Histórias de uma portuga em movimento.
19
Jul 05
publicado por parislasvegas, às 06:21link do post | comentar
Passados mais de 12 meses de bloggada, finalmente consegui encontrar uma "pele" simples, mas simpática, e fazer uma série de coisas que nunca tive tempo para completar, mas que sempre quis ter neste berlogue. Isso incluí uma descrição de quem raio sou eu (embora estejam vocesses fartos de saber, carago!) e outros peru menores, como por exemplio passar a ter comentários, em vez de comments.
Não pensem que bati com a mona nalguma pedra e deixei de saber escrever, é só que passei os últimos dois dias a levar injecções do gato fedorento (ha pois é!) e da conversa da treta, e a modos que me andem a lavar o cérebrio.
Mas o meu Xano também a modos que me obrigou-me, porque eu estava a ficar muito séria, e diga-se mesmo a roçar a antipatia, de modos que o meu Xano me obrigou-me a ver os DVDs todos de seguida, o que me provocou umas dores de abdominários e máxilários desgraçadas, que até estou aqui que nem posso...
Também, diga-se de passagem que tenho sido uma mona de trabalho nos últimos tempos, e achei que me andavem a fazer de párvia, e hoje estou a levar isto muito no mane-mane. Aproveitei para remodelar o berlogue e ando aqui a pensar se não lhe hei-de-lhe amontar uma marquise, que como diz o meu amigo ZdD é a expressão mais elevada da arquitectura portuguesa. E eu concordo.
E prontos. Comemoro com esta posta um ano de berlogue (que por acaso até foi há dois meses, mas se me varreu-se-me) e o poucosozinho passa a ter uma nova fronha. Se alguém souber como se amonta-se uma marquise intermética faça favor de me mandar o livrinho de instruções.

18
Jul 05
publicado por parislasvegas, às 05:21link do post | comentar

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Por estranho que pareça o título desta posta, devo reconhecer que, apesar de ter a mania que estrebucho e que tenho mau feitio, isso é tudo mais do que mentira. Não passa mesmo de mania minha, que invento atitudes e respostas tortas apenas para que não me ponham constantemente os pés em cima do pescoço.Infelizmente, este mundo é feito de constantes "rat races" e a figura do hamster às voltas na rodinha tem-me aparecido em sonhos quase todos os dias, no último mês.
A verdade é que ando a fazer essa figura há demasiados anos para andar satisfeita, mas a verdade também é que devo reconhecer que só a faço porque quero, ou talvez por ser mais cómodo do que partir a porra da gaiola toda.
Não posso queixar da vida, pois tenho os meus neurónios emocionais equilibrados, à conta de uma família e amigos fantásticos. Às vezes, tanta é a merda que me rodeia, noutros aspectos da minha vida, que me tapa o campo de visão a longo prazo, e me esqueço que há sacrifícios que têm que ser feitos para que a vida nos corra de feição no futuro.
Muito me tenho eu queixado de que raras pessoas me respeitam, e que estou constantemente a sofrer humilhações e a levar pancada a torto e a direito. É verdade. Mas também é verdade que não tenho tido, ou força, ou feitio para lutar à bruta contra isso. Simplesmente já cheguei à conclusão de que não é o meu estilo. O facto é que tenho visto que a minha forma de fazer as coisas é demasiado sincera, mas não suficientemente bruta para que os me rodeiam tenham medo de mim. Também já cheguei à conclusão que, infelizmente, para ser respeitada tenho que meter medo aos outros. As relações de poder são mesmo assim: se não se demonstra que temos mais do que os outros (mesmo não tendo) está tudo estragado. E, convenhamos, eu não tenho pinta para meter medo a ninguém....
De forma que continuo nesta minha baralhação constante, amarrada por cordas várias e rebelde como sempre. Tentando encontrar a melhor maneira de me relacionar pacificamente com outros e apercebendo-me que os outros aproveitam isso para me demonstrar que são mais agressivos do que eu. No meu mundo profissional isto é a morte do artista. Mais vale ter paciência, fingir de parvo e deixar pôr o pé no pescoço, se isso fizer parte de uma estratégia a longo prazo. Quem ri por último ri melhor, não é verdade?
Mas na esfera do privado, essa atitude nem sempre é a melhor. A minha pachorra de chinês, ou, como lhe chamo no título, "o meu bom feitio" não me tem pago em boa moeda.
Por isso, tenho pensado muito nesta minha experiência ucraniana. Estes quatro anos têm-me ensinado lições altamente valiosas, das quais nunca me vou esquecer enquanto viver. O problema é tentar mudar as minhas atitudes face ao que tenho aprendido. Essa é a parte que demora mais tempo. Entretanto, enquanto não consigo mudar, lá vou andando na minha rodinha, correndo para nada, em direcção a sítio nenhum. E sempre, sempre com muita paciência....

