Histórias de uma portuga em movimento.
22
Mai 09
publicado por parislasvegas, às 16:09link do post | comentar

Sabem aquelas coisas que os portugueses dizem de Portugal? Que não há direito, que isto só neste país, que nem parece Europa, que terceiro-mundo, que desorganizado, que retrógrado e tal? Bom, há muito tempo que insisto em dizer que tudo isso está correcto, mas também acaba por envenenar a maneira portuguesa de estar na vida e no mundo. Numa frase - todos se queixam e ninguém mexe uma palha para melhorar a situação- isto tem-me intrigado a vida toda porque não compreendo como é possível que um povo inteiro identifique os seus erros, mas nunca os corrija.

 

Nos últimos anos tenho desenvolvido a teoria da pobre comparação - os portugueses não são pessoas muito viajadas e têm tendência a pensar que tudo o que é estrangeiro é melhor do que o produto nacional. Claro que isto só justifica a parte das críticas, mas não justifica a parte da inércia. Aliás, a grande característica do povo português é justamente essa - a inércia. Pelos vistos, dar novos mundos ao mundo esgotou-nos para todo o sempre.

 

Só para animar o espírito derrotista do portuga médio gosto de postar aqui situações que "só em Portugal", com a diferença que, não se passam no nosso país, mas sim nesse mítico éden de perfeição que se chama "o estrangeiro".

 

A título de exemplo, descrevo a minha ida de hoje ao hospital com o Kiko, para a última consulta do pós-operatório com o cirurgião pediátrico que o operou a semana passada (a nada de grave).

Chego ao bairro do hospital e deparo-me com o caos total. Centenas de carros estacionados por todo o lado, uns na diagonal, outros quase no meio da estrada, etc. Devia ser o dia das consultas externas.

Entro no parque subterrâneo e deparo com dois artistas estacionados de viés, ocupando dois lugares em vez de um. Faço os três andares do parque e nem um lugarzinho para amostra. Volto para cima e não consigo sair com a bisarma do Mercedes porque um dos pacientes perdeu a paciência e largou o Jeep no meio do parque a bloquear entrada e saída. Lá saí do parque, deixando para recordação um risco cinzento e profundo na carroçaria branca do Jeep (em Roma, sê romano).

Estacionei a vários quarteirões do Hospital, saquei do carrinho do puto e fui a pé. Chegando à estrada esperei 10 minutos para conseguir atravessar porque não existem passadeiras ao pé do hospital. Aliás, nem ao pé nem longe. Talvez não existam passadeiras porque também não existem passeios. Os caminhos são de terra batida. E isto no centro da cidade.  Depois foi tentar entrar com o carrinho no hospital. Nem imagino a ginástica de quem precisa de entrar com uma cadeira de rodas. As portas não são nem automáticas, nem se fixam abertas, isto num hospital construído há dois anos.  Bom, lá entrei utilizando a técnica do cú: empurra-se a porta com o traseiro, fixa-se a porta com o traseiro e empurra-se o carrinho para dentro do edifício. Quem tem cú, tem tudo.

Parte positiva: esperei só um quarto de hora pela consulta e não a paguei. Como aliás, não paguei as últimas quatro, porque o médico considera que o serviço de acompanhamento da criança depois da operação está incluído no preço da operação propriamente dita, e isso, tal como os passeios de terra batida, o caos no trânsito e a falta de passadeiras, só neste país.

 

Fomos depois dar uma voltinha pelo centro. Estacionei num dos parques municipais (a pagantes), que é suposto ter vigilância permanente. Quando quis voltar para casa, mais uma vez não conseguia sair porque houve uma anta que estacionou o Subaru no meio da faixa de rodagem, apesar das centenas de lugares livres. Depois de muita manobra lá consegui passar, desta vez sem bater.

 

Tanto no hospital como no outro parque fui queixar-me aos seguranças da maneira como os outros idiotas tinham estacionado. Em qualquer outro país se chamaria a polícia e o reboque. Aqui encolhem os ombros e deixam ficar.

 

Dois anos a viver nesta ilha e raramente vejo polícia de trânsito, só estão presentes nas bermas das auto-estradas para medir a velocidade (máximo 100 Km/h, deve ser com medo que o pessoal acelere e caia ao Mar...). Claro que isto é um país tão avançado quanto o nosso e claro que compraram câmaras com radares para detectar a velocidade e fotografar os infractores, mas essas câmaras não funcionam desde que foram instaladas porque o Governo as comprou defeituosas e a empresa que as vendeu esfumou-se no ar.

