Sou das primeiras pessoas que gozam com o encalhanço portuga da "saudade". Irrita-me quando ouço compatriotas nossos a dizerem que não conseguem viver fora e que têm sempre saudades, mesmo indo "à terra" quase todos os fins-de-semana. Irrita-me pronto.
Gabava-me eu de não ter saudades da pátria...E até certo ponto é verdade. Agora que não ponho os pés em Portugal há um ano, vejo que isto já não são saudades.
Saudades tenho eu de fazer a viagem de comboio nocturno Kiev-Odessa . Saudades tenho eu das viagens pelo terrenos pantanosos da Transnístria . Ou dos passeios de barco no Mekong. De Pequim e dos seus mercados caóticos. Dos passeios a pé por Roma, enquanto os condutores nos insultam por tentarmos passar nas passadeiras. Das tardes nas esplanadas de Veneza. Das noites nos clubes de Strip de Bangkok . Disto tudo posso ter saudades.
Mas a ausência de Lisboa dói-me. Dói-me de uma maneira que não podem ser saudades, como uma paixão que não é correspondida. Como se Portugal se tivesse esquecido de mim, dormisse comigo e nunca mais me telefonasse.
Tanto tempo de ausência e a privação de estar com amigos e família fazem com que eu já sinta uma espécie de raiva, despeito ou mágoa profunda por estar sempre "fora".
No entanto, estou muito optimista. Acho que uma semana em Portugal vai curar-me desta estupidez. Aposto que 8 dias no meio da confusão lisboeto /suburbana vão dar-me uma vontade irresistível de regressar a Paris ou de ir para o raio-que-me-parta .
O que quer dizer que não preciso de ir a Portugal regularmente apenas para ver os amigos e a família, também preciso de lá ir para me lembrar porque é que escolhi sair. Sem esse reality check " periódico perco-me e começo com o síndrome do regresso" comum a todos os migras portugas espalhados por esse mundo fora...
Por isso, a partir de amanhã, e quando nos encontrarmos, não se espantem por me ver com a lagrimazita ao canto do olho, não se espantem se vos parecer nervosinha , ou se eu fizer comentários parvos do estilo:" quem é a Barbara Guimarães??"Faz tudo parte... Acredito mesmo que as frases que vou utilizar mais vão ser "quem é esse?" e "ai é???". Tenham lá paciência...