publicado por parislasvegas, às 02:33link do post | comentar
Image Hosted by ImageShack.usA Bia na nossa casinha de Verão

Há muito tempo que tenho vontade de escrever algumas linhas sobre o meu animal de convívio doméstico, não será animal de estimação porque, em princípio, todos os animais que estão em nossa casa o são.
Pois é, eu tive uma cadela que durante quase 12 anos encheu a minha casa, de pêlos, baba, comida granulada, que para ela só servia de aperitivo e brincadeira e que aparecia nos sítios mais esquisitos: debaixo da minha cama, na carpete da sala, na casa de banho e muitos mais. O pior é que o chão cá de casa até disfarça isto tudo, e era ver o pessoal a pisar o granulado sem dar por isso. Mas, não foram só os pêlos e as outras coisas de que falei; com a minha BIA veio muito mais. Passaram 2 meses desde que ela nos deixou e tem sido difícil habituarmo-nos à sua ausência.
Tudo começou quando a Kiki, que tinha uma paixão doida por animais, entendeu que queria ter um cão. Nem eu nem o pai queríamos animais, porque ou se tem tempo para eles ou não vale a pena; a minha filhota que de pouco inteligente nunca teve nada, depois de muito pedinchar e não obter resultado decidiu que a única forma era deixar de comer, e à hora da refeição só falava no cão, o pai que não é nada chegado a estas coisas de chantagens emocionais, não se aguentou e um belo dia dou por mim, sem saber ao que ia, estacionando à porta de várias lojas de animais. Tinha começado a cedência e a procura do tão desejado animal.
Como se calcula, eu não tinha nenhuma preferência de raça, para mim podia ser um rafeiro, só gostava que fosse pequeno porque num apartamento um animal grande não tem muita qualidade de vida. Foi o primeiro que vi; apaixonei-me logo pelo animal que vim a descobrir depois, era uma cadela e eu nem queria, mas já não dava para voltar a trás. Uma Yorkshire Terrier preta e prateada com 2 meses e a pilhas completamente doida, com uma energia terrível, era o que fazia falta cá em casa para animar as hostes e ficou!
Escusado será dizer, que à minha querida filha passou-lhe logo o fastio e não cabia em si de contente. Depois foi o dilema da escolha do nome, ficou Beatriz com o deminuitivo BIA, como era chamada por todos.
Não há dúvida que um cão é sempre um cão, mas como no livro do Manuel Alegre alguns cães são como nós, principalmente os nossos e quem nunca teve um animal em casa nunca poderá compreender do que falo.
Depois de muito sapato roído e de muito chichi nos tapetes a BIA ficou um animal educado, e ao fim de 6 longos meses tudo se recompôs.
Era um animal com muita personalidade e completamente protector em relação à KiKi e a mim, depois da KiKi sair de casa a sua paixão era eu, nem o dono escapava. Quando estava ao meu colo e o dono se aproximava demais saltava logo para o assustar, e chegou mesmo a morde-lo.
Passámos muitas horas de brincadeira as duas e quando a KiKi seguiu a sua vida, não levou a BIA, porque deixar partir as duas para mim era demais, esta cadela só lhe faltava falar entendia os meus estados de alma como ninguém que me rodeia é capaz de fazer. É pena que os cães não falem, ou talvez não, pois só assim podem saber tanto sobre nós e do que pensamos ou sentimos. Se eu estivesse doente e na cama a BIA estava comigo 24 horas, às vezes até para ir comer refilava com o dono ou com a avó, para ir à rua era um sarilho. Deitava-se em cima da cama, do meu lado direito e ficava quietinha, de vez em quando vinha dar-me uma lambidela como que a perguntar - já estás melhor? Ou então - quando é que sais dai e vens tu comigo à rua? Desde que a BIA veio cá para casa nunca mais estive sozinha.
Também conversávamos as duas, é verdade, conversávamos mesmo, as minhas amigas achavam graça a este entendimento humano/canino, e às vezes quando me respondia parecia que sorria. Nos seus olhos, que eram duas bolinhas muito verdes, via-se sempre a sua alegria ou tristeza, a atenção à conversa, a interrogação quando não entendia qualquer coisa. Será que os cães têm alma? Será que os cães não pensam como já tenho lido em muitos artigos sobre animais? Eu não acredito. Em relação à alma, nem da nossa eu tenho certezas pois penso ser uma questão de fé, mas que os cães pensam lá isso pensam porque quando fazem asneira sabem sempre o que fizeram e são como nós têm os seus dias de boa ou má disposição.
