Temos tido histórias muito complicadas com os cães. Tanto eu como o meu mais-que-tudo somos dog-lovers, mas não temos tido grande sorte com os bichos.
Isto para dizer que, como já tinha dito ali num comentário, que o veterinário (que não era o nosso habitual) enganou-se no diagnóstico. Mas também, é daquelas coisas que podem acontecer: a cadela sempre teve períodos de angústia em que deixava de comer, principalmente quando mudamos de ambiente, e a doença que ela tem, aparentemente, é específica dos Shar-pei. Congénita. Sem apelo nem agravo.
De momento, a Belli continua viva, mas muito, muito mal. Todos os dias de manhã vai para o hospital e fica, entre exames e alimentação intravenosa, até às 6 da tarde. Os médicos tentam ver se realmente se confirma a doença crónica (uma deficiência no sistema imunitário que não deixa hipóteses de sobrevivência) ou se é qualquer coisa que se possa curar.
Muitas vezes penso nas consequências que a nossa forma de vida pode ter para o nosso filho. Mudar de casa, país, amigos e cultura a cada 4 anos não é para toda a gente, e muitos dos que têm a mesma vida acabam com divórcios amargos, filhos adolescentes viciados em drogas, depressões, alcoolismo e sabe-se lá mais o quê.
É preciso muita resistência, física e mental para fazer isto e assusta-me pensar que o meu filho não vai crescer com "normalidade". Por outro lado, existem sérias vantagens, como as de crescer com uma mentalidade aberta, conhecimento de culturas e línguas diferentes e com uma flexibilidade e adaptabilidade mental que tanta falta fazem no mundo de hoje.
O que eu nunca pensei foi que o primeiro elo a ceder, nesta família, fosse um dos cães. Quer dizer, os animais (pensava eu) estão bem onde os donos estiverem, certo?? Errado.
A nossa Shar-pei (aqui na foto comigo grávida em França) sofreu horrores com a nossa vinda para a Ilha. Primeiro fez prova de uma agressividade desconhecida e todos os dias atacava a sua companheira de vida, a nossa Bulldog inglesa, que se transformou numa chaga ambulante de tanta dentada.
Como a cadela tinha sido esterilizada havia pouco tempo, pensámos que fosse uma reacção à perca de hormonas, muito embora o nosso veterinário nos tenha avisado que algo não estava bem dentro da cabeça do cão, pois a esterilização deveria tê-la tornado mais calma e não o contrário.
Agora há quase duas semanas que não come. Após termos tentado tudo para a fazer comer, e certos que o cão não poderia ter nada de físico porque não tinha febre, nem se queixava de dores em lado nenhum, começamos a entrar em pânico, porque ela passa os dias a um canto, sem socializar, sem brincar, só encostada a um canto a tremer, e levámos a bicha ao vet, que foi categórico: depressão filha-da-puta, com tendências suicidas. A cadela perdeu o interesse em viver e está à espera da morte
Para além de muito mimo e comidinhas especiais não há grande coisa a fazer, ela está tão magra que, caso não engorde, terá que ser internada para ser alimentada à força.
Espero que ela se safe desta. Para mim está a ser horrível ver o meu cão a morrer aos poucos de desgosto. Até para ser cão é preciso ter muita estabilidade mental...