Histórias de uma portuga em movimento.
06
Out 05
publicado por parislasvegas, às 02:14link do post | comentar

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Laryssa Kvitka-Kosach, mais conhecida como Lesya Ukrainka (pseudónimo literário), foi uma das poetizas mais aclamadas da Ucrânia.
Mulher isolada e discreta, apenas sabemos da sua vida aquilo que ela própria quis e deixou escrito com autorização expressa de divulgação. Ou como dizia o seu marido "Lesya não tinha contacto com pessoas àquela escala necessária para tornar relevantes ou interessantes os pormenores da sua vida aos olhos do público".
No entanto e após ter lido algumas traduções para inglês, de alguns dos seus trabalhos, e após me ter apercebido da importância que esta mulher teve no reavivar da língua ucraniana e na resistência contra domínio do império Russo sobre esta terra, apercebi-me que a descrição dada pelo seu marido era apenas excesso de modéstia e recato.
Lesya nasceu em 23 de Fevereiro de 1871 em Novohrad-Volynsky, na Ucrânia ocupada pela Rússia. Os seus pais, Petro Antonovych Kosach e Olha Drahomanova-Kosach já circulavam no meio da escrita, Olha era escritora e editora, enquanto Petro dirigia a assembleia regional.Como é óbvio o pai de Lesya era russo, mas daqueles que o império não apreciava lá muito - fazia questão de educar os seus filhos na língua ucraniana e comprar tudo o que fosse publicado por escritores nacionais.
Assim como o pai Petro sempre se interessou pelas matemáticas, a pequena Lesya dedicou-se com o mesmo tipo de obcessão intelectual à língua e lieratura. Lesya aprendeu desde muito cedo que teria que falar uma língua em casa e outra na rua. Aos quatro anos começou a ler e ainda durante os seus primeiros anos aprendeu russo, polaco, búlgaro, grego, latin, francês, italiano, alemão e inglês.
Aos oito anos escreve o seu primeiro poema, dedicado à tia presa e depois exilada por se opôr à aristocracia czarista que dominava a Ucrânia de então.
A saúde de Lesya deteriora-se ao 13 anos quando lhe é diagnosticada uma tuberculose. Forçada a um confinamento na cama, Lesya vinga-se a escrever e publica o seu primeiro livro de poesia.
Mais tarde, aos 17 anos, funda com o seu irmão o primeiro círculo de literatura ucraniana "Pleyada", onde se discutia não apenas a literatura nacional, mas se tentava traduzir obras clássicas para ucraniano. Lesya continuou o seu desenvolvimento como escritora abarcando tudo, desde poesia épica a crítica literária, textos socio-políticos, peças de teatro etc..
Em 1897 apaixona-se por Serhiy Kostiantynovych Merzhynsky , também ele tuberculoso. A experiência desta paixão que culmina na morte de Serhiy, faz com que Lesya escreva os seus poemas mais fortes sobre temas que, até aí, ainda não tinha abordado:amor,paixão,morte,vazio. Lesya casa com Klyment Kvitka em 1907, mas a sua vida não se estende por muitos mais anos. Morre em 1913 aos 43 anos de idade, após 30 anos de luta com a tubercolose.
Uma vida típica do século XIX com o tempo todo passado na cama, tuberculosa a escrever. Por mais que a leia não consigo entender como é que esta mulher conseguiu traduzir para poemas o seu amor pelo país, pela língua, pelas paisagens infindáveis cheias de trigais. Tudo coisas que ela nunca viu. Há gente que nasce com um dom. Laryssa aproveitou-o ao máximo, nem a sua curta estadia neste mundo conseguiu apagar a chama que trazia com ela.

