Histórias de uma portuga em movimento.
11
Nov 04
publicado por parislasvegas, às 06:51link do post | comentar




Corpo de linho
lábios de mosto
meu corpo lindo
meu fogo posto.
Eira de milho
luar de Agosto
quem faz um filho
fá-lo por gosto.
É milho-rei
milho vermelho
cravo de carne
bago de amor
filho de um rei
que sendo velho
volta a nascer
quando há calor.
Minha palavra dita à luz do sol nascente
meu madrigal de madrugada
amor amor amor amor amor presente
em cada espiga desfolhada.
Minha raiz de pinho verde
meu céu azul tocando a serra
oh minha água e minha sede
oh mar ao sul da minha terra.
É trigo loiro
é além tejo
o meu país
neste momento
o sol o queima
o vento o beija
seara louca em movimento.
Minha palavra dita à luz do sol nascente
meu madrigal de madrugada
amor amor amor amor amor presente
em cada espiga desfolhada.
Olhos de amêndoa
cisterna escura
onde se alpendra
a desventura.
Moira escondida
moira encantada
lenda perdida
lenda encontrada.
Oh minha terra
minha aventura
casca de noz
desamparada.
Oh minha terra
minha lonjura
por mim perdida
por mim achada.


Ary dos Santos


Nunca consegui gostar da D.Simone, mas adoro este poema, e acho a canção linda. O Ary tinha destas coisas, uma escrita linda, sentida, muito feminina. Não é um "poeta da minha geração", mas diz-me muito. Devo dizer que de poesia gosto de quase tudo. Só não aguento os românticos, esses são muito "pão com açucar" para mim. Gosto muito deste tipo de coisas que se escreviam em Portugal - muito limpas, fáceis de entender e profundas ao mesmo tempo. Agora, vivo, só temos o Manuel Alegre - único representante desta geração de gente admirável. Já tenho saudades de poesia assim...

09
Nov 04
publicado por parislasvegas, às 07:33link do post | comentar
Uau! Até que enfim consigo entrar aqui pela porta da frente. Depois de algumas horas hoje completamente cortada do mundo, surpreendentemente começou tudo a funcionar. Deve ser alguma força mística que aqui temos no escritório. Tenho cá a sensação que temos de mandar vir um padre para exorcisar a xafarica. Vejam bem vocês que durante cerca de 5 horas hoje nada funcionou. Nem telefones, nem faxes, nem computadores, nem merda nenhuma. Ora isto só seria logicamente possível se tivessemos esta parafernália toda ligada à mesma linha, coisa que, obviamente, não acontece. Como é possível que várias linhas diferentes falhem todas, durante o mesmo espaço de tempo? E, igualmente, como é possível que, num bloco de mais de 150 escritórios, só aconteça tal desgraça ao nosso? Ou bem que temos um potelgueist residente ou já me ando a irritar com a puta da brincadeira.
Aqui o problema maior é o facto

08
Nov 04
publicado por parislasvegas, às 08:28link do post | comentar
Chegou o Inverno e, para não variar, esta cidade está cheia de corvos. Só que desta vez eu não tenho varanda para o raio dos bichos se instalarem, de modo que tenho um jardim povoado daquelas criaturas horrorosas. Cada vez que um bando de corvos se instala no jardim, os cães entram em alucinação total o que provoca um caos considerável, porque nas tentativas de perseguição lá se vão mais um metros quadrados de relva e há terra espalhada por todo o lado. A Shar Pei que é muito querida, coitadinha, mas um coche lerda, a meio das perseguições já se esqueceu do que estava a fazer e distrai-se com a terra que ela própria levanta durante a correria. Vai daí, decide deixar de tentar apanhar os cabrões dos corvos e começa a escavar alegremente (é mesmo monga!), destruíndo o que resta do jardim. O pior mesmo é quando ela entra em casa, espalhando terra negra por tudo quanto é sítio e insistindo em vir dar beijinhos ao pessoal com o fochinho empastado daquela merda.
A Angie nem sequer tenta. O raio do cão é muito inteligente mesmo. Sabe perfeitamente que não tem hipóteses contra uma criatura alada, por isso - para quê correr? Em vez disso torra a nossa paciência ( a nossa sim, porque os corvos estão-se bem a cagar para isso) com ladradelas intermináveis para ver se os espanta. Também é monga, menos do que a outra, mas é. Toda a gente sabe que os corvos não têm medo de absolutamente nada, muito menos de um cão gordo que não consegue correr, quanto mais voar.
Eu, por minha parte, começo seriamente a considerar a hipótese de comprar uma daquelas pistolitas de pressão de ar. Pelo tamanho dos animais, não vou conseguir matar nenhum - que me perdoem os ecologistas, eu gosto muito de bichos, mas aqueles irritam-me, o que hei-de fazer? - mas pelo menos já dá para fazer estragos. E da próxima vez que tiver gente chata em casa sempre posso servir "Caça à Portuguesa" e dizer que são Pombos....
Ps - para perceber melhor este raio desta posta, aconselho uma visita aqui aos arquivos da casa em http://poucosozinho.blogspot.com/2004/05/corvos.html#comments

