Histórias de uma portuga em movimento.
18
Abr 06
publicado por parislasvegas, às 11:54link do post | comentar

 Habituada a sentir-me totalmente perdida, já considero perfeitamente normal estar longe de tudo e todos que conheço.

O apoio familiar que se tem e dá nestas circunstâncias são umas dolorosas "consultas" à distância em que, telefonicamente, são debitadas as mágoas e azares, alegrias e gracinhas da vida. Digamos que é uma merda, estar tão longe, com a ilusão de que se está perto. Mas a verdade é que para mim (no fundo para nós, visto que o Xano tem vivido a vida inteira assim) esta parte desagradável da vida tem-se tornado um hábito. Também, que remédio. Não se pode passar a vida a chorar a falta de raízes.

Daí que, quando conheço gente que se dá verdadeiramente mal com as distâncias e desenraízamentos, nunca sei se os hei-de considerar uns mariquinhas, ou  pessoas de força inegável e grande resistência psicológica, porque, apesar de lhes ser extremamente difícil, seguem em frente e continuam o seu caminho.

Tenho visto esta atitude em todas as nacionalidades e todas as culturas. Pessoas de todos os sexos e todas as proveniências culturais.

Há um ano atrás, a Cristina, uma amiga da Sierra Leoa, queixava-se-me da solidão de viver em Pequim,sem a sua "aldeia" para educar a filha. Para ela, educar a menina sem a presença das tias e das avós era o pior exemplo de maternidade. Acredito que aquela mulher está convencida de que a filha nunca vai ser uma pessoa "normal" por lhe faltarem as raízes.

Este fim de semana foi uma amiga iraniana que se queixou do mesmo. Isto sem falar das minhas amigas portuguesas que vivem cá, em constante choro por estarem desmamadas de família e amigos.

Não digo que não custe. Nas horas em que me dão os ataques de desmame (sim, porque uma mulher não é de ferro e também os tenho) lembro-me sempre da planta que adoptei como símbolo para minha vida: a orquídea.

As orquídeas sobrevivem a tudo - mesmo no clima do ártico existem espécies desta planta. Porquê?? Porque têm raízes aéreas. Com esta inovação genética, estas plantas não precisam de terra para sobreviver. Agarram-se a qualquer coisa, uma árvore, uma pedra, uma casca de coco - e seguem com a sua vidinha, não importa muito onde.

Apaixonei-me por estas plantas na Ucrânia, onde quase tudo morria dentro de casa, devido à oscilação térmica durante o ano e (desconfio....) devido aos bafos radioactivos de Chernobyl. As minhas orquídeas eram a única coisa que sobrevivia contra tudo e todos. Acabei por querer saber mais, visitar quintas de produção de orquídeas domésticas na Tailândia e ainda ando a estudar espécies e os cuidados que se devem ter com elas. Ao mesmo tempo que são resistentes a quase tudo, são altamente delicadas. Uma variação de temperatura na altura errada do ano, pode acabar com elas de um dia para o outro. Ou seja, outro ponto em comum comigo mesma...

Eu gosto de pensar que as pessoas-orquídea se dão melhor com esta vida do que as restantes. Que temos mais resistências e preserverança para ultrapassar dificuldades. Se isto é verdade ou não, ainda não sei bem. Mas lá que poupamos os outros às choradeiras do desmame, poupamos. E isso já é um gesto de simpatia da nossa parte.

 

 

 


antes de haver uma Blimunda na minha vida, aqui na casa de banho ca de casa, nasciam fungos e cogumelos. Agora nascem orquideas e nem sequer é preciso regar...

Um gajo quando precisa de raizes vai busca-las onde quisere!!!!

tenho saudades vossas.
Riki Martin a 18 de Abril de 2006 às 19:09

Eu nem sei o que dizer cm mas,é uma comparação lindissima e muito verdadeira acredito eu:)
As raizes nunca se perdem, estão sempre lá no nosso sitio, e enquanto se vagueia pelo mundo fazem-se sempre novas amizades, novas raizes:)
Helder a 18 de Abril de 2006 às 23:11

Riky meu amigo, acho que vamos deixar de falar de saudade neste blogue, porque ando mesmo a rebentar delas.
Helder: é verdade. Mesmo estando aqui só há quatro meses já consegui criar um grupo estável de amigos com quem saimos. Não há dúvidas que a fome e o frio põem a Lebre ao caminho. Nestas situações perde-se a timidez e avança-se. Pode viver-se com as raízes no ar, mas não sem amigos.
parislasvegas a 19 de Abril de 2006 às 09:41

eu cá também curto bué as gajas, quero eu dizer as orquídeas mas olha que elas não facilitam lá muito a vida. a que o bacano lá de casa me ofereceu já lhe cairam as flores e agora sempre que me sento na sanita e olho para ela penso: "Caneco, o que é que tu precisas para voltar a florir?". CM, se tiveres conselhos dá-mos sff. pode ser por mail para não maçar o pessoal!
blimunda a 19 de Abril de 2006 às 11:20

Nunca a cortaste??
Para voltarem a florir, primeiro precisas de cortar o ramo antigo que já deu flores (se tiveres mais do que uma planta em casa tens que desinfectar a tesoura, porque elas podem desenvolver doenças e contagiam-se mutuamente através das lâminas), depois é aparicares a menina com aditivo para flores (uma vez a cada quinze dias ou três semanas misturado com a água da rega) e os botanitos começam a crescer outra vez. Nunca a regues mais do que uma vez por semana e sempre com água corrente e morna. Et voilá!
parislasvegas a 19 de Abril de 2006 às 11:36

desculpem aí o aparte mas esta conversa, que ia muito bem encaminhada descambou nisto (citando a blimunda):
"agora sempre que me sento na sanita e olho para ela penso: "Caneco, o que é que tu precisas para voltar a florir?".

Isto das orquideas deve ter muito que se lhe diga, e eu não precebo nada de floricultura.

E raízes... voltamos ao Amin Alouf... O encontro com as raízes é para ele um encontro (também) interior, consigo próprio, algo que para o autor, já se estranhava, tendo-se tornado parte da sua natureza uma fuga inconsciente de si e das raízes, que ao reencontrar, numa viagem "graalistica" lhe permite encontrar uma nova paz.

Tudo se resume a opções, consciêntes, inconscientes, consequentes e até inconsequentes, na certeza que ao optar por algo - um estilo de vida ou carreira - se rejeitam as outras alternativas e ao não optar se rejeitam todas, incluindo por ventura à nossa capacidade de escolher e assumir as decisões

Mas eu hoje estou demasiado dramático continuar a divagar.
desculpem lá qq coisita.
beijinhos.

Atalaia a 19 de Abril de 2006 às 17:43

Mas aí é que está Atalaia: eu sei que escolhi, conscientemente, este tipo de desenraízamento, por isso acho que não tenho razões nenhumas para me lamentar, tirando a ocasional choradeira da saudade, ou não fosse eu portuga. Além disso, no meu caso, o regresso às origens é obrigatório, de maneira que vou ter muito tempo para me reencontrar. Na volta a escolha foi fugir, como o Malouf, às vezes pergunto-me se terei amadurecido o suficiente para o regresso. E vamos lá a animar, Atalaia, que eu não gosto de te ver assim tão "dramático".

Boa!!!!
Já percebo o motivo da morte prematura das minhas orquideas!
postitlilas a 21 de Abril de 2006 às 13:58

Mas por isso é que eu gosto tanto destas plantas: resistentes sim, mas também mau feitio. Não admitem maus tratos...
parislasvegas a 21 de Abril de 2006 às 16:46

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