publicado por parislasvegas, às 01:23link do post | comentar

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Tenho a sensação que nem que andasse metida nos ácidos a minha vidinha não seria tão alucinante como agora, ao vivo e a cores e sem substâncias de recreio...
Não é preciso nem dizer que já só tenho duas velocidades: devagar e devagarinho. E vai assim, doa a quem doer, até ao final da minha estada na Ucrânia, sob pena de isto dar o peido môr (pardon my french).
Decidi, portanto, borrifar nas porcarias todas que estão a correr mal, e encarar a vida alegremente, como boa portuguesa que sou: Isto há-de se resolver, a malta há-de dessenrascar-se, tudo vai acabar bem, e etc.Não estou agora a ver como, e por isso não vale a pena martirizar-me mais.De modo que liguei o "há-de", continuando a não saber bem o que fazer, mas como diz a outra "isso agora não interessa nada".
Continuo sem ter onde viver (mais uma semana e acabou-se..), com o argumento de que todos os apartamentos do tamanho adequado estão cheios. Parece-me totalmente impossível, mas borrifei, há-de arranjar-se.Bem sei que a minha posição profissional não me torna uma pessoa exactamente popular nesta cidade, mas não quero agora entrar em teorias da conspiração. Provavelmente os agentes imobiliários estão a ver se se aproveitam do meu desespero para me cobrar o triplo do preço justo.Que eu vou ter que pagar por falta de alternativas, mas paciência...
Ainda não tenho onde colocar os meus bens pessoais (que não vão caber num estúdio de 20m3) mas aí também não posso fazer mais do que pendurar-me ao telefone a chatear quem deve resolver o problema.
Entretanto, e sabendo que não tenho onde armazenar as minhas coisas, não tenho onde viver, não tenho onde manter os meus animais e etc, ando afundada num verdadeiro corrupio de diplomacia croquetada, em despedidas, encontros finais com colegas vários, agradecimentos e discursos dignos dos óscares, etc...Ou como diria a minha avó, cá ando vestida de seda com as cuecas rotas.
Não me resta outra alternativa senão, à semelhança de tantos portugueses, repetir o mantra dessa grande guru da nossa sociedade: a Teresa Guilherme.Chego ao escritório e fecho-me a murmurar baixinho: "isso agora não interessa nada" até à exaustão....
No entanto, e como tuga de gema, continuo a apostar a minha cueca rota em como "isto ainda se resolve", no último dia, mas vão ver se não é assim!

04
Out 05
publicado por parislasvegas, às 02:45link do post | comentar

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Chama-se assim por ficar no nº44 da Avenida principal da cidade (Xreschatik). Foi sempre um sítio de eleição para "gente normal" e estrangeiros perdidos. Nestes quatro anos tenho frequentado regularmente o bar porque, para além de bom ambiente (sem novos riquismos, sem máfias, sem pretenciosismos, mas com muitos novos-intelectualóides-a-imitar-tendências-estrangeiras) tem a melhor música ao vivo da cidade.
Numa das primeiras idas a este bar, um dos meus amigos (que por acaso até fala um excelente russo) foi abordado por uma rapariga que lhe suplicava que fosse com ela, por cem dólares, não que ela fosse puta, nem pensar nisso, mas é que tinha que pagar a renda e o prazo acabava amanhã e não podia perder o apartamento e etc. O que vale é que o meu amigo não se escandalizou nada com a abordagem, tinha vivido na URSS tempo suficiente para saber o que a casa gasta. Isso foi há quatro anos, e nunca mais vi cena que se parecesse. A terra mudou e as pessoas também...
Há cerca de dois anos, tivémos a sorte de conseguir ver DePhazz ao vivo e a côres, num concerto privado, regado a champagne, com toda a gente meio bêbeda, inclusivé a banda.

Sábado passado lá estivémos, a festejar o nosso último jantar no 44 (caso tenha sido, realmente, o último) com uma banda fantástica - Sabaki Dojdiá - ou Rain Dogs, em inglês. Como o nome da banda indica, são inspirados no Tom Waits. Verdadeiros performers cantam tudo e um canudo: blues, jazz, salsa, reggae, skank, eu sei lá...e em russo!Dos melhores concertos que eu já vi.

