Histórias de uma portuga em movimento.
27
Jul 06
publicado por parislasvegas, às 10:47link do post | comentar | ver comentários (4)

"I've reminded the prime minister—the American people, Mr. Prime Minister, over the past months that it was not always a given that the United States and America would have a close relationship."—Washington, D.C., June 29, 2006

George W. Bush

Uma das maneiras de me manter em contacto com a forma como os americanos vêem o mundo é a Slate Magazine, que me tem servido de leitura habitual já há alguns tempos. Ao contrário daquilo que os Europeus possam pensar, nem todos os habitantes dos EUA são tão broncos como o seu Presidente, embora seja certo que existe uma larga maioria que o é, pois votaram no cromo.

A Slate tem muita influência judia, mas ainda com um sentido de humor (apenas possível aos judeus...) e uma consciência crítica aguçada que me atraem.

Mais bushismos aqui.


26
Jul 06
publicado por parislasvegas, às 11:21link do post | comentar | ver comentários (6)

Eu e o meu Xano temos passado este Verão entre o trabalho, cuidar de uma casa com 300 m quadrados, duas crianças e dois cães.

Por alguma ironia estranha do destino, devo estar a pagar qualquer coisa que fiz a alguém enquanto estive em Kiev, porque nossa salvadora, a Ludmila, nunca mais consegue obter o visto de trabalho para se juntar a nós. Seja lá o que fôr que  eu tenha feito, acho que o pecado está mais do que expiado, porque andamos de rastos.

A Luda trabalhou para nós três dos quatro anos que estivémos em Kiev. É uma pessoa educada, atenta e honesta. O que compensa largamente o facto de não ser lá muito rápida nem energética. Funcionária do Observatório Astronómico de Kiev, onde se ocupava com as minunciosidades de mapear as estrelas, a Luda manteve-se uma pessoa aérea, o que é raro para uma mulher eslava de formação soviética. Mesmo assim, consegue ser menos aérea do que eu e um bocadinho mais pragmática.

Estamos um bocadinho nervosos (principalmente ela) porque é a primeira vez que a Luda se propõe sair do seu "mundo familiar". Embora já tenha viajado para várias partes da ex-URSS e para a Turquia, esta será a primeira vez que a senhora vai assentar os pés em terras da "Europa". E isto depois de já ter feito os cinquenta anos. Esperemos que o "choque cultural" seja positivo.

Penso sempre nestas coisas porque até a nós nos custou a mudança: tantas pessoas bem vestidas, mas tanto mendigo roto. Tantas coisas para comprar no super-mercado, mas tanta gente a dormir na rua. Tantos monumentos faíscantes e bem tratados, mas tantaspessoas agressivas, xenófobas e desagradáveis. No fundo os contrastes europeus não são diferentes dos "soviéticos", o aspecto das coisas o "embrulho" é que é. E nós, meros animais de hábitos, precisamos de estar rodeados de coisas familiares para nos sentirmos seguros. Espero que o facto de nos ter a nós por perto a ajude. Afinal, muito nos ajudou ela quando éramos nós os rodeados de referências estranhas à nossa cultura.

Até lá, dois adultos+ duas crianças+ dois cães= 1 verão roda-viva doméstica sem direito a descanso....


25
Jul 06
publicado por parislasvegas, às 16:28link do post | comentar | ver comentários (1)


publicado por parislasvegas, às 14:25link do post | comentar | ver comentários (3)

Cá andamos a derreter pela cidade fora. 36º com uma poluição espessa que se cola a tudo. Peganhentos, sujos e stressados pelo calor, assim andamos nós, os cerca de 6 milhões de parisienses que ainda não foram de férias.

O Líbano, Israel, os escândalos de corrupção no seio do Governo francês, os candidatos a candidatos para as eleições presidenciais não interessam nada a ninguém, sendo que a preocupação principal de qualquer ser humano aqui é a de sobreviver hidratado para poder chegar às 10 da noite, hora em que começamos todos a sair das tocas (sem ar condicionado!) e a poder respirar na rua.

Como cada um caça com o que tem à mão, os parisienses resolveram que não dava para viver temperaturas destas sem uma praia. Então, como sempre, puseram mãos à obra e fizeram uma.

Uma praia que ocupa 4 quilómetros de cais do Sena, com areia artificial, na qual (obviamente) não se pode tomar banho. Não querendo ver a sua população dizimada nem pelo calor, nem pelas doenças de pele que apanhariam caso se banhassem na água imunda do Sena, o município de Paris oferece generosamente vários duches ao longo da "praia" para o pessoal se molhar.

De maneira que lá está a malta em peso, desde manhãzinha, na praia artificial mais estranha do mundo - pontilhada de tendinhas riscadas multicolores como se estívessemos na Côte d'Azur, com um rio imundo à frente e respirando os escapes dos milhares de carros que se atolam na zona alta de Paris.

