Histórias de uma portuga em movimento.
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Jul 05
publicado por parislasvegas, às 05:21link do post | comentar

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Por estranho que pareça o título desta posta, devo reconhecer que, apesar de ter a mania que estrebucho e que tenho mau feitio, isso é tudo mais do que mentira. Não passa mesmo de mania minha, que invento atitudes e respostas tortas apenas para que não me ponham constantemente os pés em cima do pescoço.Infelizmente, este mundo é feito de constantes "rat races" e a figura do hamster às voltas na rodinha tem-me aparecido em sonhos quase todos os dias, no último mês.
A verdade é que ando a fazer essa figura há demasiados anos para andar satisfeita, mas a verdade também é que devo reconhecer que só a faço porque quero, ou talvez por ser mais cómodo do que partir a porra da gaiola toda.
Não posso queixar da vida, pois tenho os meus neurónios emocionais equilibrados, à conta de uma família e amigos fantásticos. Às vezes, tanta é a merda que me rodeia, noutros aspectos da minha vida, que me tapa o campo de visão a longo prazo, e me esqueço que há sacrifícios que têm que ser feitos para que a vida nos corra de feição no futuro.
Muito me tenho eu queixado de que raras pessoas me respeitam, e que estou constantemente a sofrer humilhações e a levar pancada a torto e a direito. É verdade. Mas também é verdade que não tenho tido, ou força, ou feitio para lutar à bruta contra isso. Simplesmente já cheguei à conclusão de que não é o meu estilo. O facto é que tenho visto que a minha forma de fazer as coisas é demasiado sincera, mas não suficientemente bruta para que os me rodeiam tenham medo de mim. Também já cheguei à conclusão que, infelizmente, para ser respeitada tenho que meter medo aos outros. As relações de poder são mesmo assim: se não se demonstra que temos mais do que os outros (mesmo não tendo) está tudo estragado. E, convenhamos, eu não tenho pinta para meter medo a ninguém....
De forma que continuo nesta minha baralhação constante, amarrada por cordas várias e rebelde como sempre. Tentando encontrar a melhor maneira de me relacionar pacificamente com outros e apercebendo-me que os outros aproveitam isso para me demonstrar que são mais agressivos do que eu. No meu mundo profissional isto é a morte do artista. Mais vale ter paciência, fingir de parvo e deixar pôr o pé no pescoço, se isso fizer parte de uma estratégia a longo prazo. Quem ri por último ri melhor, não é verdade?
Mas na esfera do privado, essa atitude nem sempre é a melhor. A minha pachorra de chinês, ou, como lhe chamo no título, "o meu bom feitio" não me tem pago em boa moeda.
Por isso, tenho pensado muito nesta minha experiência ucraniana. Estes quatro anos têm-me ensinado lições altamente valiosas, das quais nunca me vou esquecer enquanto viver. O problema é tentar mudar as minhas atitudes face ao que tenho aprendido. Essa é a parte que demora mais tempo. Entretanto, enquanto não consigo mudar, lá vou andando na minha rodinha, correndo para nada, em direcção a sítio nenhum. E sempre, sempre com muita paciência....

publicado por parislasvegas, às 02:33link do post | comentar
Image Hosted by ImageShack.usA Bia na nossa casinha de Verão

