Do chorrilho de asneiras que se disseram ontem no "prós e contras" da RTP1 (a sério - aquilo é uma jornalista??) o que mais me impressionou foram as declarações de um tal rapaz que lá andava no público e que era Secretário-Geral de uma coisa qualquer dos alunos da Universidade de Lisboa e tinha feito uma tese sobre a "geração à rasca". Eu nem fixei o nome da criatura porque não estava a prestar a devida atenção, confesso, mas fiquei siderada quando o rapaz em causa, barbado e com certeza mais perto dos 30 do que dos 20 afirmou com um ar de inocente que a nova geração não podia encontrar soluções para os problemas nacionais, porque nem os "adultos" tinham conseguido fazê-lo.
Assim mesmo: "adultos", o que quer dizer, que o rapaz, tese e tudo, doutorando, mestrando o raio que o parta, considera-se uma criança desprotegida. Que maior parte do povo português esteja infantilizado e espere que "os outros" encontrem uma solução "para isto" não me admira. São pessoas que cresceram em ditadura, são pessoas que não têm educação, pessoas que nunca foram ensinadas a ter iniciativa e nunca foram encorajadas a pensar. A culpa é sempre "da situação" e cabe sempre aos "lá de cima" a resolução de seja do que for, desde o mau tempo que se faz sentir à falta de produtividade. Mas que a nova geração seja igual, crescendo em democracia consolidada, tendo muito mais oportunidades de desenvolvimento do que a anterior, com os sacrifícios todos dos paizinhos e depois continuar à espera que "alguém" resolva a crise, quando já nem votam, nem têm consciência política nem envolvimento de cidadania, é obra!
Eu sou da geração rasca. Sou daqueles que andaram nas manifestações contra coisas várias. Reconheço que não teve efeito nenhum andar a mostrar o rabo à Ministra da Educação, reconheço que poderia ter ser feito de uma forma mais civilizada e mais simpática.
Sou da geração que andou sempre a refilar e hoje, gordos e alguns já carecas, nós as gajas de cintura mais quadrada e já a pintar o cabelo, hoje só queremos que os tostões sejam suficientes para pagar os ATLs aos miúdos e a gasolina para ir trabalhar.
A geração rasca que, metida em fraldas a tarde e a más horas (consequência de se tirarem cursos superiores e se querer fazer uma carreira de jeito para dar o melhor aos filhos), já quase quarentões e pais de miúdos pequenos, nos vamos reformar aos 70 anos sem direito a pensões do Estado e aos 60 ainda vamos estar a pagar propinas às crianças. Não podemos educar os nossos filhos neste rame-rame.
Se não educarmos os miúdos para serem activos, para se desenrascarem, enfim, para pensarem e agirem pela própria cabeça, estamos tramados. Nós, eles e o país. Porque temos que ser nós a formar uma próxima geração de jeito, uma vez que estes, os que deveriam agora estar a entrar no mercado de trabalho (e não entram porque não há mercado) vão ficar infantilizados e dependentes para todo o sempre.
Não deve ser fácil ir tirar um curso superior para se ficar desempregado, não deve ser fácil viver na casa dos pais até aos 35 anos, querer independência e não ter recursos financeiros para isso, mas a vida não é só fado. A vida é, acima de tudo, acção. E, sobretudo quando estamos "à rasca" não se pode ficar à espera que "os adultos" resolvam "isto".