
Na posta anterior escrevo sobre a perca generalizada de regras e a confusão que esse factor provoca na sociedade em geral. Ok, reconheço que me deu um ataque de depressão e mau feitio e, como é hábito, pintei um quadro super-negro do futuro e etc. Pois é, tenho muita pena, mas ando a atravessar essa fase há mais de um ano. Primeiro achei que estava simplesmente a crescer e a abrir os olhos, mas agora vejo que ando mesmo é deprimida que nem uma alcachofra seca, sem apelo nem agravo. Não, não é a Ucrânia que me deprime, é mesmo a situação de merda em que encontro em termos profissionais. Isto é mesmo típico! Nos Estados Unidos já me teriam pago uma fortuna para fazer uma sitcom, tipo sex and the city, sobre a trintona que viveu a vida toda em função do raio da vida profissional e que agora se afundou numa deprê desgraçada, apesar de viver confortavelmente e ser casada com o tipo mais espectacular deste mundo....Reconheço que é irónico. Anda uma gaja a falar de assuntos do coração durante metade da sua vida útil, e, finalmente, quando lhe sai o príncipe encantado na rifa, a estúpida resolve mirrar psicologicamente...Fantástico. Coitado do Xano.
Isto tudo para dizer que continuo convencida que a mudança de regras sociais nos está a afectar profundamente no campo dos relacionamentos pessoais. Se assim não fosse, não se perderia tanto tempo, nem se gastaria tanta tinta a opinar sobre eles. Ou sobre elas. É que, apesar da proliferação de famílias com casais homossexuais, o prémio da complicação ainda vai para as relações entre homem e mulher. Pois é, os heterossexuais ganham o óscar da problemática do relacionamento....
Eu acho que este é daqueles assuntos em que, quanto mais se fala, menos se chega a conclusões. É simples: não basta estarmos a lidar com géneros diferentes, e logo aí a coisa torna-se difícil porque temos que recorrer a categorias e a generalizações do género: "os homens não fecham a tampa da sanita" e "as mulheres são paranóicas com a pasta de dentes", mas também porque parece que ainda ninguém percebeu que num casal heterossexual a regra que tem que ser aplicada é a do "todos diferentes, todos iguais". Não entendo porque é que uma gaja tem que forçar o tipo a aspirar a casa. Passa-me ao lado. Não há nada mais que um tipo possa fazer no lar-doce-lar? A chave é dividir a carga de trabalhos que dá ter uma família, instalar um lar, sem ter que forçar os dois a trocar de papéis a toda a hora.A coisa tem que ser feita com mentalidade empresarial: quando a gaja se volta e diz ao tipo que ele tem que aspirar a casa não pode ter argumentos do estilo " dividindo custa menos". Os neurónios masculinos recusam-se a processar esse tipo de razão (isto não era tarefa tua? lá em casa a mãmã é que fazia isso...NUNCA NINGUÉM FALOU EM ASPIRADOR, EU NÃO SEI USAR UM ASPIRADOR ...que abuso é este?????)Então, das duas uma: ou se aborda a questão no segundo encontro (e se acaba de vez....) ou se encontra uma justificação plausível para a "troca de papéis". Mulheres deste mundo - aproveitem os recursos humanos do vosso lar, ponham os homens a fazer coisas que sejam úteis, mas que não os "humilhem". Isto é: deixem de pôr gasolina aos carros lá de casa, recusem-se a ir ao mecânico (os argumentos de "mas o carro é teu!" não colam: "a merda do tapete lá de casa também é "teu" e nunca o aspiras...")não preencham os papéis do IRS, caguem para tudo o que é burocracia ("mas amor, tens muito mais jeito do que eu para essas coisas....") ponham os tipos a efectuar todos os transportes lá de casa, inclusivé levar-buscar os putos à escola, infantário, etc. Não são tarefas-fêmea, é proibido protestar. A mim, deve-me ter saído a sorte grande e a aproximação, não tenho esse tipo de problemas, nem outros...Devo reconhecer que, nestes 5 anos com o Xano, nunca tive incompatiblidades de tarefas domésticas. Fazemos aquilo que é preciso quando é preciso. Funcionalidade mística, nem sequer falamos nisso.
O sexo é outro tema que ocupa milhentas páginas, cibernéticas ou reais. Uma vez mais, vivemos na visão esteriotipada. A sério - durante grande parte da vida adulta pensei, secretamente, que era anormal porque não correspondia à descrição esteriotipada das mulheres da minha idade. Ainda hoje quando por brincadeira, me chamo de "trintona" sei bem que, na realidade, não obedeço ao esteriotipo e que estou a induzir os outros em erro em relação à ideia que formam sobre mim. Mas isso diverte-me. Não acho piada nenhuma é às ideias de que os homens estão constantemente a pensar em mamas e cus e nós somos todas umas santas e puritanas que amamos toda a gente pela sua fantástica personalidade e não abandonamos casamentos por causa das criancinhas. Continuem a pensar assim que vamos longe. Como se os homens não encontrassem felicidade com companheiras com uns quilitos a mais (ou a menos, como é o meu caso..) ou que não sejam exactamente réplicas da Cindy Crawford. Ou como se as mulheres não fossem capazes de arranjar um companheiro puramente por interesse físico ou, ainda pior, por puro interesse material.
Também não sei onde se foi buscar a estúpida da ideia que as mulheres nunca querem sexo de manhã e que os homens querem sexo a toda a hora, mesmo depois de terem dois ataques cardíacos por causa do viagra.
Este relambório todo para ilustrar até que ponto é que as ideias feitas podem ser prejudiciais às nossas vidas. Um tipo, quando arranja companheira, apenas vê a "fada do lar" que a mãezinha lhe disse que ele iria encontrar um dia. Uma tipa, quando encontra companheiro, apenas vê o "príncipe encantado" que a mãezinha lhe disse que ela iria arranjar um dia. A triste realidade é que todos nós somos pessoas. E bastante imperfeitos, por sinal. Não entendo porque insistimos em não ver aquilo que está escarrapachado à nossa frente. Um relacionamento apenas pode ter hipóteses de dar algum resultado se aceitarmos a pessoa que somos e aceitarmos o outro como ele é. Sem aspiradores e tampas de sanita pelo meio. Não se trata apenas de nós fazermos o esforço de reconhecer o outro, mas também de manter uma comunicação constante para nos darmos a conhecer. Muitas vezes, a imagem da fada do lar ou do príncipe encantado somos nós que a transmitimos, mesmo sem intenção. E depois ficamos lixados quando os outros exigem que actuemos de acordo com a imagem que nós próprios alimentámos na cabeça do outro.Ah pois é....