Histórias de uma portuga em movimento.
27
Fev 10
publicado por parislasvegas, às 08:48link do post | comentar

 ....pois eu ontem estava mal disposta. Não só fiquei puta da vida depois de ter feito a minha digressão habitual pelas notícias (deve ser do TPM), como fiquei ainda mais danada com a minha volta pelos blogues "para descontraír". Passo a explicar:

 

1.

 

Os portugueses têm muito a mania de que eles detêm o monopólio dos maus políticos e o recorde da corrupção, censura e demais atentados à democracia no mundo. Também têm a mania que ninguém nesse país faz nada de jeito e que os 10 milhões de compatriotas que residem no Continente e Ilhas são todos uma cambada de atrasados mentais. Eu já tentei explicar aqui muitas vezes que isto não é a realidade, é apenas uma espécie de doença mental colectiva, enraízada no nosso código genético e que precisa de tratamento JÁ. 

 

De maneira que um exercício que eu recomendo vivamente enquanto terapia para a "portugalidade" (vamos chamar  assim a "doença" só para efeitos práticos) é  aquilo que faço todos os dias, i.e - ler os jornais de todos os países que vos interessem ou dos quais saibam a língua. Porque ver as notícias internacionais não é a mesma coisa.

 

Os casos mesquinhos, os ódios de estimação os pequenos escadaletes dos políticos, tudo isso está lá, para toda a gente ver (menos nos russos que não têm praticamente imprensa livre, deve ser porque lhes falta um Crespo e uma Manuela....) assim como estão nos nossos jornais.

Qual é razão?? Bom, isso já não sei dizer, que isto aqui não é nenhum oráculo. Talvez os outros povos sejam MESMO iguais a nós. Não melhores, não piores, mas simplesmente iguais. Ou talvez os políticos tenham MUITA necessidade de distraír o povo com escandaletes numa altura de crise económica acentuada.Ou talvez se dê a realização do famoso  provérbio português "Em casa onde não há pão, todos ralham e ninguém tem razão", sendo que essa casa é o Mundo.

 

E há dias em que o Mundo inteiro parece ter entrado em parvoíce total e em que todas as notícias são uma inteira perca de tempo, coisas encomendadas, fabricadas, enfim tudo histórias da carochinha para boi dormir. Sendo que o boi em geral é o povão, que enquando se escandaliza, não pensa (repito que não estou a falar de Portugal em particular, mas da cena internacional em geral).

 

 

2.

 

Seguidamente, como já referi, fui ver os blogues "para descontrair" e porque tinha algum tempo livre. Resolvi fazer uma pesquisa completamente selvagem e fui a uma série de blogues que me surpreenderam pela forma como estão bem escritos e com o bom-senso que os seus autores espelham nos textos que postam. Blogues portugueses, claro está.

 

Aquilo me escandalizou não foi, portanto, o conteúdo dos textos ou a má ortografia, tudo isso estava muito bem e deixou-me muito satisfeita, até que, feita idiota, resolvi ir dar uma espreitadela aos comentários. No primeiro blogue pensei: "coitado do autor que tem que levar com isto, deve ser do tema do post", tal não era o fel que me aparecia destilado no ecrán. Mas depois no segundo, terceiro, quarto e por aí fora, fiquei banzada.  

 

Estou em crêr que a crise está a fazer de nós pessoas extremamente desagradáveis. Toda a inveja pequenina que sempre existiu (como em todos os países do Sul da Europa) está a descambar em veneno irracional, porque toda a gente descarrega onde pode. E onde se poderá melhor do que ao abrigo do rótulo "anónimo" num blogue qualquer?? Pois é. Vai daí esquece-se toda e qualquer noção de educação e civismo, até porque "hei, ninguém me conhece". 

 

Da "navegação" de ontem fiquei a saber que o Governo tem culpa do mau tempo que se avizinha e também do futuro terremoto que erradicará Lisboa do Mapa. Claro que haver um levantamento de cidadãos que exijam explicações sobre medidas preventivas  tomadas já dá muito trabalho, então a malta vai comentar parvoíces para a net, como se isso ajudasse alguma coisa.

 

Também fiquei a saber que qualquer pessoa que escreva frases mais ou menos complicadas e um palavreado mais elaborado é logo "intelectualóide" ou um priviligiado a quem os paizinhos pagaram o colégio privado. 

 

Sem falar dos blogues de gajas, onde qualquer merdinha postada "gosto muito da base do XYZ", dá logo comentários do estilo: deves andar a nadar em dinheiro, o teu paizinho deve ser rico, vê-se mesmo que não tens filhos para alimentar, devias era andar a trabalhar como eu. E outros mimos do gênero. 

 

Em resumo, parece que o normal cidadão, que ao vivo e a cores será capaz de dizer "se faz favor" e "obrigado" a qualquer compatriota, (independentemente das tempestades encomendadas, da base que utilize ou da sua proficiência da língua) se transforma em Ogre cibernético assim que vê uma caixa de comentários aberta. Enfim, a malta tem que descarregar em qualquer lado,  mas se começamos assim, qualquer dia estamos a bater um nos outros e não é virtualmente....