É o que há.

Nós comprámos uma banheira respeitosa para o nosso jardim, água a dar pela cintura e com duas braçadas de comprimento. Mas sempre é melhor do que respirar monóxido de carbono.

Desistimos de curtir Paris no Verão. Chegámos à conclusão de que está demasiado calor para isso. Assim, fazemos churrascadas no jardim e chapinhamos na "banheira" todos os dias, em vez de ir fazer mais pic-nics para a torre Eiffel e de ir tomar duche ao pé do Sena.

Com este calor, cada um se safa como pode...


21
Jul 06
publicado por parislasvegas, às 11:54link do post | comentar | ver comentários (2)

Esbarrei com este site acidentalmente, numa das surfadas de fim-de-semana. Impressionou-me e doeu-me com um estalo bem assente na cara.

Há tempo que ando a pensar em escrever sobre isto, mas o assunto é pesado e deprimente e nada indicado para uma sexta-feira de Verão. No entanto, este postal tem andado a assombrar-me as noites e preciso de me livrar disto.

 

Trata-se de uma "comunidade" cibernética de entre-ajuda ou de desabafo ou sei lá como qualificar uma coisa tão estranha quanto esta. As pessoas enviam postais anónimos (feitos à mão pelos próprios) onde escrevem os seus segredos mais íntimos. Este site está ligado a uma linha de SOS suicídio.

O site é estranhíssimo e só me faz lembrar as cenas maradas que se lêem em livros de ficção científica: como é oficialmente proibido por esta sociedade o ser gordo, o estar triste, o ser sozinho, e, acima tudo, como se perderam as relações humanas que permitiam uma maior entre-ajuda no passado, temos que recorrer a coisas destas para que as pessoas possam, sob a capa do anonimato, deitar cá prá fora os segredos que lhes oprimem a vida.

Penso que o problema não é apenas o facto de se terem perdido as teias de afectos familiares que existiam antigamente. Esse é apenas um dos lados do Iceberg que acabará por fazer implodir a sociedade moderna. Outro factor, muito importante, é o de ninguém querer já viver ou estar próximo de uma pessoa que tem problemas. Nós temos que estar sempre bem, trabalhar bem dispostos, falar aos vizinhos com um sorriso e chegar a casa e representar um papel também no seio da família. Vivemos tão imersos num mundo de anúncios da Pepsi onde toda a gente é rica, bonita, magra, bem sucedida e bem disposta que já ninguém tem coragem de fazer luto dos seus mortos em público. Ninguém tem coragem de admitir uma fraqueza e declarar-se triste, doente ou deprimido. Porquê? Porque geralmente os que nos rodeiam ou nos abandonam ou aproveitam-se da fraqueza e comem-nos vivos.

A velocidade a que se vive hoje também é outro factor. Tudo é rápido, superficial. Pronto a vestir, pronto a comer, pronto a casar e pronto a viver. Não temos tempo para aprofundar sentimentos. Não temos tempo sequer para tentar ser felizes e muito menos para esperar que as nossas feridas se curem.

Quando vejo estes postais na net , penso sempre na sorte que tenho. Em todas as alturas da minha vida tenho sempre tido o apoio incondicional de gente de carne e osso. Gente real, com pés assentes na terra, que sabe que chorar é tão normal quanto rir e que sabe que é preciso esperar até que os arranhões cicatrizem. Gente que me tem amado, tanto quanto eu os amo a  e que me dá muito mais do que eu alguma vez pedi. Nas alturas em que leio estes "segredos" só tenho pena que estas pessoas não possam, não queiram ou não saibam enviar a mensagem a quem está, realmente, perto delas.

A maior fortuna é mesmo ter amigos.


20
Jul 06
publicado por parislasvegas, às 12:28link do post | comentar | ver comentários (3)

No meu caderno de endereços - mais conhecido como "A bíblia" - tenho andado a reparar no seguinte:

Os países de expressão portuguesa são os únicos onde maridos e mulheres não partilham o mesmo sobrenome.

Nos países árabes, os primeiros nomes das esposas nunca aparecem - vêm todas como "senhoras de fulano-de-tal".

Ele há nomes de família verdadeiramente estúpidos. Por exemplo:

Bobak (Belize)

Michotte (Bélgica)

De Siqueira-Regueira (Alemanha)

Rouba (Argélia)

Mamadov (Azerbeijão)

Mazela (Itália)

Parvanescu (Roménia)

Portucalá (Roménia)

 

Coitados pá.


19
Jul 06
publicado por parislasvegas, às 17:01link do post | comentar | ver comentários (5)

Já me tinha esquecido desta minha tendência para bronzear, dado os anos que passei sem ver pinga de Sol.

