Histórias de uma portuga em movimento.
19
Dez 05
publicado por parislasvegas, às 03:51link do post | comentar
Embora me tenha deixado de rastos, este fim-de-semana soube-me mesmo bem. Já vi que ainda não ando com resistência física suficiente para abusar desta maneira, a fazer mais de 1000 Km durante dois dias, mas quero ver se recupero depressa para começar a aproveitar mais e a viajar (outra vez) por essa Europa fora. Já me tinha esquecido de como tudo é perto, nesta parte da Europa.
Saímos de Paris na sexta-feira à noite (desaconselho vivamente),  e depois de cerca de duas horas para fazer 10 Km e conseguir sair da cidade, foram outras duas horas sempre a andar até Bruxelas. Teve a sua piada ver um risco na fronteira entre a França e a Bélgica - o lado francês seco e o belga molhado - estava a chover em Bruxelas, como sempre, aliás.
Raio de sina dos Belgas esta de não ver o Sol. Bruxelas até é uma cidade tão agradável, como tanta coisa para fazer (e pouca para ver), é uma pena que o clima seja a porcaria que é, e que isso deixe as pessoas tristonhas e deprimidas a toda a hora.
De Bruxelas a Bona são mais duas horas, com as estradas alemãs impecáveis, como sempre, e GRATUÍTAS. Engraçado esta regra alemã de não existir limite de velocidade em determinados troços de auto-estrada. Em vez de sinais de limite, existem uns sinais verdinhos de "velocidade recomendada - 130". E é verdade que a coisa funciona. Nesses troços, vai tudo a abrir com uma segurança impossível noutros países.
Os alemães funcionam matematicamente: na fila da direita vai o pessoal dos 100 aos 120, na do meio o pessoal dos 130 aos 150, na da esquerda o pessoal dos 160 aos 220. O tempo não estava grande coisa, de maneira que não vi ninguém a andar a mais de 180. Juízo. Os gajos têm juízo, tão simples quanto isso.
Gostei de Bona. Não tem nada a ver com outras partes da alemanha que eu conhecia, nomeadamente Frankfurt.
Bona é uma aldeiazinha simpática com a casa do Beethoven no meio.
 As pessoas são uns amores de simpáticas e tratam bem toda a gente. Bem sei que agora ando com tendência para achar que TODA a GENTE é educada e que TODA a GENTE me trata bem, depois da Ucrânia tudo o que vem à rede é peixe...
Mas aqui é mesmo verdade. Os alemães de Bona são gente simples, sem aquele ar "metálico" alemão, sem ares de superioridade e com educação e simpatia. Como foram a cidade Capital durante uns anitos, e, claro, ocupados pelos americanos depois da guerra, toda a gente fala inglês, o que é uma compensação para o meu mau alemão.
Fiquei estúpida com a minha capacidade de compreensão da língua - ainda percebo! e bastante! Falar é que já é mais difícil, mas com a prática acho que isto ainda vai lá.Infelizmente não tivemos tempo para ir a Colónia. Fica para a próxima viagem.
Eu que dizia que estava farta de Europa e não queria mais viajar neste Continente, acho que vou ter que engolir as minhas palavras. É que descobrir a Europa a este "micro" nível, andando de carro, é realmente bastante diferente do que aterrar nas Capitais, andar nos monumentos e pronto, está visto.
Viajar assim dá-nos, para além de dores de costas, oportunidade para conviver com os locais, parar em todas as estações e apeadeiros e ver mais de perto essa tal Europa, de que todos dizemos que fazemos parte, mas que raros de nós conhecem.

