Histórias de uma portuga em movimento.
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Dez 05
publicado por parislasvegas, às 08:04link do post | comentar
Isto de falar seis línguas anda a avariar-me o cérebro, isto  é,sempre fui avariada com a graça do todo-poderoso, mas agora que ando a falar SÓ UMA língua, o cérebro anda a entrar-me em curto-circuito...
Por hábito e necessidade passei os últimos quatro anos a falar português em casa e no trabalho, russo na rua e espanhol, italiano, francês e inglês com os amigos. Nos últimos dois meses de Kiev, falei quase exclusivamente russo e italiano porque não tinha com quem conversar em casa, e o português resumui-se a língua de trabalho.
Há cerca de dez anos que a minhas línguas de escrita para efeitos profissionais são o inglês e o português. Agora tudo isso se apagou e é francês e francês apenas (que ainda por cima é a minha "língua fraca").
Ando a sentir-me ligeiramente limitada...
Sempre que digo uma piada em inglês aqui ao pessoal do serviço, vejo que ninguém percebe. Educados em frança, não têm conhecimento de mais língua nenhuma. Na rua, se me esqueço de alguma palavra em francês, não vale a pena tentar comunicar com os locais noutra língua qualquer, porque ninguém sabe. Na URSS eu achava isso normal, ao fim e ao cabo, 75 anos de isolamento fazem com que a população fale só russo  e já é muito bom.
Aqui é o mesmo.Orgulhosos da sua língua e da Francofonia, espalhada pelos quatros cantos do mundo, como o nosso português, os franceses não falam absolutamente mais nada. Bom para eles.
Na minha cabeça é que vai uma cacofonia desgraçada. Dou por mim a agradecer às pessoas em russo, a meter palavras italianas no meio do francês, e a sairem-me espressões em inglês ou em espanhol quando me irrito (hijo de una gran puta ou fucking ass hole, por exemplo).
De maneira que estou mesmo MIGRA a sério, ao fim de cinco anos de ausência do rectângulo estou completamente baralhada.
Porque cada língua tem as suas expressões intraduzíveis, há certas coisas que só se podem dizer na versão original. Para mim, cada expressão corresponde a um determinado estado de alma, que apenas pode ser explicado numa determinada língua.
Por exemplo, o insulto italiano - vai fouri dei colhoni - é intraduzível, mas às vezes é o único adequado para certas situações em que alguém está ser chato comá potassa, ou, como também se diz em italiano, nos faz "girare le palle". Tá bem que também se pode dizer em russo "Ne pizdy", mas isso já demasiado forte para ser aplicado em situações de simples chaganço. É mais para quando chamam "suka" à tua mãe...
Para me familiarizar rapidamente com o calão parisiense (para desenvolver a minha capacidade de insulto na língua local - condição essencial para a adaptação a qualquer país) ando a comprar e consumir em série, "stand-up comedies" francesas. Estes tipos são especialistas nesse tipo de humor, e têm dos melhores profissionais que eu já vi. Hilariantes. De ficar com dor de barriga passado 5 minutos de espectáculo. Há temas que são comuns a todos os comediantes: a má educação dos parisienses, a imitição de sotaques dos vários emigrantes, a ridicularização dos meninos-bem, os tiques dos patos-bravos.Maior partes destes temas são comuns a qualquer comediante de qualquer país da União (tirando a má educação dos parisienses, bien sûr) mas todos fazem questão de incluir um sketch sobre o SOTAQUE DOS FRANCESES A  FALAR INGLÊS. A sério, é que uma pessoa não se aguenta, é de chorar a rir...."aou arre youe?" "ai ême finê, sanque youe". Não há explicação...
Mas ando rendida à francofonia, um novo mundo que ando a descobrir aos poucos de escritores africanos, músicos fabulosos, jornalistas que sabem articular duas ideias de seguida, e outras maravilhas que tais, às quais eu nunca tive acesso nos países em que vivi.
Vive la France!

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