 

Faz-vos lembrar qualquer coisa???

 

 


17
Abr 07
publicado por parislasvegas, às 14:49link do post | comentar | ver comentários (2)

Na edição desta semana do "The Economist " (vénia, vénia) Portugal volta a ser referido pelas mesmas razões de sempre - as más.  

 

Diz-nos o Economist o que nós (infelizmente) há muito já sabemos - que a nossa economia é uma vergonha, que nos deixámos cair para a ponta da cauda da Europa Ocidental (i.e. não somos a "cara" da Europa, mas sim o cú) e que somos o verdadeiro exemplo do que não fazer em caso de adesão ao Euro.

 

Também nos acusa de certos "crimes" que são meias-verdades . Objectivamente Portugal foi o primeiro país a ser ameaçado com sanções pela Comissão por não cumprir o Pacto de Estabilidade, mas isso foi apenas porque o peso político da Alemanha e da Itália as defenderam de ter essa desonra, pois derraparam muito antes de nós. 

 

A justificação apresentada pelo Economist  e que coincide com a análise que eu, simples leiga, faço desta desgraça, é que o nosso país (uma vez mais) fez tudo ao contrário. Enquanto em Bruxelas negociávamos a adesão ao Euro, em Lisboa ignorávamos alegremente a mudança que aí vinha. O que quer dizer que, ao contrário dos restantes europeus nos "preparámos" para a adesão ao euro depois da moeda ter sido posta em circulação - how weird is that hu ?

 

Claro que esta não foi a única burrice. O boom  dos anos 90, orgulhosamente reivindicado por um certo professor de economia, não passou de especulação. Não criou riqueza, não investiu no futuro, não reformou o tecido produtivo. No entanto, a responsabilidade tem que ser dividida, não apenas por todos os que nos governaram, mas também e muito por todos os "empresários" que pensaram mais em andar de Porche do que em criar empregos. E, infelizmente, esse animal reproduz-se com fartura nas nossas terras.

 

A conclusão do vetusto semanário não é diferente da de qualquer um de nós - estamos fodidos .  Chegámos às últimas e agora não temos outro remédio que agonizar enquanto este Governo nos corta a todos em tiras (incluindo a si próprio) a sangue frio. Como os senhores do Economist são estrangeiros, estão muito mais optimistas que todos nós e acham que o PM Sócrates está a portar-se bem e a fazer o que é preciso para nos retirar do buraco hard medecine - o que arde cura). Eu, tão tuga que raramente consigo ver para além do véu de lágrimas da Severa, tenho as minhas dúvidas.

 

Curiosamente nem por um momento os senhores estrangeiros abordaram esse assunto de importância vital para o futuro da nação - será o PM engenheiro de minas?ou de pontes? Devem andar distraídos daquilo que é verdadeiramente essencial...

 

 


20
Mar 07
publicado por parislasvegas, às 16:58link do post | comentar

"Portugueses gastaram 80 milhões de euros em sedativos, hipnóticos e ansiolíticos"

in "O Público" de 20.3.2007 


01
Fev 07
publicado por parislasvegas, às 17:41link do post | comentar | ver comentários (3)

Ontem, a caminho de casa, apanhei na rádio um especial sobre o referendo em Portugal. Neste programa os locutores explicavam a polémica que tem dividido o país entre conservadores e liberais, entre religiosos e laicos. Diziam os senhores da rádio que Portugal era um país muito mais laico e moderno, em termos de mentalidade, do que a Irlanda e que o SIM não tinha ganho em 98 por causa da elevada abstenção.

Ora isto deu-me gosto ouvir, porque não nos chamaram nomes, caracterizaram-nos como um país de pessoas formadas, com uma certa educação, que andam agora a debater uma questão importantíssima (que os franceses já resolveram há muito) e que essa questão apenas é debatida com tanta paixão, porque Portugal tem uma cultura muito marcada pelos valores católicos e conservadores, apesar da maioria da população pregar uma coisa e fazer outra. Acho que os senhores da rádio até nos tiraram bem a foto. Pelo menos a descrição do país não me envergonhou.