16
Dez 05
publicado por parislasvegas, às 07:43link do post | comentar
Como já repararam, ando a postar através do mail, e os códigos não me saem como deve de ser. Para quem quiser ver o link da posta cá de baixo, mais facilmente aqui fica:
http://www.lotuscars.com se este não funcionar, esqueçam que eu também....
Nunca mais refilo com a Portugal Telecom. A homóloga francesa vai demorar 10 dias até me instalar a net. 10 DIAS!!!!!
Até lá, vou postando por mail que me lixo.
Esta dos 10 dias é perfeitamente normal aqui, porque isto é a pátria-mãe da burocracia. Tudo tem que ser preenchido em sei-lá quantos exemplares para depois se ficar à espera sei-lá quantas semanas. A única diferença é que, findo o período de espera, aparecem-te em casa MESMO às horas que combinaram e a partir daí TUDO funciona. Não se pode ser perfeito, não é mesmo???

publicado por parislasvegas, às 03:49link do post | comentar
Uma das coisas estranhas, às quais me tenho que ir habituando lentamente nesta terra é o trânsito infernal de Paris e as bestas quadradas e obtusas que andam atrás do volante. Estes tipos são doentes mentais a guiar e devia ser proibido a qualquer parisiense, de qualquer sexo, ter carta de condução.
Mas os gajos são indiscutivelmente piores do que as tipas, dado sofrerem desse complexo comum a todo o macho latino - o síndrome da pila mirrada (SPM).
O facto de eu guiar <a href="http://www.lotuscars.com">isto</a>  faz com que tenha que aturar os SPMs alheios TODO O SANTO DIA. E passo a explicar: geralmente, quando  vêem o carro no meio do trânsito, todos os gajos que gostam de carros e têm a mania que são o Nikki Lauda com orelhas, aceleram o mais que podem para poder olhar bem prá máquina.
 Assim que chegam ao lado do bicho a reacção é sempre a mesma: cara de espanto TOTAL - UMA GAJA!UMA GAJA! seguido de aceleranço doido, slalom suicída à volta da minha máquina e várias exibições de ego ferido, que, devo dizer, me parecem bastante patéticas, para além de serem perigosíssimas no meio deste trânsito louco.
Nas auto-estradas a coisas piora. Tenho tido desde os melhores Porches até aos renaults twingos mais podres a tentarem fazer corridas comigo. Digo a tentarem porque os Porches ainda têm hipóteses (eu é que borrifo e finjo que não vejo a provocação - porque ainda ando com matrículas provisórias e a BT aqui não perdoa...), mas os twingos....Bha!
Estão a ver até que ponto o síndrome da pila mirrada pode atrofiar a cabeça a um homem, de modo a poder sequer passar-lhe pelas ideias que o seu chaço pode ultrapassar um Fómula 3...
Do estilo: sim, posso estar aqui com um chaço de 30 anos com 1.000 cc de cilindrada, e tu tens uma bomba de corrida, mas não interessa PORQUE EU É QUE TENHO O PÉNIS!!!!EU TENHO QUE PROVAR QUE SOU MELHOR A GUIAR DO QUE UMA GAJA, SENÃO VOU TER QUE DAR PORRADA À MINHA MARIA HOJE!!!!
Gajos: não percebo o raio do processo químico-hormonal que vos põe neste estado de loucura quando vêem uma gaja ao volante de um bicho mais potente do que o vosso, mas só vos digo: CUREM-SE, MATEM-SE, A PUTA-QUE-VOS-PARIU, MAS NÃO CHATEIEM, CANECO!
Melgas...


Yahoo! doce lar. Faça do Yahoo! sua homepage.