Este foi regado a cognac e,devo confessar, foi com grande dificuldade que vivi este Domingo. Uma ressaca fabulosa mais o regresso da Super-mãe a Portugal deram cabo de mim. Já recuperei. Gostava que mais amigos tivessem cá vindo, só para ir beber um copo ao 44, vale a pena!


publicado por parislasvegas, às 02:18link do post | comentar
Interrompo a rúbrica "meu amor, meu estupor" para comemorar comigo própria (tchin-tchin) o dia de hoje: há 10 anos entrava eu no Convento pela primeira vez, assustada com o sítio e com fauna estranha que o povoava.
Aprendi muito nos primeiros três anos de trabalho, graças às pessoas que acreditaram em mim e, ao contrário de muitos, se empenharam em ensinar-me e aconselhar-me a melhor forma de fazer bem o meu trabalho.
Diverti-me muito também. Durante três anos, viajei imenso pelas barragens e pontes da raia, pude ver em que medida o meu trabalho facilitava a vida de pessoas reais. Madrid uma semana por mês, e as comidinhas da raia alentejana. Que bons tempos esses!
Agradeço ao meu Embaixador da altura que nunca me deixou desistir, apesar dos problemas pessoais que tive nesses anos. É nele que penso hoje quando me dão as fúrias: "cuidado minha filha, não deixes os gajos perceberem que tu pensas!".
E à minha secretária, que do alto dos seus 63 anos nunca me falhou um conselho!!!!Hoje vou beber um copo à vossa!
Entretanto, muito água rolou debaixo da ponte. Mudei do Convento para o Palácio e do Palácio para Kiev e agora outra nova mudança para Paris. Fui fazendo tantas coisas diferentes, cada sítio um novo desafio por dentro e por fora. Estou muito satisfeita pela mudança que aí vem. Mal posso esperar ter que começar tudo de novo!

03
Out 05
publicado por parislasvegas, às 07:20link do post | comentar
E se interessa por blogues, especialmente os de gaija, vão à livraria Almedina ouvir esta megera.

publicado por parislasvegas, às 03:06link do post | comentar
Ainda sobre o Andrei e a Ucrânia, excertos de um texto que o Kurkov escreveu aquando da realização do Festival da Eurovisão em Kiev. Este texto foi publicado no "Guardian". Reproduzo o texto aqui porque acho que ninguém melhor do que um escritor ucraniano para descrever o ambiente nessa altura:

"The shop windows of Kiev are being cleaned, the boats that take tourists up and down the river have been given new coats of paint and even the golden domes of the churches seem to be shining brighter than ever did in the time of former President Leonid Kuchma.The Eurovision song contest is finally coming to Ukraine.Invigorated by the experience of the Orange Revolution, when half a million people occupied Kiev's main square in November to protest at rigged election results, the people of Kiev are now expecting something revolutionary from the Eurovision. Even intelligent people with good taste in music have taken to pronouncing Eurovision in respectful tones, but is really the "Euro" bit of the word that they revere. Even before the events of November, most Ukrainians considered themselves European, but it took a revolution to attract Europe's attention to this country.(....)When chatting to an American friend of mine and his 16-year-old son recently in Paris, the son asked his father: "So when did they discover Europe?"The father laughed and looked at me to provide a response.After a moment's hesitation I said: "Western Europe was discovered a long time ago, even before America, but Eastern Europe is still being discovered and very slowly at that"Kiev has 1.500 years of history and is the birthplace of Christianity in Europe.The Dnepr (...) was once part of the trading route between Scadinavia and Greece. I have the impression that the descendants of those traders can now be found doing their business in the Argentinian restaurant in Podol.Podol is the "lower town". It was once the Jewish quarter and it has remained almost unscathed by "Soviet Architecture".There are plenty of cosy and modestly priced cafés, restaurants and bars, and churches of a dozen different denominations, synagogues and the Chernobyl Museum peacefully co-exist.

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Podol

The Upper-Town, which lies between the Pechersk Lavra (Pechersk Monastery) and the 11th-century St Sophia Cathedral, has always been the most aristocratic part of twon.Most government offices are located here, including the grey Stalinist building that was used by the Gestapo during the war and then repossessed by the KGB.That building now houses the Ukrainian version of the KGB, the Ukrainian Security Service.Judging by the enterviews given by a number of top generals, this organisation played a significant role in the "orange victory".
Image Hosted by ImageShack.usSanta Sofia

Image Hosted by ImageShack.usPechersk Lavra

(...)