Depois passaram a entrevistar uma eurodeputada portuguesa de esquerda. Isso sim é que me envergonhou valentemente. Porque sou de esquerda, porque sou portuguesa, porque não sou eurodeputada e nunca diria tais coisas em relação ao meu país a um meio de comunicação social estrangeiro, se bem que as pense e a diga a toda a hora a outros portugueses como eu.

Há que distinguir entre o que se pode criticar entre iguais, e o que se vai dizer em "prime-time" na rádio mais ouvida de França (das únicas NACIONAIS). Chamar Portugal de retrógrado ", "medieval" e "terceiro-mundista" está muito bem numa mesa de copos e de amigos, ou mesmo num telefonema de insultos a  uma Excelência qualquer. Apregoar isso nas ondas hertzianas francesas para toda a população de françúis ouvir e ficar com AINDA MAIS sentimentos de superioridade em relação aos petits portugais " é um crime lesa-pátria.

Mostra que a senhora não sabe o que é viver "cá fora" e não sabe a vergonha que provocou a inúmeros compatriotas que são capazes de ainda ter ouvido "bocas" dos chauvinistas que trabalham com eles.

O meu único consolo é que o francês dela é muito pior do que o meu...

 

 


21
Jun 06
publicado por parislasvegas, às 16:27link do post | comentar | ver comentários (7)

Pelos vistos, não foi só em Portugal que se ouviram os apelos do nosso seleccionador. Hoje de manhã atravessei três bairros de Paris ( e dos finos, por sinal) e havia bandeiras de Portugal janela-sim-janela-não. Isso foi antes da maltesaria começar a sair à rua vestida com as camisolas da selecção e com bandeirames enormes às costas, à laia de lençol. Isto tudo e o jogo ainda nem sequer acabou...

O mais engraçado é que euzinha aqui que sempre critiquei a "comercialização" da bandeira e o patriotismo de relvado, arrepiei-me que nem uma madalena sensível com as ondas de verde-vermelho em Paris. Isto de ser imigrante dá pró sentimento.

Agora vou ali num instante atirar-me da janela a baixo, porque estou desde as nove da matina a ouvir uma discussão  sobre a conquista europeia do Espaço (a sério - isto parece o StarWars, estou a alucinar!) e não consigo ver o jogo. Por SMS dizem-me que estamos a ganhar. Vivam as novas tecnologias, o Espaço e todos os seus satélites, mais a maravilha do GPS mas porra para as reuniões que discutem essas merdas em dia de jogo da selecção.


03
Abr 06
publicado por parislasvegas, às 18:55link do post | comentar | ver comentários (5)

Ando a reparar que preciso de ir a casa urgentemente: hoje vi aqui a foto de Castelo Branco e o azul do céu fez-me chorar.

 

 

música: L'indécision - Da Silva

31
Mar 06
publicado por parislasvegas, às 19:01link do post | comentar | ver comentários (1)

São 8 da noite nesta terra santa.

Estou prá'qui em frente ao computador, sem saber se posso ir descansar os ossos ou não. Tenho uma cena importante para fazer, que entretanto entrou em banho-maria por falta de decisão superior que deveria ter partido de uma  excelentíssima-pessoa-responsável-pelas-decisões aí no país da desorganização.

O que lixa???é que só estou à espera, porque a excelentíssima-pessoa-responsável-pela-decisão se baldou com uma pinta desgraçada e foi pró Algarve curtir, enquanto eu estou aqui pendurada...

Azares de mexilhão!

sinto-me:

mais sobre mim
Fevereiro 2014
Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab

1

2
3
4
5
6
7
8

9
10
11
12
13
14
15

16
17
18
19
20
21
22

23
24
25


arquivos
2014:

 J F M A M J J A S O N D


2013:

 J F M A M J J A S O N D


2012:

 J F M A M J J A S O N D


2011:

 J F M A M J J A S O N D


2010:

 J F M A M J J A S O N D


2009:

 J F M A M J J A S O N D


2008:

 J F M A M J J A S O N D


2007:

 J F M A M J J A S O N D


2006:

 J F M A M J J A S O N D


2005:

 J F M A M J J A S O N D


2004:

 J F M A M J J A S O N D


pesquisar neste blog
 
blogs SAPO