Histórias de uma portuga em movimento.
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Mai 04
publicado por parislasvegas, às 06:18link do post | comentar
Para quem não sabe, babushki quer dizer avós em russo. No singular, babushka. São velhinhas, a sério. Curvadas pelo peso dos anos e rugas profundas causadas pelo frio. Algumas têm ar de terem nascido pouco depois da revolução.
Conheceram um mundo duro - as primeiras grandes fomes dos anos 20, as segundas dos anos 40. Viveram a Segunda-Guerra Mundial na frente. Viram a cidade ser destruída e ocupada pelos nazis, viveram a ocupação na pele. Tiveram os pais deportados em Auschvitz, perderam a família. Sobreviveram, reconstruiram a cidade nos anos 50, trabalharam nas fábricas e nos kolkozes. Contribuiram para a construção de uma União Soviética que só existiu nos cartazes de propaganda. Durante 73 anos viveram num regime que lhes dava casa (por mais miserável que fosse, era um tecto), emprego e lhes racionava a comida.

A velhice chegou com uma nova revolução. Agora aplicam-se as leis do capitalismo mais selvagem - comer ou ser comido. A resistência destas velhotas é impressionante. Perderam o direito às casas, recebem 10 Euros de pensão mensal, o sistema de saúde não funciona e os medicamentos são caríssimos.
Mas em vez de baixar os braços e deixarem-se morrer a um canto, as babushki reagem. Não é agora, ao fim de tantos anos de dificuldades que se deixam ir abaixo. Todas as madrugadas a cidade se enche de idosas. Vendem tudo o que podem: flores, legumes, ovos das suas galinhas, compotas que fazem em casa.
As de idade mais respeitável não falam uma ponta da língua local - só russo. Andaram na escola numa altura em que o ensino da sua própria língua lhes estava vedado. Continuam a apregoar os preços em rublos. Ao mesmo tempo gozam de um respeito imenso por parte do resto da população. Acho que foi uma das únicas coisas que não se perdeu com o advento do capitalismo foi o respeito pelos mais-velhos (regra que nós há muito descartámos). As avós têm autoridade para parar seja quem fôr em plena via pública só para lhe passar um raspanete dos valentes.
Eu já tenho levado vários. Que me lembre, vários por não usar barrete quando neva e um por estar a fumar na rua. Resposta? - obrigado avó, vou ter mais cuidado...

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