Cá andamos a derreter pela cidade fora. 36º com uma poluição espessa que se cola a tudo. Peganhentos, sujos e stressados pelo calor, assim andamos nós, os cerca de 6 milhões de parisienses que ainda não foram de férias.
O Líbano, Israel, os escândalos de corrupção no seio do Governo francês, os candidatos a candidatos para as eleições presidenciais não interessam nada a ninguém, sendo que a preocupação principal de qualquer ser humano aqui é a de sobreviver hidratado para poder chegar às 10 da noite, hora em que começamos todos a sair das tocas (sem ar condicionado!) e a poder respirar na rua.
Como cada um caça com o que tem à mão, os parisienses resolveram que não dava para viver temperaturas destas sem uma praia. Então, como sempre, puseram mãos à obra e fizeram uma.
Uma praia que ocupa 4 quilómetros de cais do Sena, com areia artificial, na qual (obviamente) não se pode tomar banho. Não querendo ver a sua população dizimada nem pelo calor, nem pelas doenças de pele que apanhariam caso se banhassem na água imunda do Sena, o município de Paris oferece generosamente vários duches ao longo da "praia" para o pessoal se molhar.
De maneira que lá está a malta em peso, desde manhãzinha, na praia artificial mais estranha do mundo - pontilhada de tendinhas riscadas multicolores como se estívessemos na Côte d'Azur, com um rio imundo à frente e respirando os escapes dos milhares de carros que se atolam na zona alta de Paris.
É o que há.
Nós comprámos uma banheira respeitosa para o nosso jardim, água a dar pela cintura e com duas braçadas de comprimento. Mas sempre é melhor do que respirar monóxido de carbono.
Desistimos de curtir Paris no Verão. Chegámos à conclusão de que está demasiado calor para isso. Assim, fazemos churrascadas no jardim e chapinhamos na "banheira" todos os dias, em vez de ir fazer mais pic-nics para a torre Eiffel e de ir tomar duche ao pé do Sena.
Com este calor, cada um se safa como pode...