposição denunciam fraude eleitoral. Milhares de pessoas saem à rua na capital pedindo a demissão do Presidente Kuchma.
Kuchma, mais uma vez, demite o Primeiro-Ministro e nomeia Viktor Yanukovich para o cargo.

2003
Presidente Kuchma tenta passar projecto de revisão constitucional no Parlamento. Poderes do Presidente, passariam a estar concentrados no Primeiro-Ministro. Oposição acusa Kuchma de querer "empurrar" Yanukovich para a Presidência para que ele próprio possa assumir o cargo de Primeiro-Ministro.

Revisão Constitucional é chumbada no Parlamento

Tribunal Constitucional emite um Acordão, segundo o qual Kuchma terá direito a candidatar-se a um terceiro mandato presidencial.

2004
Kuchma decide não avançar com candidatura. Declara o seu apoio ao Primeiro-Ministro e candidato à presidência Viktor Yanukovich.

1 de Nov. 24 candidatos concorrem à primeira volta das eleições presidenciais.
Segundo os resultados oficiais, Yushchenko ficou à frente nesta primeira volta. Nenhum dos candidatos atingiu a barreira dos 50% dos votos, pelo que foi anunciada uma segunda volta das eleições.

Três dos outros candidatos apelaram aos seus votantes para que apoiassem Yushchenko na segunda volta. Oleksadr Moroz, presidente do Partido Socialista (4.9% na primeira volta), Oleksandr Omelchenko, presidente da Câmara de Kiev e Anatoly Kinax, presidente do partido dos empresários e industriais da Ucrânia.

Partido Comunista da Ucrânia apela aos voto na opção "contra os todos os candidatos".

21 Nov. Segunda volta das eleições. Sondagens à boca das urnas indicam vitória de Yushchenko. Projecções oficiais indicam que Yushchenko ganhou na maioria das regiões da Ucrânia.

22 Nov. Primeiros resultados oficiais são divulgados. A vitória é quase certa para Viktor Yanukovich. Milhares de pessoas acorrem ao centro da cidade, protestando contra a alegada falsificação das eleições.

23 Nov. Kiev e Lviv, as duas maiores cidades da Ucrânia declaram desobediência civil durante a sessão das assembleias municipais. Outras cidades se seguem. Presidentes das câmaras recusam-se a reconhecer outro presidente que não Yushchenko. Governadores de Província são demitidos à revelia.

e o resto vocês já sabem mais ou menos, não é?
Mais:


Ucrânia
População:48 Milhões
Tipo de Governo: República
Capital: Kiev
Independência: 24 de Agosto de 1991
Indústria: carvão, energia eléctrica, metalurgia, maquinaria e equipamentos de transporte, químicos, comida (produção de açucar)
PIB:260.4 biliões de dólares
Desemprego:3.7% - taxa oficial.
População abaixo do nível de pobreza: 29%
Esperança de vida: homens 61 anos. Mulheres 72 anos
Línguas: Ucraniano, Russo, Romeno, Polaco e Húngaro
Grupos Étnicos: Ucranianos 77.8%, Russos 17.3%, Bielorussos 0.6%, Moldavos 0.5%, Tártaros da Crimeia 0.5%, Búlgaros 0.4%, Húngaros 0.3%, Romenos 0.3%, Polacos 0.3%, Judeus 0.2%, outros 1.8%
Religiões: Ordotoxos (patriarcado de Moscovo) - 26.5%; Ordotoxos (patriarcado de Kiev) 20%; Católicos Ucranianos (de rito ortodoxo) 13% - restantes: Igreja Ortodoxa Autocéfala; Protestantes e Judeus

publicado por parislasvegas, às 01:56link do post | comentar
Enquanto espero por imagens de hoje, aqui fica um roteiro ilustrado dos últimos dias:


Praça da Independência - Ontem calculavam-se 200.000 manifestantes
Este é o tal Senhor Yushchenko - Sim, é verdade, o gajo dos bigodes é o Lech Walensa.



Viktor Yanukovich, Primeiro-Ministro e vencedor "oficial" das eleiçõesApoiantes do Sr. Yanukovich, ontem num complexo fabril em Donetsk.
Pelo ar de "entusiasmo", não dá pra perceber se estão apenas preocupados com a situação ou se alguém os obrigou a estar ali...



publicado por parislasvegas, às 01:34link do post | comentar
Ontem o Supremo Tribunal da Ucrânia proibiu a publicação dos resultados definitivos das eleições enquanto não forem analisadas todas as queixas da oposição quanto às supostas falsificações antes e durante a votação.
Um parte da polícia já declarou o seu apoio ao povo que está nas ruas. Esta parte é nublosa porque, pelo que me parece, foi a polícia regular que aderiu ao movimento (talvez toda, talvez parte, não sei bem ainda), mas a polícia anti-motim ainda continua no seu posto com ar de poucos amigos. Os militares declararam ontem, a vários canais de televisão, que não avançarão contra o seu próprio povo (uf, com esta já fiquei mais descansada...).
O Solana e o Presidente da Polónia vêm os dois a caminho para ver se sentam estes gajos à mesa para se resolver a situação. Mas o que me parece agora é que a oposição, vendo o poder que tem nas mãos, e os milhares de pessoas que conseguiu mobilizar até agora, não deve estar com muita disposição para negociar. Deve ser mais do estilo: "passa mas é o poder aqui prás mãos, se faz favor e não se armem em parvos, senão vai tudo pró exilio que é uma beleza"
Num dos canais estatais de televisão, a redacção de informação passou-se toda, em massa, para o lado do Ishchenko. E agora, em maior parte dos canais, só se vê gente vestida de côr de laranja a falar.
A oposição já montou uma "junta de salvação nacional" (o que é que isto me faz lembrar?????) e tentam organizar o povo a partir da praça principal, para bloqueios aos edifícios estatais. Há alguns edifícios municipais que estão a servir de dormitório colectivo, hospitais de campanha improvisados em tendas no centro da cidade e refeitórios colectivos com voluntários a trabalhar para "ajudar o povo".
Para um espectador estrangeiro é intigrante como tipos que se batem por um país democrático, pela liberdade de expressão e por uma série de direitos civis (que já existem, mas até agora não passaram do papel) utilizam métodos decalcados dos levantamentos marxistas do século XIX. É giro ver que alguma "cultura de subvelação" lhes ficou....
Devo dizer que já estou um pouco mais optimista do que nos dias anteriores. Parece-me que, neste momento, a coisa já se tornou demasiado grande para ser abafada - mesmo com violência. Como sempre, repito a frase que se tem tornado popular neste blogue nos últimos dias: vamos lá ver o que isto dá....


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