Estaria mentindo se dissesse que não ligo a trapos. Toda a gente que me conhece sabe que gosto de um trapinho bem esquisito ou de uns sapatinhos de cor berrante.
Este mês tem sido uma razia desgraçada e ando meio chateada com isto.
A minha bulldog comeu-me uns sapatos (salto agulha, 10 cm) laranja-choque que eu comprei há três anos numa loja de Drag-Queens em Amesterdão. Estão irrecuperáveis...
A senhora que me ajuda lá em casa resolveu lavar (e secar!!!) na máquina um lenço de seda pura Givenchy, que eu comprei em Kiev para comemorar a minha colocação em Paris (era rosa e laranja com desenhos da torre eiffel...) e uma camisola de seda natural, rosa-choque da colecção 2004 da Laundry Factory.
As minhas calças de seda preta preferidas, que eu comprei numa lojeca de uma estilista Tailandesa em Bangkok em 2002, rasgaram-se a semana passada (movimento brusco a entrar no carro..). Para além da risota que foi, atravessar as ruas do centro de Paris, com o meu Xano atrás proteger o meu rabo de olhares indiscretos, fiquei triste pá..fiquei mesmo. É que já não vou conseguir comprar umas iguais (e não se podem mesmo arranjar - ficaram desfiadas..).
Porra que não se pode ter nada.
O que me chateia quando alguma coisa se estraga (ou os cães comem) é que compro sempre peças que não existem em grande número, e por isso não as consigo substituir.
Nunca me visto com coisas "main-stream" e por isso quando perco qualquer coisa é pra sempre, porque não há igual..
Por exemplo,os sapatos laranja eram a moda dos travestis em 2003, agora já é outra coisa qualquer. E eu adorava vestir-me toda de preto, bem sóbria, com os sapatos de Drag-Queen, para ir aos "eventos" oficiais (deliciosa a cara do pessoal a olhar prós sapatos!) - agora já não arranjo outros...
Estou a ver que esta crise só se resolve com um passeio no Blv. Saint-Germain.
Uma das coisas que eu gosto aqui em Paris é de poder ter lado-a-lado, lojas de grande estilistas e de roupa em segunda mão, ou bujigangas orientais, ou uma cooperativa de estilistas a começar.
A malta vai lá, vê a montra da Versace, apaixona-se pelos vestidinhos, exclama em voz alta; putaqueopariu! vairoubarpráestrada! quando vê os preços, e depois segue (mais aliviadinha) para xeretar nas coisas que realmente interessam (ou melhor, naquilo que realmente se PODE comprar).
Quando se está bem farta e bem pés-doridos de andar a saltitar de loja em loja e, no meu caso, sem comprar nada, existem várias opções de paragem: pode-se ir gastar uma pipa de massa ao Café da loja Armani ( e aí, mais uma vez digo entre dentes: máváfánculo bastardodimerda) ou pagar 4 euros (4!) por um chá verde na boutique da Shangai Tang (comé que se diz filhodaputa em chinês???) ou abancar num dos muitos japonocas baratunchos a beber uma Asashi. Esta é a opção menos fashion, mas é geralmente o que eu faço. Não há nada que saiba melhor do que uma cervejinha geladinha depois de um tour às montras.
Daí pode-se passar à paragem obrigatória da LV e babar prá cima das malinhas. Tenho sido muito bem comportada e ainda não comprei nenhuma (este ano...). E depois, como não podia deixar de ser, babar uma meia hora à frente das montras com Manolos.