Histórias de uma portuga em movimento.
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Jul 05
publicado por parislasvegas, às 05:44link do post | comentar
Lembram-se da célebre "revolução laranja"? Não sei porque carga de água, mas os jornais portugueses chamam-lhe a "primavera de Kiev". Não sei porque carga de água porque:
1. A primavera foi a de Praga
2. A revolução laranja, passou-se em pleno inverno, com os milhares de desgraçados a suportar temperaturas negativas durante semanas de acampamento na praça principal.

Um passarinho disse-me que as notícias veinculadas pela comunicação social portuguesa dizem maravilhas da nova situação aqui. Nada está mais longe da verdade. Igualmente por inúmeras razões, que, como sempre, nada têm a ver com os desgraçados que andaram na rua a exigir melhores condições de vida, salários dignos e outros direitos, que na Europa estão mais do que adquiridos e que aqui, não passam de sonhos. A verdade é que apesar dos esforços das novas autoridades, Roma e Pavia não se fizeram num dia. Mas a verdade também é que estes povos estão habituados a mudanças bruscas, dolorosas e violentas, e não têm paciência para revoluções de flores, veludos e outras coisas macias.
O povo eslavo é duro. Tem suportado inúmeras dificuldades ao longo dos séculos. Agora só querem é que isto mude e rápido. O grande problema, é que os novos dirigentes são um misto de antigos membros do PCUS e de gente que estudou gestão de empresas nos Estados Unidos. Isto constituí uma mistura mais explosiva do que um cocktail molotov, mas espelha em absoluto a própria sociedade ucraniana, dividida entre antigos tiques soviéticos e a modernidade ocidental. Esta receita, provoca uma governação que oscila entre a subserviência à Rússia e consequente agressividade para com a União Europeia (aos EUA não se atrevem por execesso de interesses económicos) e simpatias excessivas com a União Europeia e uma agressividade estúpida para com a Federação Russa. Este tipo de gestão esquizofrénica do país, tem provocado inúmeros problemas, cujas principais vítimas são os próprios milhares que estiveram na rua a exigir a mudança de regime. Os resultados mais prováveis deste tipo de políticas são, em primeiro lugar, um abrandamento da aproximação à UE, e, em segundo lugar, uma crise energética (os russos vão fechar a torneira) que nos vai fazer gelar a todos neste Inverno, quem sabe com quantos milhares de mortos como desfecho final e mais visível.
No entanto, e apesar do acima descrito, não discordo em absoluto das opções políticas que têm sido feitas nestes últimos seis meses. Não discordo, porque tenho cérebro e racionalidade suficiente para ver que não existem saídas fáceis e que este país não tem alternativas a esta bipolaridade Europa Ocidental/Oriental, pela dependência económica que têm do exterior, pela força da herança cultural russófila, pelo próprio trauma de uma independência adiada durante 3 séculos, de um território dividido em fatias pela Polónia e pela Rússia, de uma população que nem sequer consegue acordar em ter uma língua comum.
Eu que me queixo da dureza deste povo, tão desagradável em contactos pessoais, muitas vezes tenho que reconhecer que é isso que os mantém vivos e à tona d'água. Se assim não fosse teríamos outra revolução neste momento, em que há quase duas semanas que assistimos a cenas de pugilato no Parlamento.
Como toda a nação em mudança, há que ter paciência e confiar num futuro melhor. O que eu já não sei é se esta gente não esgotou as reservas da sua santa pachorra nos últimos 500 anos de más condições de vida e de tiranias governamentais diversas. Penso que, se a situação se aguentar presa pelo fio da esperança, em 30 anos teremos uma Ucrânia forte e capaz de oferecer um futuro aos filhos desta terra, até lá os ucranianos terão que fazer o que nós fizémos (e, infelizmente, continuamos a fazer) - transformar o desenrascanço numa arte nacional.

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