Histórias de uma portuga em movimento.
28
Mar 07
publicado por parislasvegas, às 17:01link do post | comentar | ver comentários (8)

Ainda agora cá cheguei e já estou de partida mental. Ainda não sei se vou, quando, para onde e como, mas a minha cabeça já cá não está, ansiosa por partir, mas também ansiosa por aproveitar todos os dias ao máximo, até ao último.

A única coisa que não está a dar muito jeito é esta barrigona de seis meses, o cansaço e a soneira filha-da-puta . Já não posso aproveitar tanta coisa. Há um lado inteiro de Paris que não vou conhecer e que já não vou viver (talvez mais tarde???). Tenho pena e ao mesmo tempo não tenho pena nenhuma. Eu, quando mudo, é sempre para melhor, nem que seja a única pessoa a pensar isso, nem que seja só eu que vejo o lado positivo.

Nesta viagem, como nas que a antecederam, não estou sozinha. Mas pela primeira vez, tenho que pensar numa série de coisas que nunca me ocorriam, porque o Kiko é um item adicional na nossa bagagem.

Uma das vantagens do caos que se instalou na minha cabeça é que não estou a atravessar nenhuma crise de medos de parir - tenho mais em que pensar. Orçamentos, mudanças, contratos a rescindir outros a fazer, regulamentos veterinários, transporte dos animais, mudança das contas bancárias. UFFFF ... e ainda nem há dois anos passei por tudo isto. Hei-de estar a parir o Kiko e a fazer contas aos caixotes que preciso. Provavelmente não me irei passar para o outro lado porque tenho a ajuda fortíssima do meu homem nas coisas da casa e da minha mãe com o Kiko . No fim das contas as mudanças não doem nada e acabamos por nos ver noutro lado do mundo, com a nossa tralha toda por organizar, outra vez (mais uma).

Depois é só começar tudo de novo, desta vez com ainda mais gozo porque teremos um pezinho de couve" (como dizem os franceses) para alegrar os nossos dias e tornar as nossas explorações ainda mais interessantes. Mais do que tudo, alegra-me pensar que posso dar ao meu filho três anos com tranquilidade, em vez de o criar numa das cidades mais poluídas da Europa, entregue aos cuidados de uma estranha. Alegra-me que o Kiko tenha a possibilidade de dizer as primeiras palavras em português, em lugar do provável russo. Acima de tudo, entusiasma-me a possibilidade de que ele me reconheça e identifique como mãe - a única.

Acho que não posso pedir mais do que isso.

 


20
Mar 07
publicado por parislasvegas, às 16:58link do post | comentar

"Portugueses gastaram 80 milhões de euros em sedativos, hipnóticos e ansiolíticos"

in "O Público" de 20.3.2007 


19
Mar 07
publicado por parislasvegas, às 10:51link do post | comentar | ver comentários (5)

Pois é. A baleia foi a casa. Como sempre, deu para muita coisa e não deu para nada.

Para já tenho que agradecer à minha mãezinha, que se deu ao trabalho de cozinhar durante três dias para podermos reunir os amigos em comezaina de matança de saudade. E depois tenho que agradecer a toda a gente que se deu ao trabalho de se deslocar para ver a gorda e, assim, dar a grande alegria a esta desterrada de se sentir em casa outra vez.

Gostei muito de rever toda a gente e, principalmente, de ver como a nova geração está cada vez mais crescida (e aumentada). Foi bom conhecer a MI e a Maria e ver o quanto cresceu o resto da miúdagem . O kiko já tem muitos amigos e espero que possa encontrar-se muitas vezes com o ZP e com o Lourenço que, por enquanto, só têm meninas para brincar...

Dizem que , com o tempo, nos transformamos nos nossos pais. Para a nossa geração essa transformação demorou, mas já chegou. Quando nos vejo todos reunidos só me lembro das farras que os nossos pais faziam e que juntavam muitos de nós, ainda de fraldas.  Claro que os "velhos" nos continuam a considerar uma cambada de irresponsáveis, uns miúdos, que não sabemos o que fazemos e etc. Faz parte do generation gap ", haja paciência. Finalmente, passámos a geração sanduiche - entalados entre a criançada e os velhos - passamos a ter responsabilidade de um lado e do outro.

Que haja muito copo e muita farra para compensar o peso dos dias!

No Domingo, para não ficar com pena de deixar uma Lisboa ensolarada e ainda com o coração quente de tantos gestos amigos no Sábado, tive de chegar ao extremo de comprar a CARAS para ler no avião. Quando cheguei a Paris, já ia muito aliviada de ter saído dessa terra, cheia de gente meio pirosa que nem conheço de lado nenhum.

Esta de comprar revistas "socialite " quando não me apetece ir embora é um velho truque que me foi ensinado por um colega de profissão. Quando se começam a passar as páginas e a dizer "quem é este??" e "que cena mais estúpida", "que cena mais pirosa" - é tempo de sair do país. Claro que eu não aconselho este truque a nenhum de vós, porque teriam que sair todos de Portugal, e em passo acelerado.

 Agora esperam-me mais três ou quatro meses sem por os pés em casa, mas, desta vez (e apenas desta) é por uma boa causa.

