
Pois ontem estive no jantar mais estranho da minha carreira, mas também um dos mais desafiantes.
A americana resolveu promover um encontro de "aliados" mas...todas gajas. Geralmente, em qualquer jantar protocolar, estou habituada a ser a única "senhora" com uma actividade profissional, as outras que costumam estar presentes são as esposas dos meus colegas. Ou se a refeição tem carácter profissional, costumo ser a única gaja à mesa. Não é que em Portugal sejamos poucas, comparando com o número total de colegas (já chegamos aos 30%, não é nada mau para o nosso sexo que só começou a ter autorização para desempenhar funções em 1974).
Este foi o único jantar profissional só de tipas. Diferente, sem dúvida. Chego a várias conclusões - quando falamos de política é a sério, não somos tão tanguistas como os homens, mas também não nos alongamos tanto. Nenhuma das presentes tinha aquele defeito desgraçado (ou deformação profissional) de gostar de se ouvir, e andar a regar para chegar ao sumo da questão.
Quando não podemos revelar as nossas posições, somos muito mais discretas e hábeis do que os nossos pares masculinos. Temos habilidade para mudar de assunto com uma pinta desgraçada. Para mim, foi muito mais difícil interpretar posições ocultas e agendas próprias do que quando estou rodeada de homens. Da forma como estamos a evoluir, tenho que me treinar nesta coisa de perceber intenções ocultas nas mulheres, coisa que os meus elevados níveis de testoterona sempre me impediram de fazer.
É engraçado como todos os países preferem enviar senhoras para aqui. Quer dizer, não tem graça nenhuma. Já todos repararam que os homens são uma opção muito frágil, principalmente quando é fácil para qualquer eslava "infiltrar-se" e obter informações enquanto experimenta as almofadas da cama do dito cujo. Estão a topar a cena? De maneira que ontem tínhamos a americana (claro), a tuga (pois-NATO), a turca (NATO), a holandesa (estão a fazer a presidência UE aqui, porque não temos Lux), a israelita (óbvio) , a letona (novos aliados) e a norueguesa (velhos aliados). E a luta centrou-se na obtenção de informações: a israelita foi muito espremida, mas não se descuidou e todos os UE foram espremidos pelo resto, mas também não nos descuidámos. Toda a gente tentou espremer a americana, mas sem sorte nenhuma. Enfim, foi uma batalha inglória, e acabámos a noite a beber conhaques e falar de banalidades. Todas nós devíamos estar a pensar - porra, as gajas que tradicionalmente são conhecidas por serem desbocadas, e afinal parece que neste ofício só temos portas...