
Há muito, muito tempo, numa terra longínqua e gelada, vivia numa modesta casinha uma menina muito trabalhadora. Tanto esta menina se ocupava de tudo o que havia que fazer em sua casa, que o Rei ouviu falar em tanta azáfama e pensou: "Humm, o meu grão-mestre precisa de ajuda. Se esta menina é mesmo como dizem pode ser que nos seja útil". E assim fez. Chamou a menina, mudou-a para o Palácio e o grão-mestre instruiu-a nas suas novas tarefas.
Todos os dias, assim que a madrugada raiava, a menina iniciava a cópia de todas as leis que todos os Reis do Reino tinham alguma vez ditado, em toda a história daquele pequeno Reino Frio. Com a sua letrinha cuidada e pequenina, a menina encarregava-se de copiar pacientemente, fechada na enorme biblioteca do grão-mestre, resmas e resmas de leis soltas e sem-sentido. Muito embora lhe pesasse muito a tarefa, a menina nunca se queixava e dormia no cantinho mais ranhoso do Palácio. Mas o que lhe doía mais era a solidão constante e as saudades da sua família camponesa.
O grão-mestre, raramente falava com ela. Muito embora ela o ajudasse muito, aquele pensava que o Rei a tinha posto na grande biblioteca para espiar o andamento dos trabalhos do Reino. A mulher do grão-mestre, uma linda Raposa-falante, tão pouco era muito simpática. Mas a menina achava normal - as Raposas-falantes não têm a mesma natureza que os humanos, e mais para mais a sua tendência carnívora para as criancinhas, fazia com que a menina até ficasse aliviada de não ter que se encontrar muito com a Raposa.
Um dia o grão-mestre adoeceu gravemente. A menina, apesar de não ser feliz no Palácio, chorava muito com pena dele e tentava ajudar a Raposa-falante em tudo o que podia. A situação piorava de dia para dia, o grão-mestre ficava cada vez mais doente, e a Raposa utilizava todos os seus truques raposais para ver se conseguia comer a menina. "Mais cedo ou mais tarde," -pensou a menina-" esta Raposa vai-me comer. E depois? quem copia as leis do Reino? Tenho que avisar o Rei!" Assim pensou, assim o fez.
Chegou ao dia da audiência, e a menina explicou ao Rei o que se passava na grande biblioteca do Reino. E o Rei virou-se para ela e perguntou "Não se arranja uma Sandes de Presunto?"