Os casamentos tradicionais duravam cerca de três dias. Assim, em torno de uma boa mesa e boa pinga, cantando e dançando se criavam os laços necessários entre famílias e amigos, criando também uma bolsa de familiariedade à volta do novo casal que, normalmente, mal se conhecia. Então expliquem-me lá por que carga d'água, nós que já vivemos juntos vai para 4 anos decidimos fazer um casamento de quase 3 semanas?
Ainda ando com mixed feelings. Por um lado, acho que foi a festa mais surreal, mais louca e mais gira que eu podia ter tido. Adorei o nosso casamento, os dias que o precederam e os dias que se seguiram. Por outro lado, colocar meia dúzia de pessoas que mal se conheciam a viver estilo "big brother" é capaz de não ter sido lá muito boa ideia...
De boas intenções está o inferno cheio, dizem os mais velhos. A nossa única intenção era fazer a festa num sítio especial para nós, que maior parte das pessoas não conhecia, e por isso, proporcionar uma oportunidade especial, para que uma cambada de europeus do sul visse a China de outra maneira.
Acho que o saldo foi positivo. Quase toda a gente adorou a visita a Pequim e a Shanghai. Os "velhotes" do grupo aguentaram-se magnificamente à bronca, ao frio, ao estrafalhanço emocional do casamento, à falta de pão e a comer com pauzinhos durante 15 dias. Mesmo sem falar uma pinga de chinês ninguém se perdeu.
Os mais novos lá começaram a arranhar um mandarim ranhoso e algumas pessoas chegaram a aprender alguns caracteres básicos para se orientarem.
Claro que a ideia clássica da china, que maior parte das pessoas trazia enraizada, se desfez em mil pedacinhos. Esperavam talvez uma série de casinhas baixinhas, com um chinesinhos muito pobrezinhos vestidos à Mao. Apanharam-se numa mega-Manhathan, com 17 milhões de habitantes, um trânsito louco, torres e mais torres e, de quando em vez, um bairro tradicional com os tais velhinhos vestidos à Mao. Pois é, assim se vive o comunismo do século XXI!
Nenhum dos convidados resistiu à febre do capitalismo consumista e todos saímos de lá com a bagagem inchada e as carteiras anémicas.
Como muito bem resumiu o Martin, no nosso último jantar mediterrânico em Pequim, vivemos nas nuvens durante esses dias e o que custou (e continua a custar) é descer do paraíso e retomar a rotina.