A propósito do comentário do Zé da Penalva relativamente às multidões na China. Por acaso, se há coisa que sempre detestei é confusão na rua e multidões aglomeradas. Por incrível que pareça,isso ainda não se sente muito em Pequim, e é a principal razão pela qual eu não gosto lá muito de Shangai. Em Shangai uma pessoa sente-se mais no centro da mestiçagem, a cidade tem mais a ver com a nossa organização espacial, é mais à dimensão humana,mais europeia. Até a cozinha da região não me agrada tanto por ser demasiado misturada com ingredientes europeus. O stress diário é alucinante, toda a gente corre sem se perceber muito bem para onde, enquanto o ritmo pequinês faz lembrar África.Toda a gente anda ocupada, mas sem grande pressa. As avenidas e ruas de Pequim são tão grandes que não dão a sensação de grandes multidões juntas, e os bairros continuam com as tradições antigas, de velhinhos a jogar mah jong na rua, ou a conversarem alegremente à porta de casa. Por mais arranha-céus que construam, a Capital não se doutrinou ao ritmo ocidental.
Enquanto em Shangai, fiquei com a sensação que os velhos bairros chineses e jardins só lá continuam pelo dinheiro que deles retiram em turismo, e que o ritmo tradicional asiático já se perdeu totalmente no início do século XX com as colonizações francesa e inglesa. Isto é, Shangai é lindo pela herança europeia, mas detestaria lá viver por causa dessa mesma herança.
Os pequineses fazem-me lembrar os portugas. Não podem ver ninguém com cara de perdido, que não venham logo perguntar se precisas de ajuda. Se não percebes mandarim o problema é teu, mas que tentam ajudar, tentam. Em Shangai, podes ter um colapso no meio da rua que ainda passam por cima do teu cadáver, sem olhar duas vezes.
Hong Kong então nem se fala. Acho que odiaria viver num sítio assim, tão stressado e tão pequeno,cheio de gente. Nunca levei tanta pancada na rua como em Hong Kong, por isso nunca me passaria pela cabeça tentar ir viver para aquele sítio. É bom para passar fins de semana, quando se vem da República popular. Pelo menos para espreitar as novas tendências da moda e tecnologia internacional.