publicado por parislasvegas, às 03:11link do post | comentar
Isto anda tudo marado! Passou-se o fim de semana entre manifestações políticas (segunda volta das eleições....) e a porcaria das obrigações sociais que se criam quando se tem esta profissão. Juro que quando me reformar só vai entar em minha em casa QUEM EU QUERO E QUEM EU GOSTO. Maior parte das vezes nem é difícil fazer o número, mas às vezes encontra-se MESMO gente muito, mas muito chata. Tipo "nurd" - estão a ver? que não são capazes de falar de nada que não seja assunto profissional e que adoram ouvir-se a si próprios. Mas pronto, são ossos do ofício, não há forma de escapar. Por vezes o que mais me incomoda é não ter um minuto que seja "privado", não poder dizer "este sábado só faço o que me apetecer". O que acaba por ser irónico: não tenho filhos, em parte porque não quero perder a minha liberdade e depois, de qualquer modo, não a tenho por razões profissionais. Bem feito!
Mas não era nada disto que eu queria dizer aqui hoje. Queria dizer, que para além dos meus telefones, que não funcionam (pelos vistos) até a única maneira de entar no blogger foi um esquema paralelo que eu descobri, porque pela porta da frente não entro nem que me desunhe. Tenho cá a sensação que estes tipos fecharam o acesso aos blogues, pelo menos até à data da segunda volta das presidenciais. Por muito que eu ponha o meu user e a minha password, aparece-me sempre o mesmo écran a pedir os dados novamente. Tive a mesma experiência em Pequim, mas aí eu já sabia que o acesso ao blogger era impossível, tentei mesmo só para ter experiência prática da coisa.
E neste ambiente saudável e transparente, só nos faltava mesmo a bombita da ordem para animar a malta. A dita cuja logo foi explodir mesmo em frente à casa de um amigo nosso (que se salvou de ser transformado em hamburger porque o cão mijou mais depressa do que o habitual). Sabemos que foi um carro armadilhado, sem matrícula, que estava estacionado em frente ao edifício e calculamos a quem foi destinada. É impressionante a forma como a censura funciona nesta terra. Uma bomba destrói parte de uma das ruas mais frequentadas da cidade e nem uma palavra nos órgãos de comunicação social. A explosão foi na madrugada de sábado, nós estivémos lá no Domingo, a apreciar os estragos (é mesmo de quem não tem nada que fazer...) e a recolher informações (se a montanha não vai a Maomé...). Belo final de dia para um Domingo....
Continuando com experiências surreais - e até já me tinha esquecido como esta terra é fértil nesse tipo de encontros - começo a segunda-feira com uma reunião sui generis com uma viúva mal-reciclada dos tempos soviéticos. Esta senhora, que eu tenciono ajudar como puder, pegou na quixotesca tarefa de ensinar português aos jovens, sem qualquer tipo de apoio, seja ele local ou de Portugal. Não sei o que raio motiva alguém a passar 40 anos da sua vida a bater com a cabeça na parede para divulgar a nossa língua na União Soviética, mas gostei de conhecer tal personagem, tão invulgar, com um amor desmesurado por Camões, de quem sabe versos de côr, e com obra vastamente publicada na Rússia (diversas traduções de poesia portuguesa e espanhola). Como não temos nem dinheiro, nem estruturas que possam apoiar este tipo de pessoas, o que faço geralmente, é tirar dinheiro do meu próprio bolso para financiar compras de livros portugueses e vários outros materiais que ofereço depois em nome do nosso Governo. Por enquanto, lá foi a senhora toda contente com uma resma alucinante de jornais e revistas antigas. Pelo menos, as turmas do liceu onde ela ensina terão textos em português "real" para analisar.
Por enquanto, esta semana promete....

