Histórias de uma portuga em movimento.
24
Mar 10
publicado por parislasvegas, às 08:32link do post | comentar | ver comentários (1)

Não me surpreenderam os dados do estudo sobre a saúde mental em Portugal.

 

Eu que não vivo no país, há muitos anos que reparo que as pessoas não podem estar a bater bem da cabeça. Como é que se pode ser um povo produtivo e bem-disposto quando a situação económica piora de ano a ano, quando se perdem cada vez mais empregos, quando os salários que se têm não chegam para sustentar a família, quando as pessoas andam afundadas em empréstimos e más relações com colegas, vizinhos e família?

 

É coisa que transparece no dia-a-dia, no nervosismo geral, na forma de brusca de tratamento social e na falta de paciência e tempo que a generalidade das pessoas têm seja para o que fôr.

 

Não é que os portugueses sejam uma cambada de desgraçados sem culpa do que está a acontecer, é verdade que os desgovernos generalizados e a irresponsabilidade dos privados contribui em larga medida para isso. Mesmo as famílias, muitas com prioridades trocadas, que nos anos 90 aproveitaram o boom económico para consumir e não para poupar, têm culpas no cartório.

 

Tudo isto é verdade mas, na minha opinião, agora que sabemos, preto no branco, que 23% dos portugueses sofrem duma doença mental, o essencial é atacar o problema.

 

Não sei como é que a estatística é feita, e sei que, em Portugal, como nos Estados Unidos, uma pessoa que esteja a passar por um desgosto ou quebra grave na sua vida é imediatamente diagnosticada como depressiva pelo médico de família. Alguns não são tratados porque se recusam, ou mesmo porque nem sequer têm acesso a tratamento. Outros levam logo com anti-depressivos e ansiolíticos e ficam a vegetar num limbo de paragem mental. Infelizmente, no nosso país o luto e o desgosto já não têm o mesmo respeito e espaço social que tinham antigamente. Hoje em dia, uma depressão circunstâncial e normal, transforma-se num problema de saúde sério.

 

Quando os tratamentos não são feitos à base de terapias, mas de químicos, é mais do que normal que as pessoas fiquem "presas" à medicação e que não  consigam recuperar.

 

Talvez a razão de tudo isto seja o falhanço da nossa rede social. Eu lembro-me que quando morriam pessoas da família, a minha avó se vestia de preto o tempo regulamentar. que ia chorar para a casa das vizinhas o tempo regulamentar, que só falava da pessoa morta o tempo regulamentar. Passado esse tempo acabava-se. Era assim, havia um espaço, uma rede social e um tempo para se desprender, para sofrer a perca, o divórcio, a tragédia. Hoje em dia há que estar normal no dia a seguir e engolir o prozac da ordem.

 

Os 23% de portugueses que sofrem (na sua maioria de ansiedade e depressão) podem dizer-nos que este método não está a resultar. E já agora, uma melhoria nas condições de vida também ajudava....

 


mais sobre mim
Março 2010
Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab

1
2
3
4
5
6

7
8
9
10
11
12
13

14
15
18
19
20

21
22
23
25
26
27

28
29
30
31


arquivos
2014:

 J F M A M J J A S O N D


2013:

 J F M A M J J A S O N D


2012:

 J F M A M J J A S O N D


2011:

 J F M A M J J A S O N D


2010:

 J F M A M J J A S O N D


2009:

 J F M A M J J A S O N D


2008:

 J F M A M J J A S O N D


2007:

 J F M A M J J A S O N D


2006:

 J F M A M J J A S O N D


2005:

 J F M A M J J A S O N D


2004:

 J F M A M J J A S O N D


pesquisar neste blog
 
subscrever feeds
blogs SAPO