Ora já cá faltava mais uma posta de balanços....
Estas postas são ligeiramente ridículas, porque cheiram e sabem sempre ao mesmo. Mas uma das razões que me levou a manter este blogue tanto tempo, foi o contributo que o mesmo dá à racionalização dos eventos que passam por mim nesta vida, e este balanço cai dentro dessa categoria.
Iniciei este ano com uma tensão desalmada, a organizar um casamento em Pequim e a pensar na nossa candidatura para mudança de país.
Os dois acabaram por correr muito bem.
Tenho a dizer que, deste ano de 2005, o que mais me marcou, pessoalmente, foi realmente o festejo da nossa união. Passados quatro anos de vida em comum, resolvemos juntar as nossas declarações de impostos (única vertente deste passo que foi disparatada...). Para comemorar isso, arrastámos 30 pessoas, algumas vinda do cú de Judas (de Portugal, pois) a Pequim e daí para Shangai.Ainda não sei se o mais estranho foi a festa em si, com certa de 35 amigos de 20 nacionalidades diferentes, ou a Lua-de-Mel, acompanhados de pais, tios, primos e filhos. Seja como fôr, adorei e quero repetir. Eu e o Xano ainda temos que casar outra vez, em Portugal, mas isso fica para 2006. Gostava de organizar uma festanga com comezaina e rios de bom tintol para festejar com os amigos e família que não puderam estar na China connosco. É mesmo só para curtir, uma vez que a papelada está toda assinada e não há mais ceremonial. A menos que o Xano queira o tal monge budista...
Nessa altura, ao stress do casamento juntou-se o stress da candidatura. Assim que regressámos da China e ainda meio jet laged, tivémos que puxar pelos neurónios e tentar medir relações de poder, competência, prós e contras para a carreira e vida pessoal, de modo a elaborar as listas, por ordem preferêncial, com os países onde queríamos trabalhar a seguir. Paris estava em penúltimo lugar, mas acabou por se revelar uma surpresa agradável.
Acabámos por pôr Paris em penúltimo lugar por várias razões - primeiro porque eu não queria viver aqui. Achava que a cidade era desmesuradamente grande e que o choque civilizacional iria ser terrível para quem vinha da Ucrânia. E é verdade.Mas agora que já cá estou há três semanas e já me passaram os ataques de choro no supermercado (choque perante a abudância) acho que foi óptimo termos vindo e que vamos cá estar bem felizes da vida. Segundo, porque pensámos que haveria uma concorrência terrível, e que isto não era para o nosso dente. O que também foi verdade, mas afinal provou-se que o respeito profissional que têm por nós não é assim tão reduzido como pensávamos.
Passados três meses em stress, lá soubémos que nos tinha saído Paris na rifa. Fiquei cheia de boas intenções, pensava estudar sobre o país e a cidade, ver mais filmes franceses, começar a preparar a minha transição para a civilização. Pensava pois, mas não consegui. Um acidente e vários tropeços de percurso, fizeram com que eu passasse maior parte deste ano a trabalhar alucinadamente, sem grande tempo para grande coisa.
A nível de viagens, lá consegui ir a Portugal, uns dias. Sem fazer nada de especial,mas a encontrar família e amigos. Para além de Pequim (3 vezes em 2005!!!!) e Shangai, ainda consegui ir a Amesterdão.Infelizmente sem praia.Foi o meu terceiro ano sem praia, mas a culpa é exclusivamente minha. Projectos vários me têm arrastado até à Ásia em partes que não são tropicais...Passei por Moscovo (graças a Deus não durante muito tempo) e o resto do tempo foi passado em Kiev, à espera do grande dia da saída.
A partir de Setembro, a minha vida começou a patinar largamente na maionese com os preparativos para a mudança, até que em Outubro, fiquei sem nada e mudei-me para um apartamento soviético ranhoso e etc...essa história vocês já sabem.
Consegui vir acabar este ano em Paris, o que já não é nada mau. O novo ano de 2006, espero-o recheado de espetáculos, bons filmes, bons livros e excelente comida.
De cinema quase que não vi coisa nenhuma, e o que vi foi tudo na sala lá de casa. Detestei o "million dolar baby" e fiquei muito desiludida com o Clint. Vi muitos filmes antigos de que gostei, "the salton sea" por exemplo.
Houve outros, muito levezinhos que cumpriram bem a sua função de entertaining como o "Ocean's Eleven" e o "Ocean's Twelve". Como vêm, nada de especialmente intelectual. O máximo a que cheguei de cinema de autor, foi ter conseguido uma cópia do "Vou para casa" que já é antigo, mas que só agora consegui ver.
De livros, não vou falar com muito detalhe.Considerando que leio um ou dois por semana, não vos vou estar a chagar com o que gostei ou não. Da tralha toda que li este ano aconselho vivamente os seguintes:
1. Yan Mo, Le maitre a de plus en plus d'humour, ed.Broché - relato da China contemporânea, uma visão crítica, ternurenta e humorística da adapatação da sociedade chinesa ao novo Capitalismo;
2.Daniel Manson, O Afinador de Pianos - escritor jovem, que me surpreendeu pela qualidade da escrita. Romance que espelha a atracção que o Sudueste Asiático pode exercer sobre um ocidental. Obrigado ao Riki e à Blimunda pelo empréstimo;
3. Andrey Kurkov, A Matter of Life and Death, ed.Harvill Pr - a tal história que já contei neste blogue, sobre um homem em plena depressão pós-soviética que contrata um assassino para o matar. Excelente.
Uf, nem sabem o trabalho que me deu, escolher só três....
Apesar de ter passado um 2005 bastante enervante, acho que o ano não correu nada mal. Para 2006 quero paz. Muita paz, e que o resto me corra tão bem como neste ano.
A todos desejo MUITA PAZ, MUITA SAÚDE, MUITO AMOR e, já agora, muitas daquelas coisas com que se compram os feijões. UM 2006 DE ARROMBA!!!!