Cá estou eu, uma vez mais a cagar sentenças à distância. No rescaldo das legislativas portuguesas, estou muito satisfeita com a retirada do Dr.Paulo Portas do panorama político português e com os resultados eleitorais da esquerda em geral. Os portugueses votaram massivamente na esquerda, por pura rejeição da direita, não penso que este voto tenha um sentido ideológico e também não penso que os portugueses serão estúpidos ao ponto de pensar que o PS pode fazer milagres. Espero também que os próprios socialistas não sejam parvos ao ponto de se considerarem os salvadores da pátria. Agora que a alegria de ver o Santana pelas costas já passou, bora lá ser um bocadinho realistas e reconhecer que qualquer força política que se proponha governar Portugal neste momento, tem as mãos mais do que atadas pela situação económica e social que se vive na Europa em geral.
Longe vai o tempo em que vivíamos "orgulhosamente sós". Longe vai o tempo das nacionalizações selvagens e das intervenções do Estado na economia. Hoje em dia, qualquer Governo tem que cumprir os critérios a que acordamos para ter ordenados em Euros, e o resto é conversa.
As diferenças de Governação dependem do modo como o nosso executivo nos vende o peixe de Bruxelas. Actualmente, os Governos europeus são uma espécie de relações-públicas e lobbistas dos povos. Eu explico - prefiro ter os socialistas a bater o pé em Bruxelas e depois, caso não consigam o que queremos, vir explicar as medidas restrictivas ao povo de uma maneira acessível e simpática. Considero que os últimos governos PS têm tido esse desempenho. O Governo do PSD entrou logo a matar, com a Dr.ª Ferreira Leite a dizer a Bruxelas que tínhamos sido uns irresponsáveis e que merecíamos ser castigados. E fomos. E o PSD também....
Há tão pouca margem de manobra para melhorar a situação que as diferenças têm que ser vistas a este nível. E a outros. Por exemplo, o governo do PSD apenas se lembrou que um executivo é suposto melhorar as infra-estruturas e qualidade de vida do povo em geral, nos 60 dias que precederam as eleições. Outro problema que me dei conta, pela minha situação profissional, é que nestes quatro anos a administração pública quase paralisou. Por falta de dinheiro, bem entendido, mas não só. Muito por falta de vontade, desorganização, medo, falta de criatividade (sim, é preciso MUITA criatividade para fazer omeletes sem ovos...). Falta de vontade porque nunca houve um objectivo, uma motivação. Tudo o que se ouvia nas reuniões de alto nível da Administração era o facto de não haver dinheiro e de não se poder realizar este ou aquele projecto por essa razão. Muito embora no anterior governo do PS a situação não fosse diferente, a mentalidade foi outra. Na maioria dos casos sempre se tentava aproveitar a "prata da casa" e os recursos disponíveis para fazer qualquer coisa, mesmo que não fosse o ideial, pelo menos os projectos não ficavam parados. Desorganização porque quando nada anda, os canais burocráticos entopem e não há nada a fazer, excepto atirar a papelada toda pró lixo e começar de novo (acreditem que eu sei...). E medo, porque nestes quatro anos, eu que sirvo a República há dez, nunca tinha visto tanta pressão, tanta "ameaça" dirigida aos simples funcionários. Claro que também nunca tinha visto ordenados tão generosos para assessores nem tanta protecção partidária na Administração. Mas o PS é que tinha os Boys, não é? Pois, quando se vêem as coisas por dentro, há detalhes que são mais fáceis de apanhar do que quando apenas se lêem os jornais.
O PS tem agora em mãos, uma responsabilidade descomunal. Espero que a equipa do Sócrates esteja à altura. Não deposito todas as esperanças no futuro PM, afinal de contas é apenas um humano como todos nós. Tenho é fé (sim, porque em Portugal política e místicismo andam muito de braço dado - vejam o mito do D.Sabastião...) que este senhor seja capaz de reunir gente mais competente do que os anteriores. E deixo daqui um apelo sentido ao futuro PM para que rompa com a maldição portuga - por favor, Sr. Eng.º não nos fuja desta vez. Precisamos de um Governo...