Como se não bastassem os compromissos profissionais aos fins-de-semana e feriados, a Shar Pei resolveu estragar-nos o Domingo (definitivamente) com uma nova fuga em grande estilo.
Das primeiras vezes, ainda conseguimos identificar por onde e como a cadela conseguiu fugir, agora confesso a minha total impotência e incredulidade. O cão ganhou-me. Sem dúvida que deve ser muito mais esperta do que eu (pelo menos na arte de cavar buracos e dissimular pontos de fuga) porque eu não vejo maneira lógica e possível para a tipa ter saído do jardim. Ainda por cima, pirou-se mesmo debaixo do nariz do dono. Apanhou o Xano distraído durante dois segundos e foi quanto bastou.
Vá lá, vá lá conseguiu não ficar debaixo de um carro desta vez.
Acabou por regressar a casa, com aquele fochinho idiótico de quem andou a rebolar-se na lama, toda molhada, toda preta e de rabinho a abanar. Palavra d'honra que só me apeteceu matar a porra do cão.
Mesmo depois do regresso do Shar Pei, não consegui controlar os nervos todos que tinha acumulado durante a ausência do cão, e o jantar (que por acaso até me tinha saído muito benzinho) decidiu não me ficar no estômago. Foi bastante desagradável passar o serão a ir ao gregório, principalmente quando nem havia razões etílicas para tal...Trintona que se preze gosta de vomitar por uma boa-causa. Ou quando se está bêbeda, ou quando se está grávida. Assim não...
Tenho andado preocupada com a degradação da qualidade de vida dos meus cães. Ficaram sem companhia e passamos dias a dormir. A bulldog não se importa muito porque, de qualquer das formas, dormir já era a sua actividade favorita, mas a Shar Pei anda difícil de controlar. Cada vez que sai de casa tenta sempre fugir, não há volta a dar-lhe.
Tenho sido meio parva e não quis comprar a coleira choque-eléctrico. Claro que ontem mudei de ideias. Vamos ver se isso dá resultado.
Entretanto já tenho dois cães crescidos. Ando a notar diferenças no comportamento das cadelas que me garantem que tenho cães adultos: acabaram-se de vez os xixis (YUPIII!!!!!), a Shar Pei, apesar de louca, anda mais calma e a bulldog aprendeu a falar. Aliás, a gorda é o cão que interage com os humanos, a interprete entre a língua de cão e a nossa. É ela que nos pede para ir à rua, que nos avisa quando a água se acabou, que dá o alarme quando passaram cinco minutos da hora habitual da refeição. Para além disto tudo, ainda nos tenta dizer mais uma série de coisas, mas ainda não aprendemos o vocabulário todo...
Mas como boa bulldog que é, não pára de chatear, mesmo quando vê que a malta não está a perceber patavina do que ela está prá'li a latir. Ontem, depois da fuga da Shar Pei, ficou uma boa meia hora entre rosnadelas e gemidos a tentar dizer-me qualquer coisa. Talvez se estivesse a queixar que a outra foi passear sem ela, talvez me estivesse a contar como é que ela tinha fugido e onde teria ido. Outra particularidade é que, desde que começou a falar, a gorda pensa que é uma boa alternativa à televisão: isto é, temos que parar de olhar prá coisa quadrada no meio da sala e passar a olhar para sua excelência, que entretanto não deixa ouvir patavina porque se põe a palrar, meios latidos, latidos com força, rosnadelas e, quando vê que não lhe ligamos puto, gemidos e choros de cão.
A outra, bem, a outra é um cão. Está cada vez mais esperta - noto que tem uma linguagem corporal para a bulldog e outra, muito diferente, para mim. Como ouve a gorda a palrar e vê que os humanos respondem, já começou a emitir sons vários que só servem para aborrecer os bípedes lá de casa, porque a desgraçada ainda não percebeu que só se deve ser sonoro quando se quer qualquer coisa. Mas dadas as suas capacidades de evasão, nunca mais digo que a cadela é meio-tonta.