Quando a BIA era pequena adorava estar na nossa casa em Palmela, andava à vontade. Rebolava nas ervas e corria que parecia um coelho, o pior vinha depois quando tinha que lhe tirar do pêlo as roscas das ervas, e era um caso sério porque ela virava o dente, até a mim, cadela com personalidade era esta - e mimada também. Há quem diga que nós educamos os cães que vivem connosco do mesmo modo que educamos os filhos e talvez seja verdade. Sempre fui e sou mãe galinha mas nunca fui prepotente e nem consegui sê-lo em relação à cadela por isso era tão mimada, mas a mim sabia-me tão bem o mimo que ela me dava, sem pedir nada em troca, que era incapaz de lhe dar uma palmada, e a bicha sabia.
Para mim raramente era a BIA, chamava-lhe “nanica”, “menina”, “meu cão”,”cão mais lindo da dona” e ela respondia sempre, aos outros não.
Mudámos de casa entretanto, a outra casa ficou para a KiKi, passados alguns anos ela continuava a conhecer o sítio e parava sempre à porta da casa dela e não se pense que ia lá com frequência, só passados uns 2 anos de vivermos aqui é que ela lá voltou.
Não lhe podia dizer que íamos para o Algarve com horas de antecedência, se o fizesse era com muita dificuldade que arrumava as malas, a doidice instalava-se e era o caos.
No Inverno a BIA dormia sempre comigo, deitava-se por cima da roupa, do meu lado direito, tinha medo de ser esborrachada pelo dono que tem mau dormir, mas às tantas já estava dentro da roupa toda encostada a mim, com o focinho na beirinha do colchão para poder respirar, depois de instalada respirava fundo fazia umas lambidelas de conforto e de mimo e dormia toda a noite. Às vezes era eu que a aconchegava a mim e lhe fazia umas festinhas na barriga e aí o mimo ainda era maior. Quando o dono se levantava de manhã era um sarilho, não tinha nada que andar por lá. “Rua! saíste daqui agora não podes andar de um lado para o outro a fazer barulho!”.
Parecia uma fera com 50 cm. Quando eu saia, nem que fosse para beber um café, parecia que não vinha a casa há um mês, quem é que nos espera em casa e tem uma manifestação de alegria tão grande, quando chegamos, a não ser um cão?
Adorava brincar, nem depois de velhota perdeu a energia, tinha dois brinquedos preferidos, a bola e um elefante pequenino de borracha. Quando lhe apetecia brincadeira aparecia em qualquer lado com os brinquedos na boca a desafiar-me e enquanto não lhe desse atenção não se calava. Corria a casa toda atrás dos brinquedos e eu atrás dela. No final de cada cio fazia sempre gravidez psicológica, e nessas alturas tinha uma costeleta de borracha que era o filho dela, e não dormia sem ele que é o mesmo que dizer; eu dormia com a cadela e com a costeleta. Os vizinhos adoravam a bicha mas ela retribuía muito bem, a casa deles não tinha segredos para ela; eu costumava dizer que se ela falasse estavam bem arranjados.
Havia um senão: o THOR, Rottweiler e grandalhão era apaixonado por ela, paixão que não era correspondida, antes pelo contrário, sempre que se aproximava demasiado levava uma rosnadela das grandes. Os cães da Marina, o Rudi e o Riki também não a encantavam. Havia dois rafeiros que ela gostava, o Niquita e outro que não sei o nome mas adorava brincar com o Júnior um cão mais pequeno que ela, que penso ser também um rafeiro, mas espertíssimo e muito bem disposto. A conclusão que eu tirei destas amizades caninas é que na realidade o importante não é o estatuto “rácico” mas a empatia ou a química, como agora se diz. Digam lá que os cães não são como nós? Pelo menos comigo é assim, o estatuto não funciona, se não gosto está tudo dito.
Há tantas coisas mais para dizer da minha cadela mas o mais importante foi o que ela me deu e as boas recordações que ficaram e se escrevi estas linhas é porque a idade me vai tirando a memória, como acontece com quase toda a gente e provavelmente daqui a alguns anos gostarei de visitá-las e lembrar-me como foi bom este tempo da minha vida em que recebi tanto em troca de tão pouco.

