Vocês bem sabem como são os expatriados por esse mundo fora: não importa qual a nacionalidade, um expatriado que se preze queixa-se sempre do seu país e do país de acolhimento.
Às vezes penso que é para isso que as pessoas deixam casa, amigos e família - para se poderem queixar daquilo que deixaram, ao mesmo tempo que se queixam daquilo que têm.
Eu digo isto, mas não pensem que me isento desta categoria, se eu não estivesse sempre a querer estar onde não estou, não teria escolhido esta vida de sobressaltos.
Em todos os novos poisos, as primeiras impressões são sempre as mais importantes. Há sítios onde o salta à vista são as desvantagens - língua difícil, mau clima, burocracia kafkiana, povo desconfiado ou racista, etc. Outros há em que, inicialmente, só vemos as maravilhas - é o meu caso com a Ilha.
Ando à espera da pancada. Porque, como tudo na vida, há sempre inúmeros aspectos escondidos, coisas que não estão à superfície e que apenas se conhecem quando estamos integrados o suficiente para quebrar a camada das aparências. E aí, normalmente, é que temos os choques.
Mas por enquanto é curtir:
- o clima - em meados de Novembro ainda tenho 25 graus durante o dia. Há mais de um mês que me dizem que o Inverno vai chegar e que este ano vem com força. Tudo o que não seja -30º com nevão acoplado já não é Inverno para mim. Venha ele.
- a língua - extremamente difícil. Mas tão bonita. Macacos me mordam se não hei de aprender esta coisa. Os amigos gregos bem ligam cá para casa já na língua nativa, mas eu não consigo passar do "parakaló!" e do "né!"* (se bem que só essas duas palavras já lhes provocam ataques de riso. Devo ter uma pronúncia bonita....).
-a dimensão - sinal de que estou a ficar velha é estar a gostar da dimensão da Ilha. Venho eu de jantares no Costes, copos no Budha e window shopping nos melhores estilistas do mundo, de 3 horas perdidas por dia no trânsito, de cotoveladas no povo para apanhar um taxi, seria de esperar que estivesse agora a deprimir e a dizer que isto é uma parvalheira.
Nada disso. Adoro o facto de isto ser pequeno. De se poder ir de uma ponta à outra em horas. Adoro o facto de toda a gente se conhecer, o facto das pessoas da nossa idade ter família, filhos e uma vida sossegada aos fins de semana.
Claro que não sobreviveremos muito tempo a isto. Acho que temos de ir passar uns dias fora de vez em quando para nos mantermos um pouco loucos. Mas também acho que, pelo menos eu precisava de assentar um pouco.
- a paisagem - quando se sai dos centros urbanos é um consolo. E as "grandes" cidades aqui também são engraçadas, com influências de inúmeros povos que por aqui passaram. As aldeolas empoleiradas nas montanhas são extraordinárias. Bem sei que nem apenas de paisagem vive uma mulher. Mas ajuda.
Ainda não conheço o suficiente para escrever sobre pessoas. Tenham paciência que lá chegaremos.
* Parakaló - uma palavra giríssima que serve para imensa coisa -" se faz favor", "faça o favor de dizer", "atenção" etc.
Né -" sim". É estranho. Talvez alguém me saiba explicar porque "Não" começa por " N" em inúmeras línguas - NON, NO, NEIN, NIET e em grego é o "sim" que começa por "N" e, aos ouvidos dos outros Europeus, acaba por soar a "não"...