Há muito tempo que tenho vontade de escrever algumas linhas sobre o meu animal de convívio doméstico, não será animal de estimação porque, em princípio, todos os animais que estão em nossa casa o são.
Pois é, eu tive uma cadela que durante quase 12 anos encheu a minha casa, de pêlos, baba, comida granulada, que para ela só servia de aperitivo e brincadeira e que aparecia nos sítios mais esquisitos: debaixo da minha cama, na carpete da sala, na casa de banho e muitos mais. O pior é que o chão cá de casa até disfarça isto tudo, e era ver o pessoal a pisar o granulado sem dar por isso. Mas, não foram só os pêlos e as outras coisas de que falei; com a minha BIA veio muito mais. Passaram 2 meses desde que ela nos deixou e tem sido difícil habituarmo-nos à sua ausência.
Tudo começou quando a Kiki, que tinha uma paixão doida por animais, entendeu que queria ter um cão. Nem eu nem o pai queríamos animais, porque ou se tem tempo para eles ou não vale a pena; a minha filhota que de pouco inteligente nunca teve nada, depois de muito pedinchar e não obter resultado decidiu que a única forma era deixar de comer, e à hora da refeição só falava no cão, o pai que não é nada chegado a estas coisas de chantagens emocionais, não se aguentou e um belo dia dou por mim, sem saber ao que ia, estacionando à porta de várias lojas de animais. Tinha começado a cedência e a procura do tão desejado animal.
Como se calcula, eu não tinha nenhuma preferência de raça, para mim podia ser um rafeiro, só gostava que fosse pequeno porque num apartamento um animal grande não tem muita qualidade de vida. Foi o primeiro que vi; apaixonei-me logo pelo animal que vim a descobrir depois, era uma cadela e eu nem queria, mas já não dava para voltar a trás. Uma Yorkshire Terrier preta e prateada com 2 meses e a pilhas completamente doida, com uma energia terrível, era o que fazia falta cá em casa para animar as hostes e ficou!
Escusado será dizer, que à minha querida filha passou-lhe logo o fastio e não cabia em si de contente. Depois foi o dilema da escolha do nome, ficou Beatriz com o deminuitivo BIA, como era chamada por todos.
Não há dúvida que um cão é sempre um cão, mas como no livro do Manuel Alegre alguns cães são como nós, principalmente os nossos e quem nunca teve um animal em casa nunca poderá compreender do que falo.
Depois de muito sapato roído e de muito chichi nos tapetes a BIA ficou um animal educado, e ao fim de 6 longos meses tudo se recompôs.
Era um animal com muita personalidade e completamente protector em relação à KiKi e a mim, depois da KiKi sair de casa a sua paixão era eu, nem o dono escapava. Quando estava ao meu colo e o dono se aproximava demais saltava logo para o assustar, e chegou mesmo a morde-lo.
Passámos muitas horas de brincadeira as duas e quando a KiKi seguiu a sua vida, não levou a BIA, porque deixar partir as duas para mim era demais, esta cadela só lhe faltava falar entendia os meus estados de alma como ninguém que me rodeia é capaz de fazer. É pena que os cães não falem, ou talvez não, pois só assim podem saber tanto sobre nós e do que pensamos ou sentimos. Se eu estivesse doente e na cama a BIA estava comigo 24 horas, às vezes até para ir comer refilava com o dono ou com a avó, para ir à rua era um sarilho. Deitava-se em cima da cama, do meu lado direito e ficava quietinha, de vez em quando vinha dar-me uma lambidela como que a perguntar - já estás melhor? Ou então - quando é que sais dai e vens tu comigo à rua? Desde que a BIA veio cá para casa nunca mais estive sozinha.
Também conversávamos as duas, é verdade, conversávamos mesmo, as minhas amigas achavam graça a este entendimento humano/canino, e às vezes quando me respondia parecia que sorria. Nos seus olhos, que eram duas bolinhas muito verdes, via-se sempre a sua alegria ou tristeza, a atenção à conversa, a interrogação quando não entendia qualquer coisa. Será que os cães têm alma? Será que os cães não pensam como já tenho lido em muitos artigos sobre animais? Eu não acredito. Em relação à alma, nem da nossa eu tenho certezas pois penso ser uma questão de fé, mas que os cães pensam lá isso pensam porque quando fazem asneira sabem sempre o que fizeram e são como nós têm os seus dias de boa ou má disposição.