Obrigada BIA por teres gostado tanto da dona e me teres dado tanto. Para mim sempre foste cão como nós.
19/08/1993 A 3/05/2005
M.F.



* Manuel Alegre
Recomendo este livro, "Cão como nós" do Manuel Alegre, a toda as pessoas que tiveram ou têm cães. É um livro, também de luto, mas, acima de tudo, de evocação e tradução por palavras da ligação emocional que existe entre um cão e os seus humanos (e vice-versa...)CM

14
Jul 05
publicado por parislasvegas, às 06:56link do post | comentar
E viva a Revolução!!Desculpem lá o jacobinismo, mas ando mesmo mata-frades!

12
Jul 05
publicado por parislasvegas, às 05:44link do post | comentar
Lembram-se da célebre "revolução laranja"? Não sei porque carga de água, mas os jornais portugueses chamam-lhe a "primavera de Kiev". Não sei porque carga de água porque:
1. A primavera foi a de Praga
2. A revolução laranja, passou-se em pleno inverno, com os milhares de desgraçados a suportar temperaturas negativas durante semanas de acampamento na praça principal.

Um passarinho disse-me que as notícias veinculadas pela comunicação social portuguesa dizem maravilhas da nova situação aqui. Nada está mais longe da verdade. Igualmente por inúmeras razões, que, como sempre, nada têm a ver com os desgraçados que andaram na rua a exigir melhores condições de vida, salários dignos e outros direitos, que na Europa estão mais do que adquiridos e que aqui, não passam de sonhos. A verdade é que apesar dos esforços das novas autoridades, Roma e Pavia não se fizeram num dia. Mas a verdade também é que estes povos estão habituados a mudanças bruscas, dolorosas e violentas, e não têm paciência para revoluções de flores, veludos e outras coisas macias.
O povo eslavo é duro. Tem suportado inúmeras dificuldades ao longo dos séculos. Agora só querem é que isto mude e rápido. O grande problema, é que os novos dirigentes são um misto de antigos membros do PCUS e de gente que estudou gestão de empresas nos Estados Unidos. Isto constituí uma mistura mais explosiva do que um cocktail molotov, mas espelha em absoluto a própria sociedade ucraniana, dividida entre antigos tiques soviéticos e a modernidade ocidental. Esta receita, provoca uma governação que oscila entre a subserviência à Rússia e consequente agressividade para com a União Europeia (aos EUA não se atrevem por execesso de interesses económicos) e simpatias excessivas com a União Europeia e uma agressividade estúpida para com a Federação Russa. Este tipo de gestão esquizofrénica do país, tem provocado inúmeros problemas, cujas principais vítimas são os próprios milhares que estiveram na rua a exigir a mudança de regime. Os resultados mais prováveis deste tipo de políticas são, em primeiro lugar, um abrandamento da aproximação à UE, e, em segundo lugar, uma crise energética (os russos vão fechar a torneira) que nos vai fazer gelar a todos neste Inverno, quem sabe com quantos milhares de mortos como desfecho final e mais visível.
No entanto, e apesar do acima descrito, não discordo em absoluto das opções políticas que têm sido feitas nestes últimos seis meses. Não discordo, porque tenho cérebro e racionalidade suficiente para ver que não existem saídas fáceis e que este país não tem alternativas a esta bipolaridade Europa Ocidental/Oriental, pela dependência económica que têm do exterior, pela força da herança cultural russófila, pelo próprio trauma de uma independência adiada durante 3 séculos, de um território dividido em fatias pela Polónia e pela Rússia, de uma população que nem sequer consegue acordar em ter uma língua comum.
Eu que me queixo da dureza deste povo, tão desagradável em contactos pessoais, muitas vezes tenho que reconhecer que é isso que os mantém vivos e à tona d'água. Se assim não fosse teríamos outra revolução neste momento, em que há quase duas semanas que assistimos a cenas de pugilato no Parlamento.
Como toda a nação em mudança, há que ter paciência e confiar num futuro melhor. O que eu já não sei é se esta gente não esgotou as reservas da sua santa pachorra nos últimos 500 anos de más condições de vida e de tiranias governamentais diversas. Penso que, se a situação se aguentar presa pelo fio da esperança, em 30 anos teremos uma Ucrânia forte e capaz de oferecer um futuro aos filhos desta terra, até lá os ucranianos terão que fazer o que nós fizémos (e, infelizmente, continuamos a fazer) - transformar o desenrascanço numa arte nacional.

03
Jul 05
publicado por parislasvegas, às 04:35link do post | comentar
Vale. Nem que seja por isto. Esta é a vila de Luzhi. Conhecida pela "veneza chinesa" fica a cerca de 100 Km de Shangai e apenas se consegue visitar integrado no pacote turístico da região. Digam lá se não vale a pena???

