
Ora aí está um tema que todas as gajas gostam, mas nem todas têm coragem de admitir. Eu gosto de trapos. Não dou a mínima das importâncias a marcas, não tenho estilistas preferidos ou marcas que goste mais ou menos. Se a peça é gira e se eu tiver dinheiro para a comprar, marcha. Se custar menos do que cinco euros, ainda melhor. Isto é uma atitude, já me apercebi, que algumas mulheres acham totalmente disparatada. Algumas "amigas" já chegaram a dizer-me que sou uma pessoa agressiva, simplesmente porque me estou borrifando para o que os outros pensam e não tenho vergonha de aparecer com coisas que uso só porque gosto. Lá na cabeça destas minhas "amigas" eu deveria andar vestida só de marcas dos pés à cabeça para provar ao mundo que sei-lá-o-quê. No thanks, tenho mais onde gastar o dinheirinho que, por acaso, até me custa a ganhar.
O mais engraçado é que estas mulheres até nem trabalham. Os maridos lá lhes fornecem quantias astronómicas para que as senhoras se vistam bem (não basta ter uma mulher bonita, é preciso artilhá-la para fazer vista...). E elas ainda acham que é um direito que têm, exigir Manolos ou malinhas Gucci para que os chefes e colegas dos maridos vejam que eles estão muito bem na vida.

Eu adoro investigar mercados de peças exóticas para poder ter lencinhos de seda coloridos que raramente se vêem na Europa, ou túnicas e calcinhas de seda ou linhos puros a preços estupidamente baratos. Adoro ir a Amsterdão comprar sapatos laranja-eléctrico. Ou às lojas que vendem roupas estranhas, algumas até exclusivas e assinadas por estilistas reconhecidos internacionalmente, mas 70% abaixo do preço" normal". Para mim, comprar uma peça de roupa (até a t-shirt mais ranhosa) é sempre rápido (ou gostas ou não gostas) e tem que ter algo especial e diferente da carneirada habitual.
Agora que me tenho que relacionar mais com "gajas", estou a apanhar um choque cultural do caraças- é que as amigas que eu tinha em Portugal quase não faziam comentários de trapos. Ou se faziam era do estilo: "porra, onde é que foste arranjar essa merda desses sapatos azul cueca?". E isso tudo bem.
Agora ando a ouvir comentários do tipo: " porque é que trazes um relógio soviético se vens toda fina?".

Tchaika
Fico chocada com a falta de sentido de humor das pessoas. A maneira como nos vestimos serve para mais do que a mera futilidade de querer mostrar ao mundo quanto dinheiro se tem na carteira (para algumas pessoas é mais o dinheiro que se deixa de gastar na alimentação da família, mas pronto...). A forma como me visto é, para mim, mais uma maneira de passar mensagens às pessoas, de as provocar, de as fazer pensar um pouco. Ter um relógio soviético, super-kitch, quando se está vestida para uma recepção pode ser aqui interpretado como uma piroseira. Para mim é um espelho da minha condição actual, vivendo entre luxos que os nativos não têm, transporto a minha "tchaika" símbolo da mulher operária para os salões dos embaixadores. Os outros não acham piada. Eu quero é que se lixem.
Verdade seja dita, ninguém tem que tirar lições de moda de uma mulher (eu) que foi vestida de imperador ming do flash gordon para o próprio casamento, mas, pelo menos, fica a ideia base que o impacto da nossa imagem nos outros deve traduzir a nossa personalidade. Não o volume do cheque que nos cai no banco ao fim do mês.