Parece-me idiota que se diga que este filme dá "outra visão do Irão". É preciso ser-se muito ignorante para pensar que os iranianos são todos uma cambada de fanáticos religiosos e anti-ocidentais.
A história da Marjane Satrapi não é diferente da história de outras iranianas que conheço, como a minha amiga A. (da mesma geração) que foi recambiada aos 14 anos, sozinha, estudar para Marselha.
Actualmente a viver em Paris (tal como a Marjane) a minha amiga tem sempre a casa cheia de alguém que escolheu "imigrar", ou que precisa de sair de lá temporariamente. Estes "alguéns" são família, vizinhos, amigos e até amigos de amigos. Para o marido francês de A. era difícil lidar com a situação, o apartamento minúsculo sempre debaixo de uma invasão persa. Mas é a vida.
Este filme pode, realmente, informar muita gente distraída sobre o Irão moderno e como se vive a vida nas casas da elite bem-pensante, mas, para mim, é muito mais. É a história Universal de uma mulher que se descobre através de uma vivência multicultural e o encarar de frente das suas raízes. A isso chama-se crescer. É verdade que as pessoas crescem depressa nas adversidades, mas dói mais.
Por isso vos peço que vejam o filme sem pensarem que estão a ver uma história iraniana. Para mim, é uma das melhores películas sobre dores de crescimento.