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publicado por parislasvegas, às 03:50link do post | comentar
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O comentário da minha mãezinha a propósito de Shangai, na posta anteiror, fez-me lembrar de outra característica que a China tem - não podemos nunca dar a nossa opinião e estar certos que os outros também a partilham. Seja qual fôr a cidade chinesa de que falamos, todas as impressões são altamente individualizadas (pelo menos para os ocidentais) e, geralmente, bastante fortes. Com a Ásia, em geral, não há meias tintas. Penso que o caso africano deverá ser o mesmo - ou se ama, ou se odeia. De tão diferente que se nos apresenta a realidade, que não há sequer tempo para se decidir se gostamos ou não. O impacto da terra e das gentes é intestinal. Vem de dentro, é quase físico, e ao mesmo tempo ligeiramente místico.
Cada vez que vou ler novamente as minhas notas de qualquer viagem asiática, tenho a impressão de que me deslocaram para um mundo que funciona com regras diferentes em tudo, menos na física e na química. Há coisas, após estas 5 ou 6 viagens em apenas 3 anos, que eu já dou por mim a fazer automaticamente. Por exemplo: desta última viagem, com a mudança de clima (passei de 15 para 45 graus) apanhei uma ligeira constipação, acompanhada de uma valente dor de garganta e dei por mim a pedir à minha cunhada que me fizesse um chá de gengibre e coca-cola, mistela altamente desagradável de gosto, mas que é tiro-e-queda para resfriados.
Nestes anos a trabalhar com culturas e costumes estrangeiros, a viajar por obrigação e por gosto, tenho encontrado hábitos tão radicalmente diferentes dos nossos, que acabei por interiorizar e que já me saem mecanicamente nas alturas certas. Outro exemplo: nunca estender a mão a um muçulmano. Porquê? Porque se provoca uma situação desagradável para os dois - o senhor não vai gostar de ter de apertar a mão a uma senhora (até porque o contacto físico seria uma falta de respeito para mim), mas se estiver num ambiente ocidentalizado, vai passar por tacanho, fundamentalista e etc, se não o fizer. Ora, (e isto aprendi com os chineses) porquê fazê-lo passar uma vergonha, quando o acto de me apertar a mão apenas me ofende a mim (lá na cultura dele, claro..). Assim, cumprimentando estes senhores com uma respeitável vénia, que é sempre alegremente correspondida (com alívio, diga-se....) salvam-se duas faces - a dele e a minha. Toda a gente ganha, e não dói a ninguém.
