Com a TVCabo recentemente instalada, corro o risco de:
1-Deixar de ver televisão para todo o sempre;
2-Tornar-me cítica de televisão;
Isto pode parecer contraditório, mas não é. É apenas porque, maior parte das vezes, estou a ver televisão e a rosnar palavrões ao mesmo tempo, tal não é a parvoíce pegada que para ali vai.
Como passei quatro anos a papar documentários, filmes em DVD e as notícias da RTP internacional, tinha saudades de ouvir televisão em português. Isso passou-me rapidamente. Mesmo assim, tenho-me obrigado a "zappar", sempre na esperança de apanhar qualquer coisa interessante. Ao mesmo tempo, vou tentando entender uma realidade da qual tenho estado afastada e que, ao fim e ao cabo, também é minha.
Ontem, sei lá em que canal (isto não é snobismo -ainda não memorizei os nomes dos canais da TVCabo...) da rede SIC assisti a uma espécie de talk show com uns tipos que conhecia de voz e de nome, por terem trabalhado na rádio.
Como o país é pequeno, tem que se ir buscar o pessoal de uns mérdia para os outros, porque a tendência auto-fágica dos portugueses é usarem quem já se conhece para não apostar em novidades.
Toda a gente sabe que apostar em tipos novos pode ser perigoso, caso saibam pensar, podem começar a dizer alguma coisa de jeito e lá vai o resto pró desemprego....
Bom, mas como eu dizia, aquilo tinha pretensões a ser um talk show cómico. Claro que eu não consigo achar piada a muitas coisas , porque não as entendo. São "private jokes" de um país inteiro, no qual eu já não vivo vai pra cinco anitos, de maneira que a culpa é exclusivamente minha se não consigo perceber patavina do que se está ali a dizer.
Os tipos perderam uma eternidade a gozar com o JPP. Enjoa um bocadinho, estão a ver?Gozar com os tiques do Herman, ou do Cavaco Silva tem piada, mas gozar com o facto do JPP postar todos os dias a partir das 6 da manhã, não tem assim muito "gag".
No fundo, os gajos estavam a ridicularizar o Pacheco Pereira, não pelas suas ideias (que isso ele merece), não pelos seus tiques físicos (aquela voz até dá para "gag"), mas pelo facto de ser "nerd" e de passar a vida a escrever, de ter uma biblioteca com sei-lá-quantos-mil volumes e de ser completamente obcecado por registar a história do PCP.
Isto é, estavam ali uns seis tansos, provavelmente até com curso universitário (mas disfarçavam bem) a gozar à grande com o facto do homem ter uma inteligência e capacidade de trabalho superior à da média em Portugal.
Quero deixar bem claro que eu não gosto do homem, ok? mas acho estúpido gozar com o facto de alguém ser INTELIGENTE. Ridicularizar intelectuais pelo simples facto de o serem (sim, porque ridicularizar ideias já está fora do alcance desta gente) espelha a terrível necessidade nacional de nivelar tudo por baixo. Foi uma verdadeira ode à mediocridade. Perfeitamente anormal (não, não foi esse o programa)
Bem sei que ninguém tem pachorra para TV intelectual, caso contrário a 2 seria campeã de audiências.
Claro que um gajo chega a casa cansado do trabalho, lixado com o patrão, e ainda tem que aturar os putos e a Maria, claro que um tipo quer é reality shows prá carola, para ver se esquece a merda que a sua própria vida é. Concerteza. Por isso o Castelo Branco é héroi nacional e devia ser condecorado por fazer o Estado poupar milhares em assistência psiquiátrica. Deve haver muita mulher que não leva porrada há uns tempos porque o marido está distraído com as mariquices do Conde na TVI.
Bem sei que as televisões são empresas comerciais que querem apenas fazer dinheiro. Não andam ali para ensinar ninguém, nem para assumir um papel filantropo.
Bem sei que estou a ter outro choque cultural. A única coisa que me lixa é que, desta vez, é com a minha própria cultura.