
Por estranho que pareça o título desta posta, devo reconhecer que, apesar de ter a mania que estrebucho e que tenho mau feitio, isso é tudo mais do que mentira. Não passa mesmo de mania minha, que invento atitudes e respostas tortas apenas para que não me ponham constantemente os pés em cima do pescoço.Infelizmente, este mundo é feito de constantes "rat races" e a figura do hamster às voltas na rodinha tem-me aparecido em sonhos quase todos os dias, no último mês.
A verdade é que ando a fazer essa figura há demasiados anos para andar satisfeita, mas a verdade também é que devo reconhecer que só a faço porque quero, ou talvez por ser mais cómodo do que partir a porra da gaiola toda.
Não posso queixar da vida, pois tenho os meus neurónios emocionais equilibrados, à conta de uma família e amigos fantásticos. Às vezes, tanta é a merda que me rodeia, noutros aspectos da minha vida, que me tapa o campo de visão a longo prazo, e me esqueço que há sacrifícios que têm que ser feitos para que a vida nos corra de feição no futuro.
Muito me tenho eu queixado de que raras pessoas me respeitam, e que estou constantemente a sofrer humilhações e a levar pancada a torto e a direito. É verdade. Mas também é verdade que não tenho tido, ou força, ou feitio para lutar à bruta contra isso. Simplesmente já cheguei à conclusão de que não é o meu estilo. O facto é que tenho visto que a minha forma de fazer as coisas é demasiado sincera, mas não suficientemente bruta para que os me rodeiam tenham medo de mim. Também já cheguei à conclusão que, infelizmente, para ser respeitada tenho que meter medo aos outros. As relações de poder são mesmo assim: se não se demonstra que temos mais do que os outros (mesmo não tendo) está tudo estragado. E, convenhamos, eu não tenho pinta para meter medo a ninguém....
De forma que continuo nesta minha baralhação constante, amarrada por cordas várias e rebelde como sempre. Tentando encontrar a melhor maneira de me relacionar pacificamente com outros e apercebendo-me que os outros aproveitam isso para me demonstrar que são mais agressivos do que eu. No meu mundo profissional isto é a morte do artista. Mais vale ter paciência, fingir de parvo e deixar pôr o pé no pescoço, se isso fizer parte de uma estratégia a longo prazo. Quem ri por último ri melhor, não é verdade?
Mas na esfera do privado, essa atitude nem sempre é a melhor. A minha pachorra de chinês, ou, como lhe chamo no título, "o meu bom feitio" não me tem pago em boa moeda.
Por isso, tenho pensado muito nesta minha experiência ucraniana. Estes quatro anos têm-me ensinado lições altamente valiosas, das quais nunca me vou esquecer enquanto viver. O problema é tentar mudar as minhas atitudes face ao que tenho aprendido. Essa é a parte que demora mais tempo. Entretanto, enquanto não consigo mudar, lá vou andando na minha rodinha, correndo para nada, em direcção a sítio nenhum. E sempre, sempre com muita paciência....