Escrevi este exemplo com a religião islâmica, por ser o mais fácil de compreender, mas com um monge budista seria a mesma coisa. Pouca gente sabe, que uma senhora deve sempre manter uma distância respeitosa de um monge, não deve olhá-lo de frente, e não deve tocar nunca, nem na sua pele, nem nas suas vestes.
Para mim, absorver os diferentes códigos de comportamento humano, e, acima de tudo, tentar entender a sua razão de existir e os mitos e histórias por detrás dessas regras, é o meu "desporto" favorito. Na verdade, às vezes penso que devia ter sido antropóloga ou socióloga, mas, infelizmente, se tivesse seguido essa via, se calhar ainda não teria tido oportunidade de ver metade do que tenho visto do mundo.
É esse o fascínio que a China exerce sobre mim, e é por isso que tenho metido na cabeça que ainda tenho que ir para lá viver, nem que seja apenas por uns anos. Só para tentar descortinar um pouco dos diversos costumes, das tradições, da mitologia e etc. E quem quer isso, tem mesmo que estar lá a tempo inteiro.
Este desejo, faz parte da minha filosofia de vida. As pessoas e a diversidade deste mundo, são apenas manifestações exteriores de outra coisa que eu não consigo compreender. Não porque ainda seja nova, ou não tenha experiência. Simplesmente não sei se alguma vez vou conseguir compreender essa tal "energia superior" que é suposto regular tudo isto.
Aquilo que eu levarei comigo quando acabar a minha curta permanência neste mundo, serão as experiências e o meu contacto com outros humanos. Daí a minha curiosidade de querer conhecer tudo - este mundo é demasiado grande, e a vida demasiado curta para não aproveitar.
Também é verdade que, dentro do meu jeito fechado de alentejana, tenho capacidade suficiente para me adaptar e para estar sempre a aprender coisas novas, ou melhor, para estar sempre a começar tudo de novo.
Penso, também, que este dessasossego tem que ter alguma coisa a ver com os meus genes de portuga da planície. Tantas gerações de seara como paisagem devem ter curto-circuitado os meus neurónios e agora só quero é lonjura, mar e distância da Europa. Claro que também preciso de tratamento psiquiátrico, porque uma pessoa que acha piada a recomeçar tudo de x em x anos, deve ter um grave problema na moleira. Maior parte dos humanos já são sedentários há milénios, e eu ando com alma de nómada a propósito de quê?
A tudo isto, junta-se o grande stress de estar a ficar velha (salvo seja!) e de pensar e sentir que tenho de sedentarizar não importa onde, porque essa é a melhor maneira que eu conheço para educar crianças que possam ser, no futuro, pessoas equilibradas e que tenham coragem suficiente para tentarem ser felizes.

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