 

 

 

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08
Mar 07
publicado por parislasvegas, às 16:54link do post | comentar | ver comentários (2)

Comer sopa fria de cenoura com coentros logo de manhã - só costumava fazer isto em casos agudos de ressaca alcoólica , agora transformou-se em pequeno-almoço delícia.

Sonhar com cigarros a toda a hora do dia e da noite - eu sabia que era junkie , mas não tanto.

Comer queijo fresco com compota - Eu ODEIO compota!

Calcular mal os espaços e insistir em passar pelas mesmas frestas estreitas do costume, apenas  para reparar que estou entalada e que tenho que desviar qualquer coisa para sair dali.

Falar em voz alta com o kiko ("Boa filho! com mais força!" - para os pontapés que não doem e "Então filho?isso faz-se??" - para os que doem) e não perceber porque é que está toda a gente a olhar para mim.

Não conseguir nem cheirar vodka - eu ADORO vodka!

Dar descomposturas a quem já há muito as merece.

Dizer " estou-me cagando " aos meus chefes e referir-me a alguns assuntos de trabalho como "essa bela merda " - algum dia haveria de chegar a isto...

Instalar uma "cama" no gabinete e não  ser  capaz de a usar porque "no serviço não se dorme" - vou precisar mandar à merda os meus princípios.

Ter os olhos marejados de lágrimas quando o vi chuchar no dedo pela primeira vez.

Lutar frente ao McDonalds com toda a força de vontade para não ir comprar Sundays - eu ODEIO McDonalds .

 

 

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publicado por parislasvegas, às 11:14link do post | comentar | ver comentários (3)

Postsecret

 

Durante muito tempo pensei que o mito do século XXI eram as super-mulheres. A mulher que quer fazer tudo ao mesmo tempo e bem: a casa, a família, o trabalho. Mas, afinal, como em tanta coisa na vida, enganei-me. As super-mulheres não são um mito, mas sim uma realidade bem palpável em carne e osso e gente de vive dias de 18 horas activas. Mulheres que fazem tudo ao mesmo tempo, embora, muito humanamente, alguma coisa tenha que ficar para trás. A isso chama-se "prioritarizar".

Esta palavra estrambólica, tornada palavra-chave de todos os dicionários das super-mulheres do século XXI, tem uma tradução muito simples: não podes querer ser tudo ao mesmo tempo e bem - escolhe o sector a sacrificar. E maior parte das mulheres que conheço lá procura ser feliz dentro do equilíbrio precário dos afectos, dos sentimentos de culpa do não acompanhamento dos filhos ou dos sentimentos de inutilidade no local de trabalho...

Meio-termo? equilíbrio? na minha opinião, são apenas palavras bonitas que não se aplicam na realidade, pelo menos à nossa geração, mulheres na trintena e com profissões exigentes.

Descobri há pouco tampo (basicamente há cerca de sete meses - início da minha malograda primeira gravidez) que o verdadeiro mito feminino não é o príncipe encantado, nem a super-mulher, nem a mata-hari. O mito feminino do século XXI é a solidariedade entre mulheres.

Escrevo hoje sobre isso, neste dia da mulher, porque estou com as orelhas cheias das merdas de colóquios, mesas redondas, salas de debate que se irão desenrolar hoje em Paris, feitas por mulheres e para mulheres, cheias de paleio sobre união, defesa de interesses comuns e o mais do raio-que-nos-parta a todas.

A verdade pura e dura é que não existe criatura mais filha-da-puta para o seu semelhante do que uma mulher. Mesmo os homens armados com Uzis podem ser mais dóceis do que uma gaja em pleno SPM.

Por isso hoje não digo - irmãs uni-vos! Estou cansada dessa lenga-lenga feminista, que defendi ingenuamente até agora. Hoje digo - mostrai as unhas suas filhas de um cão! que já não há pachorra para tanta sonsice!

 


02
Mar 07
publicado por parislasvegas, às 16:40link do post | comentar | ver comentários (4)

Adolescente, eu era um pau-de-virar tripas com uma capa de chuva verde-amarela , acne na cara, mamas inexistentes e (como se não bastasse) nerd . Patinho feio, aprendi a valorizar outras coisas, construí um mundo muito meu (ser filha única obrigou a isso) e tive amigos que me protegeram, acompanharam e partilharam comigo a condição de não-popular .

 Aliás nós, que hoje somos uns chatos insuportáveis que ninguém nos entende quando estamos juntos, somos produto dessa altura em que tínhamos todos magrezas, gorduras, acnes, cabelos estranhos, T-shirts ranhosas e cigarros escondidos. Ficou-nos a cumplicidade de quem nunca se integrou em nenhum grupo, dos que gostamos de ser originais e, acima de tudo, dos que adoramos chocar convencionalidades carago !).

Hoje vejo que ser patinho feio foi a melhor coisa que me aconteceu e não queria outra adolescência que não a minha (a nossa).

Hoje, também, bateu-me que nunca na minha vida, muito menos nessa altura, me senti tão  outsider como agora -  mesmo bem vestida, mesmo sem rugas, mesmo com malinha-chanel-sapatinho-vuiton .

Há gente que nunca se integra. Eu sou uma dessas.


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