Kiev is beautiful in May. This is the time when the chestnut trees and lilac are in bloom in the citiy's many parks and squares.In one of them, just opposite the Red building of Kiev State University, you will find the outdoor chess club.Every day, for the past 50 years, chess enthusiasts have come here to play for money and sports.

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Universidade Estatal de Kiev

(...)

Ukraine's black soil is so fertile that the occupying Nazis tried to export it in bulk to Germany.Food supply should never have been a problem for this country. None the less, Stalin succeded in induncing two terrible famines, in 1993 and in 1947, which claimed the lives of some three million people.

Food is an important part of Ukrainian culture. Home cooking is most respected and there is no tradition of restaurant going among ordinary people. Among the new business elite, however, there's a tendency to stay in restaurants day and night.(...)"

Andrei Kurkov para o "Guardian"

"A song for Europe in the wake of revolution"

Os cortes e as imagens são meus.


publicado por parislasvegas, às 02:47link do post | comentar

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Nasceu na parte russófila da Ucrânia, considera-se ucraniano a 100% e kievita por necessidade. Como todos os escritores, penou durante muitos anos para conseguir publicar o primeiro livro. Tem um estilo humurístico irónico que poucas pessoas levavam a bem durante a URSS e poucas pessoas acham piada agora.
É daquelas pessoas que tem capacidade de se rir cruelmente de si próprio, do seu povo e das misérias do seu país. Acho bem e acho que só um ucraniano poderia escrever assim. Escusado será dizer que o seu público mantém uma relação de amor-ódio com este escritor que é mais conhecido no estrangeiro do que dentro da Ucrânia.
Para mais o Andrei escreve em russo, língua mãe para ele e mais 20 milhões de ucraninanos, coisa que os outros 28 milhões também não levam lá muito a bem.
Nunca ouvi o Andrei defender outra coisa que não fosse uma Ucrânia unida e democrática, seja qual fôr a língua que se fale ou escreva. Conhecer este homem foi um presente óptimo que a Ucrânia me deu.Obrigado.

Fica o resumo do primeiro livro do Andrei que foi publicado no estrangeiro (existe tradução portuguesa, mas eu nunca a consegui encontrar) – Picnic no Gelo –

Picnic no Gelo (2001) – Um escritor frustrado e um pinguin depressivo encontram-se na sociedade mafiosa pos-soviética.
Viktor sente-se triste e sozinho. A um sonhador como ele, custa-lhe desenrascar-se e continuar a ganhar a vida nas circunstâncias em que se encontra: tem pouco mais do que a sua imaginação e uma gaveta cheia de retratos antigos e romances por publicar. Apenas Misha, um pinguin salvo do ZOO de Kiev, onde ofereciam os animais quando já não tinham possibilidades de os alimentar, lhe serve de companhia no seu triste isolamento. São tempos difícieis para quem vive numa cidade alimentada apenas pelo materialismo. Mas a vida de Viktor muda quando o redactor de um famoso jornal da Capital o encarrega de escrever notas necrológicas para personalidades importantes com antecedência, para publicá-las no dia exacto das mortes. Um dia, ao abrir o Jornal para onde trabalha, Viktor lê, para seu espanto, a sua primeira nota publicada.....
A partir daí, uma série de acontecimentos estranhos interrompem a existência tranquila de Viktor e do seu pinguin.
E outro que eu não sei se está traduzido ou não: Uma questão de Morte e Vida;
Tolya vive no centro de Kiev uma vida típica e sem perspectivas: partilha um quarto num apartamento colectivo com a mulher que o engana; sem emprego para lhe ocupar os dias, a sua única distração é ficar sentado num dos cafés do centro da cidade e observar os transeuntes. Nesta vida depressiva, Tolya apercebe-se que não coragem suficiente sequer para suicidar-se. Ao comentar a sua desgraça com um amigo, este diz-lhe que conhece um assassino por conta que lhe pode eliminar o amante da mulher por um preço muito razoável. Tolya decide contratar o assassino, mas indica-se a si próprio como alvo. Entretanto, uma série de acontecimentos faz com que Tolya se arrependa da encomenda....


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