03
Nov 04
publicado por parislasvegas, às 05:59link do post | comentar
Querido Diário,Os meus humanos são loucos! Já não chegava andarmos sempre a mudar de casa, mais os dias que eles me deixam aqui sozinha com a estúpida da Shar Pei, agora resolveram mudar-me tudo dentro de casa! A real lata! Agora não sei o que hei-de fazer à minha vida, os cheiros são todos diferentes, nada está como antes. Socorro!Mas eu vigo-me. Ó lá se me vingo! Já comecei as retaliações: a minha vítima já está escolhida. Há uma coisa rectangular vermelha que me parece que eles gostam muito. Pois essa tem levado com um duche de xixi todos os dias! eh eh eh. Claro que todos os dias de manhã vou logo de castigo, mas não me importo. É da maneira que fico furiosa para o resto do dia e aproveito para lixar a cabeça à outra. Isso é outra coisa que eu não percebo. Não lhes bastava já um cão? Eu, modéstia à parte, sou muito mais gira do que ela. Não me agrada nada ter partilhar os meus humanos com aquela Shar Pei desajeitada com a mania que sabe Kung Fu. Ainda não consegui entender por que raio tiveram eles que ir a correr e meter outro cão nesta casa. Mas há coisas que só eu faço aqui. A Shar Pei não me pode fazer concorrência. Imagina, querido diário, que ela nem sequer gosta de cerveja! Todo o bom Bulldog sabe que os humanos detestam beber sozinhos. Fomos criados para acompanhar os nossos bípedes em tudo (toda a gente sabe que eles, coitados, não sobrevivem sem nós) - até na cerveja e no Whisky. Não consigo entender como que há raças caninas que ainda não descobriram as maravilhas do alcóol. Também não percebo lá muito bem porque é que os meus humanos não gostam que eu beba. Egoístas! querem tudo só para eles. Estão muito mal habituados - têm a mania que são donos de tudo- é o que é.Eu quero a minha casinha como estava. Por isso, vou continuar com as minhas acções de protesto - xixi onde for preciso - Bulldogs do mundo: Uni-vos! a Vitória é nossa!

02
Nov 04
publicado por parislasvegas, às 01:38link do post | comentar
Este fim-de-semana foi cómico para dizer o mínimo. Como tive receio que isto entrasse MESMO em estado de sítio e que os aeroportos fechassem e coisas do género, acabámos por não sair daqui. Até porque recebemos um carregamento fresquinho de móveis e tivémos que redecorar a casa toda, andar a limpar e essas coisas que toda a gente tem que fazer, mas que ninguém gosta assim muito.
No meio da confusão desta "mudança", os amigos e colegas iam entrando e saindo, trazendo novidades da situação que se vivia nas ruas, enquanto nós mantínhamos a TV acessa para ver se a coisa estava dentro de controlo ou não. Bem, tudo se passou calmamente e não houve problemas por enquanto. Os dois principais candidatos lá anunciaram vitória, numa daquelas situações rídiculas que se vivem em eleições de todo o mundo. Fez-me lembrar os anos 80 em Portugal em que o PC vinha sempre declarar grandes vitórias no final de cada escrutínio, mas sem nunca ter ganho uma eleição que fosse. Agora esperamos pacientemente pela segunda volta. Espero que tudo corra tão calmamente como a primeira, mas não posso ignorar que o cenário é volátil e a situação ainda pode explodir.
O fim-de-semana deu azo a discussões surrealistas nos canais de TV - por exemplo: não existem comentadores políticos. No dia das eleições não havia uma alminha de um partido político que se visse na TV. Só o porta-voz do candidato apoiado pelo Putin é que teve ordem de aparecer. Os canais resolvem o problema como podem, até ASTRÓLOGOS foram usados para comentar a situação política!
No Sábado um amigo nosso ficou bastante enervado com uns senhores (três para ser precisa) que se instalaram com uma carrinha enorme, quase à nossa porta, bloqueando por completo a nossa rua. Claro que ficou convencido que os senhores estavam ali para controlar quem saia e entrava e- quem sabe? - que a carrinha servia o propósito de escutar o que se passava dentro da nossa casa. Talvez sim, talvez não.
Podiam estar ali plantados, numa rua sem movimento, numa hora já fora do normal horário de trabalho, num Sábado, à espera de uma qualquer ordem de um patrão qualquer para um serviço de transporte. Talvez sim, talvez não.
Sinceramente não percebo a nervoseira do nosso amigo. O que é que ele queria? Que deixassem a comunidade estrangeira aqui sem vigilância? Impossível. Que fossem mais discretos? Pois, talvez. Eu, pessoalmente, prefiro que sejam ostensivos. Gosto de saber quando estou a ser observada. Já se sabe que assim funciona o sistema, também me incomoda sobremaneira ter a minha privacidade invadida, mas a vida é assim por estas bandas e não há alternativa. Nós enquanto estrangeiros temos outros valores e outra perspectiva da vida. Nos nossos países isto seria impensável, mas aqui não. "Em Roma sê romano", não há outro remédio.
Bom, mas se foi realmente para escutar o que se passava, não ouviram outra coisa que não fossem conversas sobre cozinha grega, móveis chineses, vodka ucraniana, Durão Barroso e os seus Comissários , bolo de chocolate e receitas de pasta italiana, acrescidas de Joe Jackson aos altos berros. Bom proveito.


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