Histórias de uma portuga em movimento.
19
Abr 06
publicado por parislasvegas, às 10:03link do post | comentar

História passada há exactamente 500 anos, este livro do Richard Zimler , conta-nos a história do Massacre de Lisboa, iniciado em 19 de Abril de 1506. Incitada por frades Dominicanos, a população católica de Lisboa entra em motim descontrolado e assassina 4000 judeus em poucos dias. Enquanto isso, a casa real deixa temporariamente Lisboa, para deixar a poeira assentar e passar o cheiro a judeu queimado. O único castigo conhecido aplicado foi aos 4 frades dominicanos que incitaram a populaça, mas por "desobediência à Coroa" e não por terem provocado a morte de 4 mil cidadãos.

Verdadeira vergonha para o nosso país, não penso que esta data possa passar em branco. Acho que já é tempo de descomplexar a nossa história e começar a assumir que fomos tão bárbaros quanto os outros na nossa sinistra inquisição e perseguições religiosas.

No entanto, é preciso também relembrar a data como algo que passou e não mais se irá repetir. É preciso mostrar o quanto evoluímos e como nos tornámos num país Europeu, civilizado e moderno. No mundo de hoje, onde a guerra em nome de um deus-qualquer ainda faz as delícias dos humanos, é preciso sublinhar que esses foram tempos de barbárie , que não se justificam no século XXI.

Não há lógica num Estado dominado por uma crença religiosa, não há racionalidade numa sociedade que funciona à base de medo e dominância do divino. O povo judeu tem vivido milénios de perseguições e tentativas de genocídio. Seria de calcular que tivessem aprendido alguma coisa. Infelizmente, os últimos 50 anos de história do Médio Oriente mostram que não.

Por isso acho que esta data deveria ser relembrada. Relembrada com a tristeza e impotência de quem vê o mundo a andar para trás e se apercebe que aquelas 4 mil almas desgraçadas morreram em vão. 

Passados 500 anos, o ódio continua o seu reino.

 


Isso é tudo verdade.
De qualquer maneira quando hoje se fala em judeus, apetece-me começar aqui a falar da politica externa de israel. Falar do muro infame que foi construido na palestina. Falar do controlo internacional dos media exercido pelo lobie sionista que governa em Nova Iorque. Falar dos assassinatos politicos praticados pelos serviços secretos israelitas. Falar da impunidade dos criminosos de guerra judeus que no libano durante os anos 80 fizeram atrocidades.
Ao contrario do que é costume, hoje vou ser politicamente correcto e fico calado em relação aos cbrões dos judeus.
Lembro só que os padres e a igreja catolica é a mesma de ha 500 anos e ainda não ninguem foi julgado pelos seus crimes.

beijos
Riki a 19 de Abril de 2006 às 12:54

Tenho aqui grande dificuldade em posicionar-me perante esta data.
Qualquer massacre é terrivel, mais ainda por se tratar de um assassnato em massa de uma minoria, caracterizada por uma fé.
Lamento obviamente essas mortes.
Mas não as sinto "minhas". Não me identifico nem com o lado judeu nem com o lado católico da história. Nem mesmo por ser a história portuguesa. Quer o estado do Vaticano quer o estado de Israel têm sido promotores das maiores hipocrisias, assassinatos e misérias da história. Sempre de mãos limpas e aventados a moralistas deste mundo. A terceira parte aqui é uma monarquia cobarde e decrépita, o que apenas abona a seu favor pela coerência.
Passou-se em Lisboa, esta Lisboa onde passo maior parte dos dias, esta capital de um país que se tornou, dizes "Europeu, civilizado e moderno"... não sei se isso é verdade, e a ser não se será algo de necessariamente bom.
Lisboa está cada vez mais plástica, no sentido mais sintético do termo. E isso traduz a crescente desumanização da cidade. Há dias em que tudo me parece um cenário de um filme antigo, do tempo em que cá havia gente. Hoje só cá encontro maus personagens e centros comerciais. E aí sim, se nota a continuidade de uma tradição de mais de 500 anos.