15
Dez 05
publicado por parislasvegas, às 08:04link do post | comentar
Isto de falar seis línguas anda a avariar-me o cérebro, isto  é,sempre fui avariada com a graça do todo-poderoso, mas agora que ando a falar SÓ UMA língua, o cérebro anda a entrar-me em curto-circuito...
Por hábito e necessidade passei os últimos quatro anos a falar português em casa e no trabalho, russo na rua e espanhol, italiano, francês e inglês com os amigos. Nos últimos dois meses de Kiev, falei quase exclusivamente russo e italiano porque não tinha com quem conversar em casa, e o português resumui-se a língua de trabalho.
Há cerca de dez anos que a minhas línguas de escrita para efeitos profissionais são o inglês e o português. Agora tudo isso se apagou e é francês e francês apenas (que ainda por cima é a minha "língua fraca").
Ando a sentir-me ligeiramente limitada...
Sempre que digo uma piada em inglês aqui ao pessoal do serviço, vejo que ninguém percebe. Educados em frança, não têm conhecimento de mais língua nenhuma. Na rua, se me esqueço de alguma palavra em francês, não vale a pena tentar comunicar com os locais noutra língua qualquer, porque ninguém sabe. Na URSS eu achava isso normal, ao fim e ao cabo, 75 anos de isolamento fazem com que a população fale só russo  e já é muito bom.
Aqui é o mesmo.Orgulhosos da sua língua e da Francofonia, espalhada pelos quatros cantos do mundo, como o nosso português, os franceses não falam absolutamente mais nada. Bom para eles.
Na minha cabeça é que vai uma cacofonia desgraçada. Dou por mim a agradecer às pessoas em russo, a meter palavras italianas no meio do francês, e a sairem-me espressões em inglês ou em espanhol quando me irrito (hijo de una gran puta ou fucking ass hole, por exemplo).
De maneira que estou mesmo MIGRA a sério, ao fim de cinco anos de ausência do rectângulo estou completamente baralhada.
Porque cada língua tem as suas expressões intraduzíveis, há certas coisas que só se podem dizer na versão original. Para mim, cada expressão corresponde a um determinado estado de alma, que apenas pode ser explicado numa determinada língua.
Por exemplo, o insulto italiano - vai fouri dei colhoni - é intraduzível, mas às vezes é o único adequado para certas situações em que alguém está ser chato comá potassa, ou, como também se diz em italiano, nos faz "girare le palle". Tá bem que também se pode dizer em russo "Ne pizdy", mas isso já demasiado forte para ser aplicado em situações de simples chaganço. É mais para quando chamam "suka" à tua mãe...
Para me familiarizar rapidamente com o calão parisiense (para desenvolver a minha capacidade de insulto na língua local - condição essencial para a adaptação a qualquer país) ando a comprar e consumir em série, "stand-up comedies" francesas. Estes tipos são especialistas nesse tipo de humor, e têm dos melhores profissionais que eu já vi. Hilariantes. De ficar com dor de barriga passado 5 minutos de espectáculo. Há temas que são comuns a todos os comediantes: a má educação dos parisienses, a imitição de sotaques dos vários emigrantes, a ridicularização dos meninos-bem, os tiques dos patos-bravos.Maior partes destes temas são comuns a qualquer comediante de qualquer país da União (tirando a má educação dos parisienses, bien sûr) mas todos fazem questão de incluir um sketch sobre o SOTAQUE DOS FRANCESES A  FALAR INGLÊS. A sério, é que uma pessoa não se aguenta, é de chorar a rir...."aou arre youe?" "ai ême finê, sanque youe". Não há explicação...
Mas ando rendida à francofonia, um novo mundo que ando a descobrir aos poucos de escritores africanos, músicos fabulosos, jornalistas que sabem articular duas ideias de seguida, e outras maravilhas que tais, às quais eu nunca tive acesso nos países em que vivi.
Vive la France!

13
Dez 05
publicado por parislasvegas, às 08:49link do post | comentar
Já que ainda não tive tempo para desempacotar a árvore e, pela primeira vez na vida, não tenho decorações nenhumas em casa, fica o blogue para lembrar a época. Espero que gostem da boazuda. O Pai Natal também merece presentes, ou não é????

