Apesar de escrever quase sobre tudo neste berlogue (incluíndo a puta dos sapatos azuis-leopardo), devo informar-vos que a minha vida não está aqui escarrapachada. Há todo um sector envolvido em mistério que, basicamente, gira à volta de tudo o que são detalhes do meu trabalho, do meu relacionamento com o amor da minha vida e dos meus pensamentos mais profundos. Esta última parte, a dos meus pensamentos mais profundos, não consta do berlogue apenas para não adormecer o público. Não tem nada a ver com problemas meus de partilhar o que me vai na cabeça. Na realidade, se o pessoal já pensa que sou avariada da cornadura com postas relativamente "levezinhas" imaginem se me pusesse aqui a divagar em profundidades. Provavelmente tinham que me fazer um voo charter directo pró Miguel Bombarda.
Esta posta, embora não pareça até agora, tem a ver com a anterior. Esta coisa estranha de me sentir "Alien" em quase todo a parte. Como o título bem ilustra, esta posta tem a ver com a distância e com as mudanças que essa gaja tem operado em mim. É que o meu crescimento enquanto pessoa não tem apenas o contributo desse grande filho-da-puta que é o tempo, e dessa tresloucada que é a experiência. A estúpida da distância também tem dado o seu contributo. E bastante.
Esta distância não é apenas física, não se trata de estar há praticamente quatro anos longe do meu país. Basicamente, as saudades que eu tenho de Portugal poderiam ser resumidas num vídeo do ICEP: praias, os campos de golfe, o sol e a boa comida, Lisboa ao pôr do Sol, passear no Castelo, ir beber um copo ao Bairro. O sonho de qualquer turista, portanto.
A distância que me tem moldado a personalidade é a distância a que estou de todo e qualquer conforto emocional. Falta de colinho de mamã, falta de abracinho de amigos, essas coisas. A distância não me afecta laços de amor e amizade que já são perpétuos. Mas o que me custa é ver e ouvir a minha família e amigos com dificuldades e não poder fazer praticamente nada para ajudar. O que me custa é quando eu tenho problemas não poder agarrar no telefone e combinar um bom cafézinho com a minha mãe ou um/a amigo/a. Na fase da vida em que estou e,principalmente na minha profissão, já não se fazem amigos. Os que tenho estão à distância de um clique de rato, que é uma distância matemática e abstracta. Enquanto não nos olhamos nos olhos continuo com saudades. O telefone não substitui uma boa olhadela aos nossos amigos. Só assim é que consigo saber quem realmente está bem...
Outra filha-da-putice que a distância me vem fazendo há quatro anos é que faço sempre papel de corno. Sou sempre a última a saber das coisas. Tem a sua lógica, mas lixa-me na mesma. Até a minha família me faz isso. Já que não posso ajudar, para quê preocupar-me???Preocupem-me caraças, é pra isso que a família serve, é pra isso que os amigos servem.
Não me tenho sentido sozinha, não me tenho sentido "fora" do meu círculo habitual, mas sinto-me longe. Tenho pena de não acompanhar as grandes mudanças das vidas das pessoas que gosto. Tenho pena de quase não conhecer os filhos dos meus amigos.
Já aprendi a lidar com o tempo (rugas, venham daí à vontade, posso convosco e muito mais) e ando atarantada a aprender a lidar com a experiência (isto às vezes não é fácil...), a distância é uma coisa com a qual eu vou lidar mal pró resto da minha vida. Habituei-me, mas não gosto. E muito embora a distância não tenho exclusiva responsabilidade pelo meu ar estranho (cá está a ligação com a posta do "Alien"- Ha!ha!), a verdade é que quando se está longe de um determinado standard estético, é inevitável perder todo e qualquer "fashion sense". Portanto, mais uma filha-da-putice imputável à distância é o facto de me vestir como estrangeira em qualquer sítio do mundo. Dessa não tenho pena. Pelo que eu leio aqui, parece que a última moda é ser loira e usar encharpe...Já passei essa fase.