Histórias de uma portuga em movimento.
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Abr 06
publicado por parislasvegas, às 11:54link do post | comentar | ver comentários (9)

 Habituada a sentir-me totalmente perdida, já considero perfeitamente normal estar longe de tudo e todos que conheço.

O apoio familiar que se tem e dá nestas circunstâncias são umas dolorosas "consultas" à distância em que, telefonicamente, são debitadas as mágoas e azares, alegrias e gracinhas da vida. Digamos que é uma merda, estar tão longe, com a ilusão de que se está perto. Mas a verdade é que para mim (no fundo para nós, visto que o Xano tem vivido a vida inteira assim) esta parte desagradável da vida tem-se tornado um hábito. Também, que remédio. Não se pode passar a vida a chorar a falta de raízes.

Daí que, quando conheço gente que se dá verdadeiramente mal com as distâncias e desenraízamentos, nunca sei se os hei-de considerar uns mariquinhas, ou  pessoas de força inegável e grande resistência psicológica, porque, apesar de lhes ser extremamente difícil, seguem em frente e continuam o seu caminho.

Tenho visto esta atitude em todas as nacionalidades e todas as culturas. Pessoas de todos os sexos e todas as proveniências culturais.

Há um ano atrás, a Cristina, uma amiga da Sierra Leoa, queixava-se-me da solidão de viver em Pequim,sem a sua "aldeia" para educar a filha. Para ela, educar a menina sem a presença das tias e das avós era o pior exemplo de maternidade. Acredito que aquela mulher está convencida de que a filha nunca vai ser uma pessoa "normal" por lhe faltarem as raízes.

Este fim de semana foi uma amiga iraniana que se queixou do mesmo. Isto sem falar das minhas amigas portuguesas que vivem cá, em constante choro por estarem desmamadas de família e amigos.

Não digo que não custe. Nas horas em que me dão os ataques de desmame (sim, porque uma mulher não é de ferro e também os tenho) lembro-me sempre da planta que adoptei como símbolo para minha vida: a orquídea.

As orquídeas sobrevivem a tudo - mesmo no clima do ártico existem espécies desta planta. Porquê?? Porque têm raízes aéreas. Com esta inovação genética, estas plantas não precisam de terra para sobreviver. Agarram-se a qualquer coisa, uma árvore, uma pedra, uma casca de coco - e seguem com a sua vidinha, não importa muito onde.

Apaixonei-me por estas plantas na Ucrânia, onde quase tudo morria dentro de casa, devido à oscilação térmica durante o ano e (desconfio....) devido aos bafos radioactivos de Chernobyl. As minhas orquídeas eram a única coisa que sobrevivia contra tudo e todos. Acabei por querer saber mais, visitar quintas de produção de orquídeas domésticas na Tailândia e ainda ando a estudar espécies e os cuidados que se devem ter com elas. Ao mesmo tempo que são resistentes a quase tudo, são altamente delicadas. Uma variação de temperatura na altura errada do ano, pode acabar com elas de um dia para o outro. Ou seja, outro ponto em comum comigo mesma...

Eu gosto de pensar que as pessoas-orquídea se dão melhor com esta vida do que as restantes. Que temos mais resistências e preserverança para ultrapassar dificuldades. Se isto é verdade ou não, ainda não sei bem. Mas lá que poupamos os outros às choradeiras do desmame, poupamos. E isso já é um gesto de simpatia da nossa parte.

 

 

 


publicado por parislasvegas, às 09:09link do post | comentar | ver comentários (2)

Aproveitámos estes dias de Páscoa para santificarmos o ninho e não fazer absolutamente nada. Já tinha saudades de ficar assim, maridinho e cães no rame-rame. Com grandes planos de ir a Portugal (com preços proibitivos, porra que não se pode com esse país que anda caro como o raio), de passear na Bretanha, na Normandia no raio-que-nos-parta, afinal acabámos em casa. Antes de tudo, porque acho que os cães já têm tempo suficiente de canil, obrigado, para estar a fazê-las passar por mais quatro dias de isolamento numa jaula. Quer dizer, está bem que são animais e tal, mas eu não gostaria de passar o meu tempo fechada em casa, para me fecharem depois num hotel. Não faças aos outros o que não gostas que te façam a ti. Mesmo quando os outros são cães...

Tínhamos decidido que queríamos começar a visitar os sítios "badalados" da cidade. Já que não fazemos mais nada, pelo menos ver essa Paris "fashion" que toda a gente jura a pés juntos que existe, mas que ninguém conhece ou frequenta.

Quando se têm amigos, não interessa o sítio onde se vai beber um copo. Pode ser a tasca mais rasconça (quanto mais melhor) que o importante é a companhia e a boa conversa. No nosso caso, amigos são bem escasso nesta cidade, de modo que lá nos decidimos a ir jantar ao Mandala Ray, um restaurante/bar para os lados do 8eme, propriedade desse grande empresário da noite que é o John Malkovitch (ele ainda tem o LUX????).

Como seria de esperar, o Mandala é lindo de morrer, com uma decoração fantástica (a cena do hippie/chic africalhado de que tanta gente gosta agora..) e com uma comida de chorar por mais. Todos os detalhes foram cuidados e o nível da cozinha justifica os preços marados que se praticam no sítio. Claro que o people é constituído exclusivamente por aspirantes a top-models, piranhas à caça de marido rico, russos mafiosos com muita pasta e arábes do petróleo com ainda mais pasta...

Mandala Ray, restaurante/bar. Paris

Not a happy crowd. O que vale é que nós nunca nos aborrecemos sozinhos, e é sempre agradável gozar com a cara dos outros nestas situações...

Acabámos a noite num sítio bastante mais simpático, a beber um copo com um amigo de longa data do Alex, que regressou há pouco tempo do Gabão.

Conclusão: os sítios "fashion" de Paris são só para inglês ver, ou para a Madona ou o Brad Pitt se divertirem quando vêem às suas casinhas de Paris passar uma temporada. Não têm gente normal, muito menos têm franceses. Os parisienses só frequentam estes sítios quando têm que levar a mulher/namorada a jantar à séria (i.e, quando fazem merda da grossa e precisam de pedir desculpa com um cheque chorudo...)

 

 


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