Com tanta amargura, nos últimos dias, até me tenho esquecido do quanto eu gosto de seres humanos em geral, e alguns em particular.
Aqui está uma senhora que eu admiro muito. Quando tenho a sorte de me apanhar na sua companhia, calo-me muito bem caladinha, abro os olhinhos e ouvidos e aprendo. Quando fôr grande, quero ser assim:

Celeste Maia
"Nasceu no norte de Moçambique, mais precisamente em Nametil, em 1941. No ano de 1965, Celeste Maia deixou a capital moçambicana, na altura Lourenço Marques, em direcção a Lisboa. Desde então deu praticamente a volta ao mundo. Nos últimos 10 anos instalou-se em Madrid, mas S. Paulo, Washington, Praga e Roma foram cidades que contribuíram decididamente para as histórias dos seus quadros. Em 1994 teve oportunidade de descobrir a China, que se lhe apresentou como uma "revelação monumental" e, posteriormente, em 1998-1999, visitou a Índia, outro ambiente que a seduziu. Aliás, o Oriente abriu-lhe o ciclo dos espelhos, de que gosta sobretudo pelo mistério da origem das imagens que eles projectam, "dos segredos que quase nos contam, da passagem entre um lado e o outro e do caminho que se abre lá por trás, onde nunca estamos", sublinha.
Se regressarmos à sua juventude, descobrimos que Celeste Maia tinha um jeito assumido para desenhar, fazer escultura e gravura. Este fascínio começou em Moçambique. Contudo, foi em Lisboa que a pintora conviveu e aprendeu muito com o mestre Malangantana. Foi pela sua mão que começou a "pintar seriamente". No entanto, a pintora admite que os seus trabalhos foram sobretudo influenciados pela escola americana, onde estudou e viveu alguns anos. A noção de espaço, cores quentes, como o vermelho carnoso, tons sensuais, perfeitos, o cheiro da terra, a liberdade reúnem-se hoje no seu inconsciente e transportam-na sempre para África. Mas a pintura de Celeste Maia reencontra-se com outros espaços e vive de outros cheiros, normalmente rebuscados nos países e nas cidades que ao longo da vida encheram a sua memória de pormenores, figuras e objectos igualmente interessantes. Por exemplo, de S. Paulo, Celeste não resistiu ao tropicalismo. Os quadros dessa época foram invadidos por sumos, frutas e corpos lindos. "Foi nessa altura que também pintei os nus", esclarece. Os Estados Unidos ofereceram-lhe a técnica e a China despertou-a para os amarelos brilhantes, os vermelhos fortes e os azuis estonteantes. Se observarmos atentamente o seu percurso artístico nesta retrospectiva, constituída por 125 obras, reparamos que na maioria das telas os tons suaves, mesmo esbatidos, são predominantes. Depois da austeridade e do cinzento de Praga, ficou deslumbrada com a magia da luz de Roma. Um encanto que não mais deixou de pintar. Ainda hoje, pinta a luz e as sombras."