Quando a BIA era pequena adorava estar na nossa casa em Palmela, andava à vontade. Rebolava nas ervas e corria que parecia um coelho, o pior vinha depois quando tinha que lhe tirar do pêlo as roscas das ervas, e era um caso sério porque ela virava o dente, até a mim, cadela com personalidade era esta - e mimada também. Há quem diga que nós educamos os cães que vivem connosco do mesmo modo que educamos os filhos e talvez seja verdade. Sempre fui e sou mãe galinha mas nunca fui prepotente e nem consegui sê-lo em relação à cadela por isso era tão mimada, mas a mim sabia-me tão bem o mimo que ela me dava, sem pedir nada em troca, que era incapaz de lhe dar uma palmada, e a bicha sabia.
Para mim raramente era a BIA, chamava-lhe “nanica”, “menina”, “meu cão”,”cão mais lindo da dona” e ela respondia sempre, aos outros não.
Mudámos de casa entretanto, a outra casa ficou para a KiKi, passados alguns anos ela continuava a conhecer o sítio e parava sempre à porta da casa dela e não se pense que ia lá com frequência, só passados uns 2 anos de vivermos aqui é que ela lá voltou.
Não lhe podia dizer que íamos para o Algarve com horas de antecedência, se o fizesse era com muita dificuldade que arrumava as malas, a doidice instalava-se e era o caos.
No Inverno a BIA dormia sempre comigo, deitava-se por cima da roupa, do meu lado direito, tinha medo de ser esborrachada pelo dono que tem mau dormir, mas às tantas já estava dentro da roupa toda encostada a mim, com o focinho na beirinha do colchão para poder respirar, depois de instalada respirava fundo fazia umas lambidelas de conforto e de mimo e dormia toda a noite. Às vezes era eu que a aconchegava a mim e lhe fazia umas festinhas na barriga e aí o mimo ainda era maior. Quando o dono se levantava de manhã era um sarilho, não tinha nada que andar por lá. “Rua! saíste daqui agora não podes andar de um lado para o outro a fazer barulho!”.
Parecia uma fera com 50 cm. Quando eu saia, nem que fosse para beber um café, parecia que não vinha a casa há um mês, quem é que nos espera em casa e tem uma manifestação de alegria tão grande, quando chegamos, a não ser um cão?
Adorava brincar, nem depois de velhota perdeu a energia, tinha dois brinquedos preferidos, a bola e um elefante pequenino de borracha. Quando lhe apetecia brincadeira aparecia em qualquer lado com os brinquedos na boca a desafiar-me e enquanto não lhe desse atenção não se calava. Corria a casa toda atrás dos brinquedos e eu atrás dela. No final de cada cio fazia sempre gravidez psicológica, e nessas alturas tinha uma costeleta de borracha que era o filho dela, e não dormia sem ele que é o mesmo que dizer; eu dormia com a cadela e com a costeleta. Os vizinhos adoravam a bicha mas ela retribuía muito bem, a casa deles não tinha segredos para ela; eu costumava dizer que se ela falasse estavam bem arranjados.
Havia um senão: o THOR, Rottweiler e grandalhão era apaixonado por ela, paixão que não era correspondida, antes pelo contrário, sempre que se aproximava demasiado levava uma rosnadela das grandes. Os cães da Marina, o Rudi e o Riki também não a encantavam. Havia dois rafeiros que ela gostava, o Niquita e outro que não sei o nome mas adorava brincar com o Júnior um cão mais pequeno que ela, que penso ser também um rafeiro, mas espertíssimo e muito bem disposto. A conclusão que eu tirei destas amizades caninas é que na realidade o importante não é o estatuto “rácico” mas a empatia ou a química, como agora se diz. Digam lá que os cães não são como nós? Pelo menos comigo é assim, o estatuto não funciona, se não gosto está tudo dito.
Há tantas coisas mais para dizer da minha cadela mas o mais importante foi o que ela me deu e as boas recordações que ficaram e se escrevi estas linhas é porque a idade me vai tirando a memória, como acontece com quase toda a gente e provavelmente daqui a alguns anos gostarei de visitá-las e lembrar-me como foi bom este tempo da minha vida em que recebi tanto em troca de tão pouco.

Obrigada BIA por teres gostado tanto da dona e me teres dado tanto. Para mim sempre foste cão como nós.
19/08/1993 A 3/05/2005
M.F.



* Manuel Alegre
Recomendo este livro, "Cão como nós" do Manuel Alegre, a toda as pessoas que tiveram ou têm cães. É um livro, também de luto, mas, acima de tudo, de evocação e tradução por palavras da ligação emocional que existe entre um cão e os seus humanos (e vice-versa...)CM

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