Atalaia a 19 de Abril de 2006 às 13:11

Ambos têm toda a razão nos comentários que fazem.
Esta coisa dos judeus de Portugal, faz parte de uma "mania" pessoal. Como sou muito escura de pele e a família do meu pai tem raízes profundas no Alentejo, imagino que uma das nossas origens possa ter sido uma família muçulmana ou judaica fugida das perseguições de Lisboa. Parvoíces românticas. Por isso sigo com muito interesse essa página negra na história do nosso país.
Quanto à desumanização de Lisboa, infelizmente é um fenómeno que já tem uns anos. Qualquer cidade europeia tem vida constante, Lisboa a partir das 8 da noite transforma-se numa cidade-fantasma. Espelho de um planeamento urbano lamentável e da péssima qualidade de vida que têm os portugueses em geral.
Relativamente ao comportamento de Israel, como percebeste Riki, não me apetece falar disso hoje. Só em respeito aos desgraçados que morreram faz 500 anos. Qualquer dia faço um daqueles posts clássicos "como o oprimido se tornou opressor".Há muito a dizer sobre a ideia estapafúrdia de serem o "povo escolhido" e mais parvoíces. Aí andam ombro a ombro com as atrasadices mentais dos muçulmanos fundamentalistas.

parislasvegas a 19 de Abril de 2006 às 16:58

Ainda sobre esse massacre: fica sabendo que alguns hisotiradores dizem que foram judeus fugidos de Lisboa em 1506 que fixaram na zona de palhais os fornos de cozedura dos biscoitos. Parece que foi com as doações dos empresários de palhais e da mata da machada que se construiu o 1ºhospital de nossa senhora do rosário ( junto ao largo rompana).
Lembro que a exsitencia do hospital e de tres paroquias (Pahais, Verderena e Barreiro) justificaram o foral em 1536.

( isto é para não dizeres que só mando otrrinos de cumunas e copos!!! )
Riki a 19 de Abril de 2006 às 17:47

Eu não digo alarvidades dessas!
Bom, como vês, até o Barreiro tem origens judias...Viva a misogenia!
parislasvegas a 20 de Abril de 2006 às 09:26

Quanto aos judeus, honestamente, acho que continuam a fazer parte daquilo que se chama povo português.
Ao contrário de uma historiografia nacionalista facha e de uma verdade católica oficial, na minha opinião os povos da ibéria ocidental foram ocupados pelos francos em meados do século XII. O Conde Henrique, mais o filho Afonso e toda essa malta vieram para cá colonizar-nos.
A partir da chamada independência temos vindo a ser submetidos a uma invasão sistemática da própria Europa que os tenta subverter o carácter simultaneamente Africano (magrebino) e Atlântico (insular, porque isolados num relevo montanhoso). Segundo o mestre Agostinho da Silva Portugal só se cumpre historicamente no Brasil pós independência e em Angola durante a ocupação filipina.
Num Portugal fechado e preso à Europa seguimos agrilhoados a uma civilização que não é a nossa e a uma cultura de Inverno que não tem haver connosco.
Os judeus, os árabes, e os pagãos que se foram convertendo à ditadura romana do cristianismo aportaram para o inconsciente colectivo que é “Portugal” estes bichos-carpinteiros que desde a escola primária não nos deixam ter o cu quieto e os pés parados.
Tu que falas em raízes que crescem no nada sabes do que falo. A natureza lusófona é esta errancia por caminhos à procura das coisas que se deixaram em casa.
Acho que desde a ocupação dos Francos chamada independência pelos historiadores oficiais, desde 1143 que os portugueses vivem no exílio. Justifico assim a saudade permanente como sentimento nacional de um povo que chama casa à estrada.
...........................
Na minha opinião o escritor lusófono por excelência (angolano, português e brasileiro) é o José Eduardo Agualusa. Num dos seus primeiros livros, " A nação crioula" , um livro brilhante sob todos os pontos de vista, o Agualusa escreve numa fala de um personagem qualquer coisa como isto: "Os portugueses de hoje são tão pequeninos que nem precisam de sair de Portugal".
A meu ver esta frase resume o erro que é meter e limitar Portugal à Europa... Portugal pode caber no continente, na comunidade, no espaço Schengen , no tratado de Maastricht e nessas merdas todas... Portugal pode caber aí nesses sítios todos mas acontece que os portugueses não cabem.
Lembro o GRANDE ABSURDO: Ao contrário de um polaco ou um norueguês, um angolano ou um brasileiro para entrar em Portugal precisam de visto.
……………………………………
Naturalmente que vejo uma grande dose de cinismo nas homenagens oficiais. Para quê homenagear os judeus massacrados em nome das imposições da igreja católica? Passados 500 anos o estado português continua a submeter-se aos centros de interesse europeus.
São as lágrimas dos crocodilos. Falam-nos em tolerância e multiculturalidade mas impõem-nos modelos que nos são totalmente estranhos.
A Europa católica apostólica romana é a mesma dos serviços de estrangeiros e fronteiras. Ontem os dominicanos queimavam lusófonos judeus e expulsavam os lusófonos muçulmanos. Hoje o estado e os serviços de estrangeiros e fronteira prendem e expulsam lusófonos nascidos angolanos, brasileiros ou dentro de outros pontos imaginados nos mapas e fechados a riscos pretos a que chamam fronteiras. Tal como os dominicanos ontem, os do SEF hoje dizem: tu não és daqui! Tu és diferente.
Ontem como hoje, os centros decisão estão bem longe dos reais interesses das pessoas. Ontem como hoje há uma grande distância entre a lusofonia, enquanto comunidade das pessoas que falam a mesma língua e têm a mesma cultura e o país dos documentos e papéis selados.
Por mim, sou internacionalista. Estou completamente de acordo com o Pessoa quando diz que “ a minha pátria é a língua portuguesa”.
Não canto o hino, não me levanto quando içam a bandeira e não torço pela selecção nacional. A primeira vez que me senti português foi em 98, em havana quando vi uma estátua erigida à memória do Eça com uma legenda simples: escritor e anti esclavagista. Fiquei emocionado porque o Eça escrevia na mesma língua em que eu leio e em que conto historias aos meus filhos.

