História passada há exactamente 500 anos, este livro do Richard Zimler , conta-nos a história do Massacre de Lisboa, iniciado em 19 de Abril de 1506. Incitada por frades Dominicanos, a população católica de Lisboa entra em motim descontrolado e assassina 4000 judeus em poucos dias. Enquanto isso, a casa real deixa temporariamente Lisboa, para deixar a poeira assentar e passar o cheiro a judeu queimado. O único castigo conhecido aplicado foi aos 4 frades dominicanos que incitaram a populaça, mas por "desobediência à Coroa" e não por terem provocado a morte de 4 mil cidadãos.
Verdadeira vergonha para o nosso país, não penso que esta data possa passar em branco. Acho que já é tempo de descomplexar a nossa história e começar a assumir que fomos tão bárbaros quanto os outros na nossa sinistra inquisição e perseguições religiosas.
No entanto, é preciso também relembrar a data como algo que passou e não mais se irá repetir. É preciso mostrar o quanto evoluímos e como nos tornámos num país Europeu, civilizado e moderno. No mundo de hoje, onde a guerra em nome de um deus-qualquer ainda faz as delícias dos humanos, é preciso sublinhar que esses foram tempos de barbárie , que não se justificam no século XXI.
Não há lógica num Estado dominado por uma crença religiosa, não há racionalidade numa sociedade que funciona à base de medo e dominância do divino. O povo judeu tem vivido milénios de perseguições e tentativas de genocídio. Seria de calcular que tivessem aprendido alguma coisa. Infelizmente, os últimos 50 anos de história do Médio Oriente mostram que não.
Por isso acho que esta data deveria ser relembrada. Relembrada com a tristeza e impotência de quem vê o mundo a andar para trás e se apercebe que aquelas 4 mil almas desgraçadas morreram em vão.
Passados 500 anos, o ódio continua o seu reino.