Quando vivia em Lisboa, bastava-me a travessia do Terreiro do Paço, todos os dias, sob o Sol abrasador de Verão, para ficar preta na cara e nos braços e criar marcas com o desenho dos sapatos nos pés.

Agora estou na mesma: sem um único dia de praia, tem-me bastado andar por aí para ter um bronze ainda mais pronúnciado do que os meus colegas que chegaram agora do Algarve.

Escusado será dizer, que já estou farta de ouvir bocas de "ai que bronze! Deve passar os fins-de-semana a torrar no jardim!" à laia de gozo porque aqui a pobre não fez férias de praia, com uma ponta de inveja não dissumulada, porque mesmo assim o meu ainda é maior do que os deles.

E eu, como boa Senhora Cabra, respondo sempre: "andar de Cabriolet ajuda"....


publicado por parislasvegas, às 16:03link do post | comentar

Toalhinha no chão, decorada com um cestinho de rosas no meio, champanhe a rodos e petisquinhos delicados.

 

prós:assistir ao espetáculo de luzes da Torre Eifel esticada na relva

contras:o ressacum que me acompanhou esta manhã pró escritório.

 

I love Paris...


18
Jul 06
publicado por parislasvegas, às 15:50link do post | comentar | ver comentários (3)

água por todos os poros, devido ao calor filho-da-puta que se tem vindo a sentir nesta cidade, e fervendo injúrias diversas a quem se acha melhor do que os outros, a quem tem reis na barriga e a quem o sucesso só serve para lhes toldar a visão com manias de grandeza, atravesso a Avenida lançando entre dentes palavrões lusos e cabeludos.

Neste estado de alma, que apenas serve para me consumir sem motivo, a minha atenção foi desviada para uma cabine telefónica donde se ouviam sonoros Inch'a Allah " entrecortados de soluços. Uma mulher de meia-idade falava com os parentes e chorava. Acordo do meu estupor (e, diga-se, estupidez) para reparar que à minha volta só se falava árabe, ou aquele francês delicioso com sotaque do Líbano. Agitados pela situação que se vive no seu país, as centenas de libaneses que habitam o bairro, habitualmente discretos, reúnem-se no calor das esplanadas a discutir e trocar informações sobre a família que ficou ou que ainda não foi evacuada.

O francês que me vende os jornais discutia animadamente com um libanês,ambos apelidando os israelitas de "filhos de um cão". O bairro, conservador e reaccionário, tem criado uma onda de solidariedade pouco habitual em torno dos libaneses e dos muçulmanos que o habitam. Nem os franceses de direita concordam com esta guerra. Pena é que esta harmonia não exista em tempos de paz.

Reflectia eu nestas coisas, já frente a uma salada grega e meio-litro de água gelada, quando dois enormes negros de meia-idade resolveram encetar conversa. Entediados frente aos copos de Rosé, acharam que deveria ser libanesa também e começaram a lamentar a situação no médio Oriente. Quando esclareci a minha verdadeira nacionalidade foi a gargalhada total: ambos eram brasileiros, radicados em França há largas décadas. Um deles, casado com uma Goesa, conhecia bem Portugal e, principalmente, a nossa gastronomia. As desgraças da humanidade deram lugar a uma conversa light , mais adequada aos 36º e à ingestão de Rosé. Acabei o almoço com o gosto amargo das ironias e aquela certeza incómoda de que os humanos preferem olhar para os lados, cada vez que morte os olha de frente.


17
Jul 06
publicado por parislasvegas, às 12:05link do post | comentar | ver comentários (4)

Não é a primeira vez que escrevo sobre Beirute e o fascínio que tenho pela cidade desde a minha adolescência. Os amigos Libaneses que tenho tido, poucos mas bons (embora os Libaneses tenham fama de aldrabões e ávaros, eu nunca confirmei o preconceito) têm contribuído para que eu não perca a vontade de visitar esse país tão misturado, tão lindo em termos de paisagem natural e humana.

Volto a este tema novamente, só para me lamentar. Lamentar a infeliz opção de Israel por uma política belicosa, numa altura em que as relações entre a Síria e o Líbano estavam à beira da normalização. Bastava que tivesse havido um gesto de boa vontade por parte de Israel. A verdade é que o próprio Hamas avançou nesse sentido com o reconhecimento implícito do Estado de Israel no final do mês de Junho. Também o Líbano já se tinha declarado disposto a desarmar o Hezbolah, caso Israel retirasse do seu território. Apesar dos pesares, a situação da Palestina não tinha tantas evoluções positivas desde há uns 10 anos.

É triste ter a percepção clara de que a paz naquela região não interessa a ninguém.

 


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