Já ultrapassei largamente a meia hora.
Sei que estas são questões com que lidas diariamente. Sei que tens uma ideia de pátria muito mais abraçada à republica portuguesa do que a minha.
Agora responde às minhas alarvidades. Fico à espera.

Bjs
Riki Martin a 20 de Abril de 2006 às 11:51

Apanhas-me assim de rompante, regressada de uma reunião de merda onde passei horas a discutir os apoios da Comissão Europeia à crise do mercado das aves de capoeira provocada pelo fantasma da Gripe das Aves.E tu vens me falar de centros de decisão afastados???C'uma porra!
Pelo menos no caso português, já temos experiência a lidar com a coisa: na época medieval o centro de decisão na Europa ficava em Roma, que não é perto. Depois passámos a depender de Madrid, mais tarde de Londres, depois isolámo-nos e perdemos o comboio do desenvolvimento e da democracia. Agora esperamos as sentenças que saem de Bruxelas. So, what's new???
O Agostinho da Silva dizia e, muito bem, que nos cumprimos no Brasil e em Angola, o que quer dizer que os actuais portugueses são descendentes dos que ficaram e que nunca fizemos nada de jeito na Europa.
Se alguma coisa útil ficou da nossa colonização foi a mestiçagem e a língua, componentes siamesas da lusófonia. O resto, penso, é explicável através de um pequeno exercício de psicologia colectiva: somos demasiado pequenos para suportar o trauma da perca do império, e para falar a 5ª língua mais falada a nivel mundial. Não conseguimos lidar com o futuro, presos que estamos a glórias passadas que ainda não conseguimos absorver.
Depois há o de sempre: estamos bem onde não estamos porque queremos sempre ir onde não vamos, um descoforto constante por termos latentes as saudades do futuro.
Só espero que os meus filhos me cresçam lusófonos, mas sem Sebastianismos... É essa a parte de ser português que me irrita valentemente.

parislasvegas a 20 de Abril de 2006 às 16:49

Até pode ser isso tudo que escreveram e eu não tive pachorra de ler, mas que o livro é muito bom é!
D. a 20 de Abril de 2006 às 23:48

Francamente, D. preferes ler aquilo que um estranho, ainda por cima estrangeiro escreve, a leres o que os teus amigos têm para dizer???
Acho mal. Acho mesmo mal.
Atalaia a 21 de Abril de 2006 às 11:39

voces não me faltem ao respeito porra!!!
Riki a 21 de Abril de 2006 às 16:12

Tou a ver que tenho que fazer um novo post...
parislasvegas a 21 de Abril de 2006 às 16:47

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