Ainda agora cá cheguei e já estou de partida mental. Ainda não sei se vou, quando, para onde e como, mas a minha cabeça já cá não está, ansiosa por partir, mas também ansiosa por aproveitar todos os dias ao máximo, até ao último.
A única coisa que não está a dar muito jeito é esta barrigona de seis meses, o cansaço e a soneira filha-da-puta . Já não posso aproveitar tanta coisa. Há um lado inteiro de Paris que não vou conhecer e que já não vou viver (talvez mais tarde???). Tenho pena e ao mesmo tempo não tenho pena nenhuma. Eu, quando mudo, é sempre para melhor, nem que seja a única pessoa a pensar isso, nem que seja só eu que vejo o lado positivo.
Nesta viagem, como nas que a antecederam, não estou sozinha. Mas pela primeira vez, tenho que pensar numa série de coisas que nunca me ocorriam, porque o Kiko é um item adicional na nossa bagagem.
Uma das vantagens do caos que se instalou na minha cabeça é que não estou a atravessar nenhuma crise de medos de parir - tenho mais em que pensar. Orçamentos, mudanças, contratos a rescindir outros a fazer, regulamentos veterinários, transporte dos animais, mudança das contas bancárias. UFFFF ... e ainda nem há dois anos passei por tudo isto. Hei-de estar a parir o Kiko e a fazer contas aos caixotes que preciso. Provavelmente não me irei passar para o outro lado porque tenho a ajuda fortíssima do meu homem nas coisas da casa e da minha mãe com o Kiko . No fim das contas as mudanças não doem nada e acabamos por nos ver noutro lado do mundo, com a nossa tralha toda por organizar, outra vez (mais uma).
Depois é só começar tudo de novo, desta vez com ainda mais gozo porque teremos um pezinho de couve" (como dizem os franceses) para alegrar os nossos dias e tornar as nossas explorações ainda mais interessantes. Mais do que tudo, alegra-me pensar que posso dar ao meu filho três anos com tranquilidade, em vez de o criar numa das cidades mais poluídas da Europa, entregue aos cuidados de uma estranha. Alegra-me que o Kiko tenha a possibilidade de dizer as primeiras palavras em português, em lugar do provável russo. Acima de tudo, entusiasma-me a possibilidade de que ele me reconheça e identifique como mãe - a única.
Acho que não posso pedir mais do que isso.