publicado por parislasvegas, às 07:06link do post | comentar
Nem sei por onde hei-de começar. Não vou estar aqui com merdas de que a vida está difícil, de que tenho não-sei-quantas toneladas de tralha para arrumar, que estou desesperadamente a tentar apanhar um comboio em andamento (o meu novo trabalho), que ando às aranhas com esta cidade que não conheço, perdida e à toa com tudo, desde a casa, ao trabalho, aos percursos diários, às compras e etc. Não não vou estar com merdas, porque apesar disso tudo, a vida não está difícil.
Este primeiro período vai ser um bocadinho mais complicado, mas é uma altura que eu odeio e adoro ao mesmo tempo. O que esta primeira fase de adaptação tem de estranho, enervante e extenuante, tem igualmente de novidade, excitação e contentamento.
O melhor mesmo é contar a história como ela é e deixar-me de considerações filosóficas.
Cheguei cá, há cerca de uns 10 dias, ao mesmo que chegaram os 300 caixotes que continham a nossa vida empacotada.
Logo à chegada tive uma agradável surpresa: depois de cerca de duas horas de sofrimento com formalidades veterinárias em Kiev (e xixis no chão do aeroporto – bem feito!!!), mais três horas de viagem até Paris, as nossas meninas foram imediatamente libertadas no aeroporto francês. Sem esperas, sem demoras, sem mais stresses.
Os franceses têm esta relação estranha com animais de companhia: são MESMO animais de companhia- vão ao restaurante, supermercado e às compras em geral com os donos, vão aos aeroportos esperar donos que chegam, andam por todo o lado, enchendo as ruas de Paris com merda e xixis à vontadex. As nossas bestas são tão mimadas, mas tão mimadas, que assim que nos viram no aeroporto desataram a ganir, uivar, etc, e ainda bem. O pessoal da alfândega borrifou para o controle veterinário (embora elas tenham tudo mais do que em ordem) porque, e passo a citar: “os bébés precisam de ir pipi”. Haaa, civilização é mesmo outra coisa....
Passámos os restantes quatro dias a tentar imprimir um mínimo de ordem à casa, pelo menos para termos utensílios para cozinhar e roupa para vestir. Tivémos de ir comprar algumas coisas, porque temos vivido em casas parcialmente mobiladas até agora. Aqui começam as minhas figuras tristes....
Andei que nem barata tonta, feita estúpida, perdida com tantos móveis, tanta escolha, tanta coisa. Nestes últimos quatro anos habituei-me a viver sem algumas coisas e com outras de má qualidade, porque era só o que havia....
As “practicalities” ainda não acabaram, mas já conseguimos ter cama para dormir, duas cadeiras para sentar, mesa da cozinha e panelas para cozinhar. Ando inchada com a minha casa no campo, que tem potencialidades para se tornar a casa mais bonita em que já vivi.
Vivo numa aldeia, muito pequena, a cerca de 30 Km da cidade, uma aldeia onde maior parte das famílias são estrangeiros como nós, a trabalhar em Paris. Claro que maior parte das minhas vizinhas não trabalha, ou trabalham apenas em part-time. Quase todas têm filhos pequenos e nos países civilizados é assim que funciona.Há campos de criação de cavalos, quintas de produção de vegetais biológicos, enfim, campo, mas campo francês. Quando se vê a qualidade de vida dos camponeses franceses é que se percebe porque é que estes gajos “comem” 80% do orçamento da PAC.
Isto é mesmo um país de gulosos , ou “gourmands” como se diz aqui. Cada centavo que se gasta em comida é bem-empregue. A qualidade dos produtos, a frescura, os sabores, fizeram com que eu voltasse a ganhar gosto por comer e comer bem. Graças a isso ando a engordar a olhos vistos, em 10 dias a roupa já me está apertada.
Espero bem conseguir compensar os 10 quilos que perdi nestes anos de Kiev, mas também espero não me esticar para além disso. Também ando a gostar de me olhar no espelho novamente. Perdi o ar cadavérico, tenho côres e as olheiras já se transformaram nas minhas habituais marcas crónicas debaixo dos olhos, já não andam desgraçadamente negras e profundas, voltaram à normalidade de olheira “saudável” de mulher do Sul. E depois? O que querem que lhes diga mais???Ando feliz, porra, finalmente, ando feliz.

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