 

 

 

 

ps- ainda bem que este blogue tem dois ou, vá lá, três leitores, e dos silenciosos. Obrigado!


26
Fev 10
publicado por parislasvegas, às 07:32link do post | comentar

 

 

9 e meia da manhã aqui, sete e meia da manhã aí, com a criançada na escola há quase duas horas e já cumpri o meu ritual da manhã: um café, dois cigarros, os jornais portugueses, espanhóis, italianos, americanos, franceses e russos.

 

Tenho deveras muito material com que escrever - o estado do mundo em geral, e de Portugal em particular. Mas estes é um daqueles dias em que só me apetece dizer "pufff" a esta merda toda e ir-me deitar outra vez. 

 

Não haja dúvidas que a raça humana é de uma estupidez indiscritível.


25
Fev 10
publicado por parislasvegas, às 08:39link do post | comentar

 

 

Eu sei que a nova colecção de primavera Dolce&Gabanna é suposto piscar o olho à Gina Lolobrigida e à Sophia Loren, a todas as Sexy Mamas do Sul da Europa e homenagear a dona de casa desesperada que existe em todas nós. Mas porra que só me faz lembrar a D.Odete de Alcântara, com o crucifixo a baloiçar entre as tetas, aos gritos, dependurada da janela: "ó xico, anda que a sopa se faz fria, home!".

 

Sopeira é sopreira, e, se eu tivesse dinheiro pra isso, não o gastaria nesta piroseira. Livra!

 

 

 

Ps. Não gosto da colecção, mas gosto muito da campanha publicitária.


21
Fev 10
publicado por parislasvegas, às 10:07link do post | comentar

Longe de mim denegrir a imagem desta cidade linda.

Não pensem que retratei a degradação com o prazer secreto de rebaixar o sítio onde vivo, como fazem muitos estrangeiros.

Nada disso.

Esta cidade está viva, e vive através dos buracos de bala, dos muros de separação, do som das mesquitas rivalizando com os sinos das igrejas.

Dos dois lados da barreira as pessoas seguem como se nada fosse.

Como se não houvesse homens armados em cada esquina, como se os helicópteros de vigilância não existissem. Como se o arame farpado se tivesse dissolvido nestes 35 anos de divisão. 

É nas cicatrizes que marcam as pedras que se vê o que as pessoas tentam negar (por necessidade de sobrevivência, por ignorância ou por simplesmente não quererem saber). O património, assim como a história e as pessoas deste país, sofreu atrocidades e continua a ser um emblema da divisão que vem matando esta Ilha aos poucos. 

Aqui não há culpados, nem inocentes.

Como é hábito nestas situações o que existe é uma grande dose de rancor, intolerância, ódio e, sobretudo, medo.

O medo do outro é que nos faz identificar com os nossos iguais.

À falta de identidade comum, exploram-se as diferenças.

Uma história tão velha como a humanidade...

 

Todas as fotos foram tiradas no mesmo bairro de Nicósia na zona controlada pelo Governo da República de Chipre, daí a escolha da banda sonora em grego....

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19
Fev 10
publicado por parislasvegas, às 13:56link do post | comentar | ver comentários (2)

Há pessoas que nos marcam de maneiras que levam tempo a ser entendidas. Pessoas cuja presença nas nossas vidas é tão habitual, tão dada como certa, que se tornam uma espécie de mobília antiga herdada da bisavó.

 

E, pelo contrário, há pessoas que passam como cometas, brilham e ensinam-nos coisas intensamente, como se, no fundo, soubessem que vão desaparecer depressa e deixam um vazio estranho, uma ausência que não se pode medir. Não podemos dizer: "olha alí costumava estar o meu relógio de cuco", porque foi tudo demasiado rápido e demasiado intenso para ser mensurável.

 

Sabes, comecei finalmente aquela colecção de livros que me aconselhaste (há mais de 20 anos!) e em cada linha que leio a tua presença fica mais real.

 

Tenho pena que não me tenhas visto assim, crescida. Acreditas que tenho filhos e tudo?

Tenho pena que não ensines o meu filho a nadar, como fizeste comigo, que nunca tenhas visto a tua filha crescida, feliz ao meu lado, as duas com os nossos meninos. Tenho pena que nunca tenhas sido avô.  Acima de tudo, sinto a tua falta nas coisas de que falávamos só os dois. 

 

 

E, ah, sim, é verdade...o meu italiano está uma merda.

 

Estás a ver a falta que fazes??

 

 


03
Fev 10
publicado por parislasvegas, às 09:51link do post | comentar | ver comentários (4)

 Gostava de retomar este blogue, mas ando em secura criativa praticamente desde que cheguei à Ilha. É uma conjugação de factores entre as ocupações domésticas que me adormecem o cérebro e o facto de não ter estímulos externos ou internos que me agucem a mente.

 

Tenho tentado de tudo, desde leituras mais exóticas até ao curso de escrita criativa, que continuo a seguir, mas sem inspiração nada se faz...

 

Tenho projectos e projectos de histórias nas gavetinhas da minha memórias e até alguns rascunhos em papel, mas acho tudo mau, tudo insignificante. Entretanto, quanto menos escrevo, menos me apetece escrever. 


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